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Sem essa de bolsonaristas radicais e bolsonaristas não radicais

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Sem essa de bolsonaristas radicais e bolsonaristas não radicais

“Compreende-se”, diz hoje a Folha de S. Paulo, que “Tarcísio tenha de se aproximar dos Bolsonaro a fim de obter a benção para sua candidatura ao Planalto. Daí a replicar as condutas que impuseram uma quadra de tensões institucionais ao país vai uma distância que não deveria ser percorrida por políticos responsáveis”.

Por que “compreende-se”? Por que sem a benção dos Bolsonaro, Tarcísio não tem votos para se eleger? Por que Tarcísio, ex-capitão do Exército, põe a lealdade a Bolsonaro acima de tudo e a impunidade dos seus antigos companheiros de farda acima de todos? Por que a imagem de político responsável de Tarcísio está indo pelo ralo?

Compreendo a decepção dos que acreditaram na versão light de um candidato da direita para derrotar no próximo ano um Lula a ser taxado pela propaganda e a mídia de político radical. Sinceramente, compreendo o desespero. Mas, até lá, haverá bastante tempo para Tarcísio voltar a vestir a máscara de bom moço jogada fora.

Essa história de bolsonarismo radical e bolsonarismo moderado é um truque para enganar os eleitores do centro, uma massa estimada em 30% do total dos eleitores, podendo chegar a mais. Truque gasto devido ao uso constante. À época da ditadura militar de 64, falou-se da existência de generais moderados e generais radicais.

Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro presidente do ciclo dos generais, era apontado como moderado e assim parecia se comportar. Assumiu o cargo diante do Congresso prometendo devolvê-lo aos civis dali a dois anos depois de salvar o país do comunismo. Ele prorrogou o próprio mandato.

Sucedeu-o o general Arthur da Costa e Silva que fez jus à fama de ignorante e cedeu às pressões da linha dura ao promulgar o Ato Institucional nº5, o mais infame de todos. Costa e Silva, um adepto de palavras cruzadas, morreu sem completar o mandato. Foi sucedido pelo general Emílio Garrastazu Médici. Só o nome já impunha respeito e medo.

Bons tempos o de Médici para os apoiadores da ditadura. Foi o mais popular dos presidentes militares com seu radinho de pilha. O crescimento médio anual do PIB brasileiro sob a batuta de Médici foi de aproximadamente 11,3% a 11,9%, um período conhecido como “Milagre Econômico”. O Brasil sagrou-se tri-campeão mundial de futebol. Ninguém segurava o país.

Médici era um radical se comparado com Castelo Branco, o de pescoço curto, e mesmo com Costa e Silva que amava elogios e detestava críticas. Se comparados com Médici, os presidentes seguintes, Ernesto Geisel e João de Oliveira Figueiredo, foram apontados como moderados e comprometidos com a abertura política para arejar um regime fechado.

Mas todos, todos eles, como presidentes ou em outros postos, serviram à ditadura mais longa da história do Brasil. Sob o tacão deles, e com seu conhecimento, a ditadura torturou, matou, desapareceu com corpos, prendeu, censurou a imprensa e as artes em geral. Sem essa, portanto, de moderados e radicais se todos se prestaram ao mesmo propósito.

Bolsonarista de carteirinha, como ele mesmo faz questão de alardear, terrivelmente leal a quem o fez governador de São Paulo, será difícil para Tarcísio convencer os eleitores nem Bolsonaro, nem Lula de que deve merecer sua confiança como uma espécie de político da terceira via.  Infelizmente, a terceira via acabou há muito tempo no Brasil.

 

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