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“Acabou o clima de fim de governo” (por Leonardo Barreto)

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“Acabou o clima de fim de governo” (por Leonardo Barreto)

A aprovação da isenção do IR consolida um momento positivo do presidente Lula. Como disse um articulista, cujo nome me escapa agora, “acabou aquele clima de fim de governo”.

Obviamente, o que o fator responsável pela mudança de humor é a perspectiva de poder. Lula acredita que vai entrar em um looping positivo que vai levá-lo sem sustos à recondução em 2026.

Não faz sentido perguntar se essa previsão se realizará ou não porque, como todos sabemos, política é momento. O que cabe, portanto, é entender o que mudou de 60 dias para cá e saber se o que contribuiu com essa nova circunstância é ou não duradouro.

Nesse sentido, a comemoração da aprovação do IR não é causa, mas o resultado de algo anterior. A melhora observada na avaliação do governo combina decisões de estratégia de comunicação e o aproveitamento de oportunidades abertas por erros da direita.

Profissionais de pesquisa apontam já faz algum tempo que os três principais fatores de baixa avaliação do governo são (i) aumento de impostos; (ii) inflação de alimentos e (iii) violência urbana.

O primeiro item foi trabalhado pela comunicação ao fazer a releitura da isenção do IR, quando, sob o comando de Sidônio Palmeira, o governo reforçou a mensagem de que o aumento de impostos, na verdade, é justiça tributária.

Embora a mão pesada do Leão tenha ido muito além do necessário para pagar a isenção e atingido o andar de baixo com o imposto das blusinhas, por exemplo, o governo aposta que pode amenizar sua imagem de taxador justificando que tudo foi por uma causa maior, que os aumentos se concentraram nos ricos e que os pobres e a classe média baixa saíram ganhando.

O segundo item, da inflação de alimentos, está de certa forma sendo resolvido pela desvalorização global do dólar promovido pelo presidente Donald Trump e pelos juros lá no alto.

Por fim, o governo tentou endereçar o terceiro ponto, de leniência com a criminalidade, com a operação Carbono Oculto. Nesse caso, como em outros, usou um tom de guerra de classes, afirmando que o crime está sendo combatido “no andar de cima”.

Nesse aspecto, a aprovação da PEC da blindagem pela Câmara dos Deputados caiu como um presente dos céus.

Com forte oposição da opinião pública, o timing não poderia ser melhor para Lula, exatamente quando se falava de infiltração do crime organizado em várias áreas, inclusive na política.

Apesar de ter sido aprovada com 12 votos do PT, a rejeição popular à PEC colocou a esquerda de volta nas ruas, demonizou o Congresso, associou nomes da oposição ao crime organizado e ensaiou devolver a pauta ética para a Lula. Povo na rua e pauta ética e uma coisa que a esquerda não via desde o mensalão.

Outras questões laterais também são importantes para explicar essa sensação de força exibida por Lula. A anistia, que podia ter alguma capacidade de aglutinar boa parte da direita, foi implodia pelas sanções econômicas do governo Donald Trump ao país.

A direita não bolsonarista não achou, até hoje, a maneira de lidar com essa situação. O dilema é tentar obter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro sem, no entanto, assumir escancaradamente a narrativa de rompimento institucional, ter que lutar até as últimas consequências contra o STF, apoiar sanções estrangeiras ao país.

O clã Bolsonaro não parece estar disposto a fazer cálculos eleitorais. A direita não bolsonarista ainda não admitiu que a espera pelo gesto de razão por parte de Bolsonaro pode ser em vão.

Com uma pauta positiva e populista e a direta mostrando-se muito mais desarticulada do que parecia, não é devaneio sequer imaginar que alguns partidos do centrão passem a apoiar, formalmente ou informalmente, a reeleição do presidente Lula.

Esse é um indicador importante de se observar e Lula tem trabalhado fortemente nessa direção.

O governo tem dificuldades enormes para 2026, a começar por uma taxa de juros no recorde histórico, uma CPI do INSS, economia desacelerando e pessoas e empresas no maior nível de endividamento da história recente.

Mas o momento é bom para Lula porque ele acredita ter recuperado o poder de iniciativa, está pronto politicamente para fazer uma ofensiva em 2026 e aproveita a fragilização da oposição.

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília. 

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