O estado de São Paulo tem o menor percentual de salas de aula climatizadas do país. Isso significa que apenas 13,7% das 345.202 salas de escolas públicas e privadas são equipadas com ar-condicionado, climatizador ou aquecedor.
Os paulistas possuem ainda o segundo menor percentual (12,4%) quando considerados apenas os dados de escolas públicas — municipais, estaduais e federais –, perdendo para Minas Gerais, que tem 11,7%.
Os dados são alguns dos destaques da 12ª edição do Anuário Brasileiro da Educação Básica, divulgado nesta quinta-feira (25/9). O levantamento é produzido pelo Instituto Todos Pela Educação, a Fundação Santillana e a Editora Moderna, e apresenta um panorama da educação no país, com informações sobre as redes pública e privada de ensino.
Alunos observam professora em escola municipal
Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Sala de aula de escola municipal
Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Alunos usam computador em escola estadual de São Paulo
Jessica Bernardo/Metrópoles
Alunos praticam esportes em quadra de escola municipal de São Paulo
Crédito: Yasmim Pereira/ SME
Estudantes da rede estadual de São Paulo
Jessica Bernardo/Metrópoles
O Anuário deste ano mostra que no extremo oposto de São Paulo está o estado de Rondônia, que lidera o ranking de escolas climatizadas, com 91,8% das salas de colégios públicos e privados equipadas para enfrentar dias de temperaturas extremas.
Em todo o Brasil, apenas 42,1% das salas de aula contam com alguma tecnologia de climatização. O índice cai para 38,7% quando consideradas apenas as escolas públicas.
Os números chamam atenção em meio ao aumento das temperaturas no mundo: o ano de 2024 foi considerado o mais quente já registrado segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Em São Paulo, no início deste ano, o Centro Paula Souza (CPS), autarquia responsável pela administração das escolas e faculdades técnicas estaduais, chegou a autorizar Etecs e Fatecs a terem aulas remotas por causa da falta de estrutura das unidades para lidar com uma onda de calor que atingiu o estado naquele período.
Em várias escolas, professores e estudantes relatam que os ventiladores não são suficientes em dias mais quentes. “As janelas são inadequadas e lá vira uma estufa no verão”, contou uma professora da Etec Guaracy ao Metrópoles.
Gerente de políticas educacionais do Todos Pela Educação, Manoela Miranda diz que avançar na climatização das escolas é um passo importante para melhorar a qualidade do ensino no país.
“É muito importante olhar para esse dado, especialmente em anos mais recentes, devido ao impacto das tragédias e efeitos bem acentuados das mudanças climáticas. Existem alguns estudos no mundo e no Brasil mostrando a relação de altas temperaturas e dessas mudanças climáticas na aprendizagem dos estudantes”, afirma a especialista.
Paulistanos enfrentam semana de calor extremo; na foto, termômetro marca 34 graus na Avenida Paulista
William Cardoso/Metrópoles
Pedestre se protege do sol com jornal em trecho da Avenida Paulista, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
Homem corre em ciclovia da Avenida Paulista em setembro de 2023
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Idoso se protege do sol com jornal em trecho da Avenida Paulista
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Homem caminha sob sol com paletó na mão em trecho da Avenida Paulista; SP vive onda de calor
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Mulher caminha de chapéu sob sol em trecho da Avenida Paulista
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Mulheres caminham sob sol em trecho da Avenida Paulista; SP vive onda de calor atípico
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Paulistanos tomam sorvete na Avenida Paulista em dia de forte calor
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Homem-placa de estacionamento se protege do sol na Avenida Paulista com guarda-sol
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Saiba até quando calor deve durar na cidade de São Paulo
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Paulistanos enfrentam semana de calor extremo
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Para Manoela, uma das hipóteses que podem ajudar a entender os baixos índices de climatização das escolas de São Paulo é a característica climática do estado em comparação com outros, que já enfrentam temperaturas mais altas há mais tempo.
Como mostrou o Metrópoles, a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo deu início a um plano de climatização das escolas estaduais com o objetivo de instalar ar-condicionado em 60% das unidades da rede até 2027. Até agora, o projeto alcançou mais de mil unidades.
Em nota, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz tem atuado para melhorar a situação diante dos desafios climáticos.
“O número de escolas climatizadas atualmente é 114 vezes maior na comparação com o total de escolas com climatização no início da gestão. O programa, que segue em execução, prioriza as unidades localizadas em regiões com maior incidência de altas temperaturas”, afirma, por meio da Secretaria da Educação.
Além dos números sobre climatização, a 12ª edição do Anuário também reuniu informações sobre outros temas de infraestrutura. Na maior parte deles, o estado de São Paulo teve desempenho melhor que a média do país.
A infraestrutura da educação em SP, segundo o Anuário
- Menos da metade das escolas públicas e privadas de São Paulo têm laboratórios de ciência para alunos do ensino médio. No país, o percentual de escolas equipadas sobe para 51,4%.
- Quando o assunto são os laboratórios de informática para o ensino médio, os colégios paulistas são mais preparados que a média do país: 72,5% contam com a infraestrutura, contra 69,1% no Brasil – considerando a rede pública e privada.
- A diferença nos laboratórios de informática é maior quando comparados os dados específicos de escolas públicas: 80,2% das unidades públicas paulistas têm laboratórios de informática para o ensino médio, enquanto no país o número fica em 73%.
- O estado também apresentou indicadores melhores que a média do país em tópicos como o percentual de escolas com banheiros, coleta de lixo, esgoto canalizado, acesso à água potável, cozinha, quadras de esporte e bibliotecas/salas de leitura, tanto para alunos do fundamental quanto para ensino médio, nas unidades públicas.
Aprendizagem
Já nos dados sobre qualidade do ensino, o Anuário mostra que o percentual de estudantes do ensino médio com aprendizado adequado em matemática está pior nas escolas públicas de São Paulo do que há 10 anos.
Em 2013, o percentual de alunos que saíram com aprendizagem adequada em matemática foi de 7,2%. Em 2023, o número caiu para 4,9%, abaixo, inclusive, da média nacional de 5,2%.
Em língua portuguesa, houve melhora no indicador. O percentual de 30,6% dos alunos do ensino médio com aprendizagem adequada na disciplina em 2013 subiu para 37,1% em 2023. O dado também é relativo aos estudantes de escolas públicas e está acima da média do país, de 32,4%.
Manoela diz que os resultados mostram que São Paulo, assim como o país, foi fortemente impactado pela pandemia e afirma que é preciso investir agora para melhorar a qualidade de ensino no Brasil.
“[O cenário] exige ações de recomposição de aprendizagem, de formação de professores e uma atenção, inclusive, para esses alunos que estão com bastante defasagem”, comenta a especialista.
Questionado, o governo estadual, que é responsável pela ampla maioria das escolas públicas com ensino médio em São Paulo, afirma, em nota, que implementou ações como a ampliação da carga horária de matemática em 60%, a distribuição de materiais pedagógicos específicos e a criação de um programa que oferece bolsas para alunos atuarem como monitores e ajudarem colegas com dificuldades em matemática e língua portuguesa.
“Essas iniciativas refletem o compromisso do governo de São Paulo com a melhoria das condições de ensino e da aprendizagem, com foco em resultados sustentáveis e de impacto real na vida dos estudantes da rede estadual”, reforça.