A seca histórica que atinge o Acre tem provocado cenas incomuns no município de Jordão, onde o rio que corta a cidade chegou a ficar com menos de 75 centímetros de profundidade. Em um trecho, um menino conseguiu atravessar o rio caminhando, enquanto barcos permanecem encalhados ao longo do leito, dificultando a navegação.
A situação preocupa moradores e freteiros que dependem do transporte fluvial para levar mantimentos às comunidades mais isoladas. Segundo Jonas, um transportador da região, a baixa profundidade dificulta o escoamento das cargas:
“Para chegar até aqui, gastamos 12 dias em barco pequeno. Estou chegando com quase 400 kg de carga, arrastando no barco pequeno. Temos que dividir as cargas em três barcos para dar conta. A previsão ainda é de mais verão, e se não chover, a tendência é piorar ainda mais.”
Além da dificuldade de transporte, a seca expõe outros problemas, como peixes mortos e acúmulo de lixo no leito do rio. Nas comunidades rurais, moradores relatam que nascentes já secaram, afetando tanto o consumo humano quanto a produção agrícola.
A crise hídrica também gera escassez de produtos em cidades abastecidas apenas por via fluvial, como Porto Walter e Cruzeiro do Sul. O governo federal reconheceu a situação de emergência no Acre, permitindo que os municípios solicitem recursos para ações da Defesa Civil.
A seca, considerada uma das mais severas dos últimos anos, é marcada por temperaturas altas, baixa umidade e chuvas muito abaixo da média. Em julho, por exemplo, Rio Branco registrou apenas 8 milímetros de chuva, e o Rio Acre segue abaixo dos 2 metros devido à ausência de precipitações significativas há mais de 100 dias.
O governo do estado e a prefeitura de Rio Branco decretaram situação de emergência em 6 de agosto, válida por 180 dias. Em 18 de agosto, o governo federal publicou decreto reconhecendo a situação crítica em 21 municípios do Acre, incluindo Jordão. O Ministério da Integração e a Agência Nacional de Águas (ANA) também classificaram como crítica a escassez hídrica nos rios Juruá, Purus, Iaco e Acre, medida válida até 31 de outubro.