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    Zapad: como movimentos militares da Rússia ampliam tensão na Europa

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    O exercício militar Zapad 2025, encerrado nesta semana após mobilizar cerca de 100 mil combatentes e incluir armamentos nucleares táticos, reacendeu temores de que Moscou repita o roteiro de 2022, quando manobras semelhantes antecederam a invasão em larga escala da Ucrânia.

    Zapad 2025

    • O Zapad 2025 foi um exercício militar conjunto entre Rússia e Belarus, e contou com cerca de 100 mil militares de ambos os lados.
    • Além disso, foram empregados aeronaves, embarcações e tanques de guerra durante a atividade. O treinamento ainda contou com atividades relacionadas ao uso de armas nucleares.
    • O exercício militar aconteceu em meio a acusações de países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra a Rússia. Nas últimas semanas, Polônia, Romênia e Estônia, três países que compõem a aliança militar, relataram invasões em seus espaços aéreos por aeronaves russas.

    Com caças e drones russos violando o espaço aéreo polonês e a Ucrânia sob ataques contínuos, a Europa vive dias de crescente tensão. Nesse cenário, os exercícios militares de Moscou soam como um aceno ao Ocidente — e, quando a Rússia treina, o mundo observa com apreensão.

    Segundo o Kremlin, os exercícios reúnem cerca de 100 mil militares, 10 mil sistemas de armamentos, 333 aeronaves e 240 embarcações. Em Belarus, país aliado que atua como satélite militar da Rússia, tanques, sistemas de mísseis e artilharia pesada foram posicionados em áreas estratégicas.

    O destaque deste ano é a inclusão do míssil hipersônico Oreshnik e a simulação de uso de armas nucleares táticas — que, embora tenham potência reduzida em relação às estratégicas, carregam forte simbolismo e elevam a tensão no Leste Europeu.

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    Sinais para o Ocidente

    Moscou insiste que o objetivo é apenas reforçar a prontidão defensiva do chamado Estado da União (Rússia e Belarus). O Kremlin afirma que os cenários simulados incluem repelir ataques externos, retomar territórios perdidos e proteger fronteiras. Porém, analistas lembram que a retórica é idêntica à de 2021.

    O governo da Polônia classificou as manobras como “muito agressivas” e enviou 40 mil soldados para a fronteira com Belarus, além de fechar passagens terrestres. Países bálticos, como Letônia e Lituânia, reforçaram restrições aéreas.

    A OTAN, por sua vez, iniciou a operação Sentinela Oriental, mobilizando forças da Dinamarca, França, Alemanha e Reino Unido para reforçar o flanco leste da aliança.

    O secretário-geral da organização, Mark Rutte, criticou a incursão recente de drones russos na Polônia, abatidos por caças poloneses com apoio de aliados. Foi a primeira vez, desde 2022, que a aliança militar ocidental abriu fogo contra equipamentos militares russos.

    Voz do Kremlin

    Com uniforme militar, o presidente Vladimir Putin inspecionou pessoalmente tropas e armamentos em Nizhny Novgorod, onde classificou a atividade como um “exercício que prioriza a soberania russa”.

    “O objetivo do exercício é praticar todas as medidas necessárias para a firme proteção da soberania e da integridade territorial do Estado da União contra qualquer agressão”, afirmou.

    O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reforçou o discurso de normalidade: “Não são direcionados a nenhum terceiro país. Trata-se de cooperação entre dois aliados estratégicos”.

    Confira vídeos da visita de Putin:

     

    Reação europeia

    O clima na Europa é de tensão. A Polônia, que teve 19 drones russos invadindo seu espaço aéreo na semana anterior ao início do Zapad, enviou 40 mil soldados à fronteira com Belarus. Varsóvia também acionou o Artigo 4 da OTAN, que prevê consultas emergenciais quando um Estado-membro se sente ameaçado.

    Em resposta, a aliança lançou a operação Sentinela Oriental, que mobiliza forças da Dinamarca, França, Alemanha e Reino Unido para reforçar o flanco leste. Foi a primeira vez, desde 2022, que aviões da OTAN derrubaram drones russos.

    Nessa sexta-feira (19/9), a Comissão Europeia anunciou a apresentação do 19º pacote de sanções contra a Rússia, em resposta à intensificação dos ataques de Moscou à Ucrânia e às violações do espaço aéreo de países da União Europeia.

    O novo conjunto de medidas será submetido à aprovação dos Estados-membros.

    A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que as sanções visam reforçar o isolamento econômico do Kremlin e cortar as receitas que sustentam a máquina de guerra russa.

    Observadores e propaganda

    Apesar da escalada, Moscou tenta dar aparência de transparência a seus atos. Observadores militares de 23 países, incluindo EUA, Turquia e Alemanha, foram convidados a acompanhar as manobras. O gesto, segundo analista, busca equilibrar o discurso de ameaça com uma fachada diplomática.

    O local escolhido é a fronteira da OTAN, e a presença de Putin em pessoa reforça o carácter político do evento. Para muitos, é uma mensagem direta ao Ocidente de que a Rússia continua disposta a escalar e a mostrar poder”, afirma o advogado internacionalista, Julian Dias Rordrigues.

    Tabuleiro de Putin segue em movimento

    Para a Rússia, o Zapad 2025 parece ser mais que um exercício, esbarrando como um aceno de que Moscou mantém capacidade de projetar força e desafiar o Ocidente, mesmo após anos de guerra na Ucrânia. Para a Europa, é um alerta de que a instabilidade pode se expandir — e rápido.

    “A resposta ainda não está clara, mas a Europa sabe que não pode baixar a guarda. Quando se brinca com este nível de poder de fogo, a margem de erro é mínima e as consequências podem ser imprevisíveis”, afirma o especialista.

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