Os roubos de celular transformaram a rotina de moradores, comerciantes e quem mais passa pela Rua Conselheiro Brotero, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Entre janeiro e julho, foram 77 assaltos dessa natureza, quase o triplo do que foi registrado em igual período do ano passado (27), de acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
A reportagem conversou na última semana com ao menos 10 moradores e comerciantes que relataram o terror que têm vivido neste ano, com assaltos frequentes e até ameaças por parte dos ladrões. Eles preferiram não se identificar, por medo de sofrer represálias em meio ao terror no local.
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A Conselheiro Brotero é uma rua que tem início nas proximidades dos trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na Barra Funda, e segue até Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. O trecho com maior incidência de roubos de celular tem cerca de 200 metros, entre a Rua Brigadeiro Galvão e o Elevado Presidente João Goulart, portanto na parte que fica abaixo do Minhocão.
Paredão e entulho
No trecho entre os números 422 e 600, foram 46 dos 77 casos (60%) registrados em boletim de ocorrência pela polícia. No mesmo trajeto, em igual período do ano passado, foram 9 casos. Parte dessa área conta com um longo paredão de um grupo educacional, com uma calçada que serve também como ponto de descarte irregular de entulho.
Uma comerciante da Conselheiro Brotero afirmou que chegou a ser ameaçada por uma garota, que aparentava ter aproximadamente 12 anos. Segundo ela, a adolescente não queria que a mulher avisasse os pedestres sobre os riscos de ser assaltado na rua.
Também há relatos de comerciantes de chegaram a socorrer vítimas em potencial, que entraram correndo em seus estabelecimentos para evitar os assaltos.
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Segundo as pessoas que vivem no local, assaltantes atacam de todas as maneiras. Seja em bicicletas, motos ou mesmo a pé. A maior parte dos moradores e comerciantes também cita a mudança no perfil de pessoas que vivem em uma ocupação, na mesma rua, como um dos motivos para o aumento dos roubos.
A Conselheiro Brotero é cercada por bares. Nos últimos anos, a região se tornou um relevante ponto de vida noturna. Segundo os dados oficiais, a maior parte dos roubos de celular (72%) aconteceu aos sábados e domingos. Também chama a atenção o fato de que os assaltantes agem, principalmente, das 19h às 3h.
Funcionários de um bar localizado na própria rua afirmaram que alertam os clientes, principalmente aqueles que ficam na calçada com o celular nas mãos, sobre a presença de jovens integrantes das chamadas “gangues da bicicleta”.
Crescimento não é isolado
A Conselheiro Brotero não é a única na área da 1ª Delegacia Seccional, responsável pelo centro, com aumento número de roubos de celular.
A base de dados usada pelo Metrópoles é disponibilizada pela própria SSP, que recomenda como método a exclusão de boletins de ocorrência registrados em duplicidade (extraindo aqueles que têm nome de delegacia, ano e número de BO idênticos).
Os números mostram que outras vias nas bordas da região central também registraram crescimento nesse tipo de crime, em comparação com igual período do ano passado.
Vias como Celso Garcia, Glicério, Presidente Castelo Branco (via local da Marginal Tietê), Alcântara Machado, Pedro Vicente e da Mooca estão entre aquelas com mais de 50% de aumento no número de roubos de celular na área da 1ª Seccional.
O que diz a SSP
A SSP diz que não recomenda comparações entre ruas ou regiões, “uma vez que cada localidade possui características geográficas, demográficas e sazonais específicas, que influenciam diretamente os indicadores criminais”, diz.
Segundo a secretaria, fatores como volume populacional flutuante, presença de pólos comerciais, equipamentos públicos e áreas de grande circulação impactam de forma distinta a dinâmica criminal de cada região.
A SSP diz que realiza monitoramento constante dos indicadores de roubo e furto de celulares, com o objetivo de elaborar estratégias de enfrentamento nas áreas de maior incidência.
“Como resultado desse trabalho, entre janeiro e julho de 2025, os crimes de roubo e furto de celular apresentaram uma redução de 5% no Estado. Na capital, os roubos caíram 14% no mesmo período e mais de 40 mil celulares foram recuperados”, diz, em nota.
Entre as ações em andamento está o programa SP Mobile, que, segundo a secretaria, cruza dados de boletins de ocorrência com informações das operadoras.
“Em apenas três meses, mais de 3,5 mil celulares foram recuperados e cerca de 2 mil já foram devolvidos às vítimas. Além disso, mais de 1,5 mil notificações foram emitidas a pessoas que reativaram aparelhos com restrição criminal, intimando os possuidores a apresentá-los à Polícia Civil. O objetivo é ampliar a recuperação de celulares, inibir a receptação e fortalecer a responsabilização de quem mantém aparelhos de origem ilícita”, afirma.
A SSP também diz que há parceria da Polícia Militar (PM) com o Google, que permite que os policiais, durante o atendimento de ocorrências, auxiliem as vítimas no bloqueio remoto do aparelho, na identificação de sua localização em tempo real ou até na exclusão total dos dados. “Somente nos últimos 30 dias, o sistema foi acionado 6.185 vezes, contribuindo para enfraquecer o comércio ilegal e desarticular quadrilhas especializadas nesse tipo de crime”, diz.