Ao menos 61 clientes de um spa localizado no Jardim Paulista, um bairro nobre da zona oeste de São Paulo, foram lesados após terem pago antecipadamente por pacotes de procedimentos que não foram realizados já que a clínica de estética, da noite para o dia, fechou suas portas.
Uma das pessoas prejudicadas é a publicitária Paula Granette, que criou um grupo no WhatsApp com as vítimas do golpe, ao qual o Metrópoles teve acesso.
As clientes começaram a perceber uma movimentação incomum por parte do spa em maio deste ano, com campanhas insistentes de novos pacotes e uma mudança no modelo de pagamento das mensalidades.
No dia 15 de junho, a clínica emitiu um comunicado anunciando o fechamento temporário do estabelecimento para obras, que durariam uma semana. No mês seguinte, o spa ainda não havia retomado as atividades, mas continuava vendendo pacotes e promoções. Em julho, as clientes começaram a registrar queixas no portal Reclame Aqui.
Relatos de clientes lesadas
O grupo que reúne vítimas foi criado no início de agosto. Com a troca de mensagens, as clientes descobriram que uma delas recebeu uma notificação judicial a intimando sobre comentários prejudiciais à marca. Outra diz ter sido ameaçada via WhatsApp. Também no grupo, elas descobriram que o imóvel onde funcionava a clínica havia sido esvaziado às pressas e começaram a aparecer denúncias de ex-funcionárias, que não haviam recebido salário.
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A clínica continuou ofertando planos nas redes sociais da marca, mesmo após o registro de boletins de ocorrência de clientes lesadas.
O aviso sobre o encerramento das atividades do Spa Club veio por meio de mensagem no WhatsApp no dia 25 de agosto. As clientes chegaram a questionar sobre a devolução dos valores, mas não obtiveram resposta.
“Devia ser golpe desde o começo, mas a gente foi angariando provas e, se não tivesse o grupo, a gente não saberia disso porque cada uma sabia de uma parte porque elas contaram essa história da obra pra muita gente e elas não admitiam que estavam fechando por conta disso. Só foram admitir duas semanas depois que fecharam”, avaliou Paula Granette, que perdeu R$ 5.300.
Outra cliente, Janaina Mendonça, revelou à reportagem que, em dezembro de 2024, renovou um pacote que venceria em março de 2025, antecipando o pagamento e prorrogando o tratamento até abril de 2026. Mesmo com o spa fechado desde julho deste ano, as parcelas caem todo mês na conta dela.
Uma terceira cliente prejudicada, que preferiu não se identificar, perdeu R$200 mil reais por causa do fechamento do spa. Após ver a clínica sendo divulgada por influenciadoras famosas, ela acreditou ser um local de confiança e investiu na abertura de uma franquia em sua cidade. Ela negociou 10 parcelas de R$ 20 mil para abrir a unidade e disse que não teve nenhum suporte para começar o negócio.
“O dia que foi crucial para mim foi quando eu perguntei como era o planejamento das marcações dos horários das clientes, como funcionava essa parte operacional e ouvi a seguinte resposta: ‘não se preocupe, isso [o spa] é igual academia, as pessoas pagam para não ir’. Nesse exato momento, tive a certeza de que eram pessoas de caráter questionável e decidi rescindir a parceria. Não é da minha índole enganar ninguém”, contou.
Com prejuízo de R$ 4.600, outra cliente que também preferiu ficar no anonimato contou que, ao decidir não renovar um plano de tratamento, foi convencida pela dona da clínica a pagar um novo pacote de 13 meses, com três meses de bônus, mas com pagamento adiantado. A primeira sessão foi realizada no final de abril e a clínica fechou no começo de julho.
Procurada pelo Metrópoles, a clínica de estética argumentou que “enfrentou dificuldades financeiras significativas que levaram ao fechamento repentino” e lamentou o impacto negativo que isso tenha causado aos clientes, funcionários e fornecedores.
A Secretaria da Segurança Pública informou que, até o momento, sete boletins de ocorrência foram registrados contra o estabelecimento.
O que diz o spa
O Spa Club, que funcionava na Rua Pamplona, nos Jardins, estava aberto desde 2014. Algumas das clientes prejudicadas eram frequentadoras da clínica há cerca de cinco anos.
Segundo a empresa, durante os nove anos de funcionamento, mais de 350 mil atendimentos foram realizados, em mais de 10 mil clientes, com “compromisso, ética e qualidade”.
Ainda de acordo com a nota enviada ao Metrópoles, a clínica de estética começou a passar dificuldade com a chegada da pandemia e o cancelamentos de planos. “Quando os cancelamentos se intensificaram e passou a existir a necessidade de devolução de valores, a operação tornou-se insustentável”, disse o texto.
A dona do spa alega que não tem conhecimento sobre qualquer investigação em curso sobre as denúncias e garante que “jamais houve qualquer prática ilegal na atuação da clínica”. Além disso, ela disse que pretende adotar as medidas legais contra eventuais tentativas de calúnia ou difamação.