Alguma vez já te aconteceu de acariciar um outro animal de estimação que não o seu cachorro e ele reagiu mal? Seja com rosnados, seja com atitudes evitativas, os cães podem parecer estar expressando incômodo quando os tutores dão mais atenção a outros seres que não eles, deixando nos humanos a dúvida: os pets podem sentir ciúmes? A resposta é mais complexa do que parece.
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O conceito de ciúmes está atrelado à preservação e ao cuidado das relações sociais, um tipo de protecionismo também encontrado nos animais de estimação. É o que explica a veterinária Kássia Vieira. Segundo a especialista, pesquisas comportamentais apontam que os cães tem reações cerebrais similares a dos humanos quando confrontados com situações em que o tutor o ignora para dar atenção a outro cachorro – ou crianças.
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A especialista relata que já foram publicadas pesquisas com exames de laboratório para verificar áreas do cérebro ativadas quando o animal vive a experiência de ser preterido. “Nelas, verificou-se que há determinadas áreas do cérebro que ‘acendem’ quando o animal vê o dono alimentar um outro bichinho”, detalha a especialista.
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Ou seja: o ciúmes não é uma emoção exclusiva dos seres humanos. Vieira explica que as demais espécies podem exibir esse comportamento, especialmente por que a função dessa emoção é proteger uma relação social de um intruso, que poderia atrapalhá-la. Em termos evolutivos, o ciúmes foi evoluindo ao longo do tempo, cumprindo o seu papel de “preservar” relações afetivas benéficas.
Em convívio com os seres humanos, os cães foram evoluindo. Os milhares de anos de convívio moldaram muitas das respostas emocionais caninas, de tal modo que os cães adquiraram certa complexidade cognitiva. “Muitas questões comportamentais dos cães evoluíram de acordo com a nossa espécie”, adiciona Vieira.
Entre os sinais de ciúmes dos cães estão os rosnados e latidos. O pet ainda pode tentar separar o dono daquele outro animal que ele considere intruso, se colocando entre eles. Apesar do ciúmes ser considerado uma emoção “problemática”, não é motivo de preocupação para os tutores. Como a emoção faz parte de um comportamento de defesa e conexão social, é natural que os pets precisem aprender a socializar com outros e aceitar a “partilha” dos tutores.
O ideal, de acordo com Vieira, é que o dono não estimule excessivamente esse tipo de comportamento, porque ele gera estresse, mas evitar também não é o caminho – uma vez que lidar com essas emoções faz parte dos aprendizados sociais do pet.
Como lidar com o ciúmes canino, caso ele passe dos limites?
Permitir que o cão lide com essa emoção é a maneira mais adequada de fazer o sentimento “passar”. A veterinária descreve que os animais que têm contato com essa situação várias vezes, em um processo de dessensibilização, respondem melhor a ele com o passar do tempo. Ou seja, o ideal é que o animal seja exposto àquela situação, mas claro, de forma controlada.
“Se ele tem muito ciúme da pessoa, do seu tutor ou da sua tutora com um bebê, é preciso que ele veja várias vezes essa interação enquanto, por exemplo, recebe um petisco ou um carinho”, exemplifica a professora da Universidade Católica de Brasília (UCB).
Recompensar o pet por se comportar bem diante do “desafio” de ver seu tutor com um outro ser é uma via funcional, e auxiliará no processo de dessensibilização, assim como procurar um adestramento, em casos mais graves.