Promessas de dinheiro falsas e de lucros garantidos. Esse é o chamariz utilizado por esquemas de apostas ilegais que têm se espalhado e atraído milhares de pessoas em busca de renda extra. Por trás dessa fachada, porém, muitos se deparam com um golpe arquitetado.
Para se ter uma ideia, cerca de 46% dos apostadores já depositaram dinheiro em plataformas falsas ou irregulares. Além disso, com o avanço da tecnologia, 78% afirmam ter dificuldades em saber quais sites são regulamentados ou não. Resultados do avanço das estratégias do mercado clandestino.
Os dados, confirmados pelo Instituto Locomotiva, foram coletados junto a 2 mil pessoas que fizeram apostas on-line entre abril e maio de 2025. Eles evidenciam o crescimento do mercado clandestino de apostas no Brasil, além de reforçar a importância de o Poder Público atuar no combate aos jogos ilegais.
Outro levantamento feito pelo “Fora do Radar: Dimensionamento e impactos socioeconômicos do mercado ilegal de apostas no Brasil”, promovido pela LCA Consultores e apoiado pelo IBJR, revelou que o Brasil perde R$ 10,8 bilhões ao falhar no combate do mercado ilegal das bets clandestinas.
Nesse contexto, com o objetivo de preencher essa lacuna de informação, viabilizar o jogo responsável e educar o público no acesso às plataformas legais e confiáveis, o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) lança a campanha “Chega de bode na sala”.
A iniciativa será veiculada até o fim do ano em TVs, rádios, painel em aeroporto, mídia digital, ações nas redes sociais e com influenciadores.
O objetivo é orientar apostadores na escolha de plataformas regulamentadas pela Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) e alertar autoridades sobre os riscos do mercado clandestino de casas de apostas.
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“É uma ação que aborda um tema complexo de forma criativa. O bode chama a atenção logo de início, funcionando como um gancho para desenvolvermos a mensagem”, explica André Gelfi, diretor conselheiro e um dos fundadores do IBJR. “A partir disso, a iniciativa se desdobra em diversos filmes, cada um explorando aspectos diferentes — desde os prejuízos causados pelo mercado clandestino até falsas promessas e a importância da integridade no próprio jogo.”
O representante do IBJR destaca, ainda, o domínio.bet.br, que reforça a regulamentação oficial pelo Governo Federal e apresentação de licença e todos os mecanismos de proteção ao apostador.
Além disso, a campanha destaca a importância da regulamentação do setor como ferramenta para proteger o consumidor e combater crimes como lavagem de dinheiro e fraudes digitais, tendo em vista que, em 2025, 73% apostaram em pelo menos um site ilegal.
O diretor do IBJR explica por que tantos brasileiros ainda apostam em plataformas clandestinas, mesmo cientes dos riscos conhecidos.
“O desconhecimento e a pouca comunicação são duas premissas preocupantes, uma vez que o foco está em apresentar promoções e marcas. Um exemplo disso é você entrar em um site e aparecer a seguinte mensagem: ‘deposite R$ 50 e ganhe R$ 200 de bônus’. Nas plataformas reguladas não pode aparecer esse tipo de publicidade”, afirma Gelfi.
“O Instituto está assumindo a liderança, e o que estamos fazendo é muito bacana — mas ainda não é o suficiente”, complementa.
Frentes de combate
O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) tem três principais frentes que atuam no combate às bets clandestinas:
Operadores e regulador (SPA/MF)
- Canal exclusivo de comunicação.
- Remoção de conteúdos irregulares em até 48h.
- Envio de dados técnicos e estatísticos sobre publicidade.
Provedores de tecnologia e certificadoras
- Proibido fornecer sistemas/certificações a operadores sem licença.
- Certificados válidos apenas se emitidos por entidades reconhecidas pelo Ministério da Fazenda.
- Responsabilidade solidária por tecnologia ou certificações a apostas clandestinas.
Instituições financeiras e de pagamento
- Relatórios semestrais sobre prevenção à lavagem de dinheiro e apostas clandestinas.
- Integração a sistemas antifraude.
- Bloqueio automático de transações suspeitas via Pix.
Proibição de parcerias com operadores ilegais
- Criação do Índice de Conformidade Regulatória em Apostas (ICRA).
- Sanções: multas de até R$ 50 mil por operação irregular, suspensão de serviços e restrição ao uso de Pix/TED em casos de reincidência.
Regulamentação
Desde 2023, a Lei nº 14.790/2023 proíbe apostas esportivas que envolvam categorias de base e que tenham participação de menores de 18 anos.
A regulação também determina que as casas de apostas autorizadas só poderão operar por meio de instituições financeiras ou de pagamento que tenham autorização do Banco Central.
Nesse contexto, Gelfi destaca que sites regulares (aqueles que terminam em .bet.br) e seguros exigem uma série de documentos do apostador, além da solicitação de uma foto em tempo real. Ainda, o dinheiro deve ser depositado no mesmo CPF, ou seja, não aceita receber depósito de terceiros.
Perigo à vista
Além do prejuízo financeiro, há a falta de proteção enquanto um possível problema com o consumo excessivo da atividade.
“Quando o site é ilegal, cria-se um território vasto para lavagem de dinheiro. Dessa forma, temos o desafio de viabilizar esse mercado regulado que, até então, não tinha uma regulamentação. Temos um processo a ser seguido cheio de desafios e esforços. Isso leva tempo.”
André Gelfi, diretor do IBJR
Por fim, Gelfi reforça que a tecnologia permite monitoramento e identificação de comportamentos anômalos, que podem estar relacionados a sites irregulares.