Alessandra Moja Cunha, presa nesta segunda-feira (8/9) em uma operação da polícia na Favela do Moinho, se apresentava como líder comunitária, mas agia para cumprir as ordens e defender os interesses do irmão, Leo do Moinho, apontado com uma das lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) no centro de São Paulo.
Leo do Moinho
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Alessandra Moja, irmã de Leonardo Moja, conhecido como Leo do Moinho
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Favela do Moinho tem forte presença do PCC e moradores extorquidos ao se mudarem para casas da CDHU
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Ruas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do Moinho
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Lixo em barraco onde vivia acumulador na Favela do Moinho
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Entulhos se acumulam em pontos onde houve descaracterização de casas
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Casa vazia após antigos moradores se mudarem
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Moradores que permanecem no local dividem ruas com casas descaracterizadas. Na imagem, imóvel ainda ocupado tem santuário à frente
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PMs na Favela do Moinho
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Crianças na Favela do Moinho
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PMs usaram escudo para avançar contra protesto na linha 8-Diamante
Valentina Moreira/Metrópoles
Protesto na entrada da Favela do Moinho
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Ela é presidente de uma ONG que diz representar as famílias da Favela do Moinho. No endereço da entidade, porém, a polícia já encontrou maconha, cocaína e crack que seriam destinados ao centro da capital. Além disso, ela já foi condenada e presa por participar de um homicídio – a vítima foi morta com vários golpes de faca.
A investigação aponta que Leo do Moinho coordena um quartel-general na favela, de onde controlava o tráfico na Cracolândia e monitorava sistemas de comunicação da polícia com a ajuda de uma milícia formada por guardas civis metropolitanos (GCMs). Ele foi preso no ano passado e acumula penas de 8 anos e 7 meses por integrar o PCC e participar do tráfico de drogas na região, além de 16 anos e 9 meses por participação na morte de um usuário de drogas, que foi esfaqueado, desovado e queimado na favela.
Leo do Moinho também foi denunciado no âmbito da Operação Salut et Dignitas, deflagrada pelo Gaeco em agosto de 2024, quando estava em liberdade condicional e voltou a ser preso.
Operação Sharpe
- Lideranças da comunidade foram alvos da Operação Sharpe na manhã desta segunda-feira (8/9).
- Ação foi deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e as polícias Civil e Militar.
- Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 14 de busca e apreensão.
- A investigação aponta que Leonardo Moja, conhecido como Leo do Moinho, coordena um quartel-general na favela, de onde controlava o tráfico na Cracolândia e monitorava sistemas de comunicação da polícia com a ajuda de uma milícia formada por guardas civis metropolitanos (GCMs).
- O Gaeco afirma que as ordens de Leo do Moinho eram executadas pela irmã, Alessandra Moja, e por José Carlos da Silva, conhecido como Carlinhos, integrante do PCC nomeado por ele para assumir a liderança local do tráfico de drogas depois de sua prisão. Ambos foram presos nesta segunda-feira (8/9).
- Além de Alessandra e José Carlos, os mandados de prisão preventiva cumpridos nesta segunda estão em nome de Jorge de Santana, Claudio dos Santos Celestino, Paulo Rogério Dias, Yasmim Moja Flores, Ronaldo Batista de Almeida, Reginaldo Terto da Silva, Ademario Goes dos Santos e Leandra Maria de Lima.
Ameaças e cobranças
Reportagem do Metrópoles mostrou que moradores da Favela do Moinho relataram cobranças de até R$ 100 mil de proprietários de dezenas de casas na região caso aceitassem se mudar para apartamentos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU).
Os moradores estariam sendo coagidos a pagar uma “multa” ou vender, após alguns anos, seus apartamentos, e dividir o valor com os criminosos. Entre os donos dos imóveis, está Leo do Moinho.
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O caso virou inquérito na Polícia Civil e também chegou ao conhecimento do Grupo de Combate ao Crime Organizado do MPSP, que já ofereceu seis denúncias por tráfico e organização criminosa contra líderes e outros integrantes do PCC na Favela do Moinho.
Disputa política
O governo federal anunciou, em maio, o financiamento conjunto com o governo do Estado de São Paulo, um programa de moradias gratuitas para moradores da Favela do Moinho.
O acordo entre as duas gestões prevê a destinação de R$ 250 mil por família em subsídio. O montante virá do governo federal para a compra das casas. Ao todo, serão investidos R$ 220 milhões: R$ 160 milhões por parte do governo federal e R$ 60 milhões pelo estado.
Mesmo com a parceria para transferir as famílias à habitação social, os governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) têm travado uma disputa política em torno da questão da favela.
Dividiu palco com Lula
Alessandra Moja dividiu palco com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Em 26 de julho, Lula e seus ministros estiveram na comunidade para anunciar o lançamento de um pr0grama habitacional em parceria com o governo de São Paulo, com o objetivo de realocar os habitantes do bairro. Na ocasião, Alessandra e Yasmin Moja, representando a associação de moradores, foram convidadas a subir no palanque e cumprimentaram Lula.
“Esse dia vai ser histórico para a comunidade do Moinho, que em vez de a gente tomar tapa, bomba, tiro, a gente está recebendo o presidente da República na nossa casa”, afirma Flávia Silva, representando a Favela do Moinho, enquanto segura na mão de Lula.
“Eu sou eternamente grata à nossa equipe, Yasmin, Alessandra, Janine. Somos quatro mulheres de orgulho para o Moinho, porque nós lutamos até o fim, não abandonamos vocês. E, se possível, se o presidente Lula autorizar, a Yasmin, a Alessandra e a Je vem aqui para a gente apresentar rapidinho”, acrescenta Flávia, enquanto o presidente estende o braço na direção das mulheres.
Enquanto a plateia gritava “mulheres unidas jamais serão vencidas”, Lula cumprimentou Alessandra e Yasmin.
Assista:
Em seu pronunciamento, Lula comemorou o anúncio do programa habitacional e criticou a associação dos movimentos sociais ligados à Favela do Moinho ao crime organizado.
“A gente resolveu fazer reparação e Justiça com vocês. O que mais me incomodou foi quando a ministra Miriam Belchior junto com a Ester me procuraram para dizer que tinha matéria nos jornais de São Paulo dizendo que o governo federal estava protegendo gente do crime organizado. Porque, na cabeça de muita gente da elite brasileira, pobre e gente que mora em favela é sempre considerado bandido”, disse o presidente.
O programa habitacional anunciado pelo governo federal oferece às famílias um crédito de R$ 250 mil para a compra de novas casas, por meio do Minha Casa, Minha Vida e do Casa Paulista, do governo estadual. A expectativa é que 900 famílias sejam beneficiadas.
Aparelhamento
De acordo com as investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o PCC teria aparelhado os movimentos sociais ligados à Favela do Moinho, entre eles a Associação de Moradores, com o objetivo de proteger o local contra a atuação dos órgãos de segurança pública.
Além do tráfico de drogas, segundo os promotores, Alessandra Moja estaria envolvida em extorsões a habitantes da comunidade que firmaram acordo com o poder público para se mudar da região.
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Com o esvaziamento do Moinho e a desapropriação dos imóveis, o PCC teria perdido uma de suas fontes de renda: a cobrança de aluguéis dos moradores da comunidade. Com isso, conforme revelado pelo Metrópoles, a facção teria passado a cobrar multas das pessoas que decidiam se mudar.
“Foi identificada a existência de grupo criminoso organizado que cobra propina das famílias beneficiadas pelo acordo com a CDHU, somente autorizando o cadastro e a assinatura mediante o pagamento de valores à família Moja”, dizem promotores. O dinheiro da cobrança de propinas e do tráfico de drogas, segundo o MPSP, seria lavado por meio de empresas de sucata.
“Tanto os valores arrecadados neste contexto como os recursos derivados das demais atividades ilegais controladas por ‘Léo do Moinho’ são arrecadados por Alessandra com o intuito de branqueamento para Roberto Gonçalves da Cruz e para as empresas Comércio Aparas Papel Liberdade LTDA e Geral Sucatas EIRELI, investigadas no âmbito da Operação ‘Salus et Dignitas’”, diz a representação.
“Eu vou te achar”
O Metrópoles identificou pelo menos quatro famílias vítimas das extorsões e ameaças. Quem concordou em conversar com a reportagem pediu para não ser identificado pelo medo de represálias. Alguns apenas confirmaram que estão sendo perseguidos, sem entrar em detalhes. “Já saí de lá e não quero problemas para mim. São muitas famílias, gente com medo de falar”, diz um ex-morador que confirmou ter sido coagido.
A reportagem também obteve acesso ao relato de uma ex-moradora do Moinho que chegou à Polícia Civil de São Paulo. Ela diz estar sendo perseguida pelos responsáveis pela cobrança de aluguéis.
“A gente está sendo ameaçado: ‘Eu vou atrás de você e vou te achar’. Isso não é só comigo, é com várias pessoas. Como a gente vai sair para moradia, estão pedindo para a gente dar uma quantidade de dinheiro, R$ 100 mil, R$ 70 mil. Muitas mães estão com medo. É a situação de não dormir à noite”, diz uma moradora.
O caso virou inquérito na Polícia Civil e também chegou ao conhecimento do Grupo de Combate ao Crime Organizado do MPSP, que já ofereceu seis denúncias por tráfico e organização criminosa contra líderes e outros integrantes do PCC na Favela do Moinho.
Debandada na calada da noite
O Metrópoles apurou com fontes na Favela do Moinho que emissários dos traficantes têm tirado fotos de cada casa que tem sido descaracterizada para a mudança do inquilino a um apartamento da CDHU.
Em meio ao clima de medo do monitoramento, moradores têm inclusive recusado auxílio gratuito do governo para fazer suas mudanças de móveis para as habitações sociais e custeado o transporte com recursos próprios. Há quem tenha deixado suas casas do dia para a noite.