O comerciante Roberto Medeiros Mendes, de 46 anos, conhecido como Beto Mendes, foi encontrado morto neste domingo (28/9), em São Bento do Sapucaí, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Mendes foi vereador do município de cerca de 11 mil habitantes até o ano passado, quando tentou se reeleger, mas teve a candidatura indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Ele também teve pedidos de cassação de um casal o acusando de assédio que foram arquivados.
Na manhã deste domingo, um funcionário chegou para trabalhar no açougue “Casa de Carne Central” e encontrou o corpo de Beto, que era dono do estabelecimento. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Taubaté para apurar as causas da morte. A Polícia Civil também investiga o caso.
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Esse não é o primeiro caso de polícia envolvendo Beto Mendes. Ele também é investigado por uma briga de bar. O episódio ocorreu em setembro do ano passado, enquanto Mendes estava em campanha para reeleição. O outro homem envolvido na confusão diz que foi golpeado com uma faca por Mendes em um bar. E gravou um vídeo mostrando os ferimentos e dizendo que iria “acabar com a campanha” de Beto. O então vereador disse que agiu por legítima defesa (veja o vídeo abaixo).
Beto Mendes era filiado ao PSDB e era filho do ex-prefeito do município Ildefonso Mendes (PSDB), que chefiou a administração municipal entre 2009 e 2016.
Pedidos de cassação
Duas denúncias protocoladas na Câmara Municipal pediam a cassação do mandato de Beto Mendes. A primeira é de abril de 2024, antes da briga no bar, foi assinada pelo mesmo homem que diz ter sido esfaqueado pelo ex-vereador. O parecer jurídico do Legislativo municipal diz que um dos fatos denunciados foi um suposto assédio contra a companheira do denunciante.
“São citadas condutas privadas do vereador que considera inapropriadas. Além disso, relata uma situação pessoal em que descobriu que o vereador estava assediando sua então companheira, levando a desgastes pessoais e humilhação pública”, diz o parecer assinado pelo Procurador Legislativo Willian Francisco Teixeira. Segundo o documento, não cabe à Procuradoria analisar o mérito do caso, a avaliação “recai exclusivamente sobre os vereadores”. A denúncia foi arquivada.
Cerca de um mês depois, foi a vez da mulher do casal pedir a cassação de Beto Mendes. Ela disse que “o vereador praticou uma conduta imprópria com a denunciante, e após a descoberta pelo seu companheiro, o parlamentar passou a proferir ameaças contra a família da denunciante. Por esse motivo, alega que houve a violação do decoro parlamentar e requereu a cassação do mandato”.
A nova denúncia também foi arquivada. O relatório do vereador Antônio Cláudio Domingues (PSD), o Timbé, hoje suplente da Câmara de São Bento do Sapucaí, pediu o arquivamento da denúncia e teve cinco votos favoráveis e três contrários. O documento alegou que a conduta se referia à vida privada do ex-parlamentar e os fatos deveriam ser investigadas pela polícia.
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“A denúncia refere a suposta conduta privada do vereador, que, na minha visão, não tem nenhuma relação ou reflexo com a vereança, bem como as supostas práticas de vandalismo e ameaças devem ser averiguadas pela autoridade policial competente, inclusive, ambas as partes apresentam cópias de boletins de ocorrências nesse sentido”, diz o relatório aprovado.
Candidatura indeferida
Beto Mendes tentou, mas não se reelegeu como vereador do município. Ele e todos os candidatos da federação PSDB-Cidadania tiveram as candidaturas indeferidas pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
A federação teve o Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP).O TRE-SP disse que apenas uma candidatura do Cidadania foi apresentada (e nove do PSDB), o que contraria a legislação, que dispõe o mínimo de 30% dos candidatos de uma das siglas da federação.
Como a única candidata do Cidadania era uma mulher, a federação também não atingiu a quota de gênero, que estabelece o mínimo de 30% das candidaturas femininas. Beto Mendes era o presidente da federação no município.
Disputa política
Além de ser alvo de pedidos de cassação, Beto Mendes também entrou com uma denúncia na Câmara Municipal contra a ex-prefeita Ana Catarina Martins Bonassi (PP). Ele pediu a cassação de Ana Catarina, em março do ano passado.
Segundo a denúncia, a ex-prefeita não recebeu os valores da empresa que ganhou o edital para exploração comercial dos camarotes da festa Expo Gaben 2023 no prazo correto. O pedido de cassação contra a ex-prefeita foi derrubado em plenário, em junho de 2024.
Atualmente, o prefeito de São Bento do Sapucaí é Gilberto Donizeti de Souza (MDB), o Gil Advogado. A conta aberta para a campanha do prefeito é responsável pela doação de 18% da verba da campanha de Beto Mendes.