MAIS

    Chefe de “gatonet” no DF ganhava mais que muito servidor. Saiba quanto

    Por

    Policiais civis da Divisão de Análise de Crimes Virtuais (DCV), da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor e Fraudes (Corf), prenderam nesta quarta-feira (8/10), em Samambaia, pai e filho suspeitos de operar um lucrativo esquema clandestino de IPTV (Internet Protocol Television). A investigação revelou que, enquanto alegavam rendimentos modestos, a dupla movimentava cifras muito acima da média de muitos servidores públicos brasileiros.

    O líder do esquema conhecido como “gatonet” afirmou à polícia que faturava, em média, R$ 2 mil mensais. No entanto, os cálculos da investigação mostram uma realidade diferente: com 160 clientes pagando ao menos R$ 35, o rendimento ultrapassaria R$ 5,6 mil por mês, mais que o dobro do salário inicial de diversas carreiras do funcionalismo público.

    Leia também

    Esse valor, em perspectiva, chega a ser comparável ao rendimento líquido de servidores concursados em cargos técnicos de nível superior. Para os investigadores, a diferença nos números indica tentativa de dissimular o real faturamento, reforçando o caráter de ocultação do negócio.

    Veja imagens da operação:

    6 imagensComputador dos investigadosCasa dos investigadosOs anúnciosPlanos para os clientesFechar modal.1 de 6

    Momento da prisão

    Reprodução / PCDF2 de 6

    Computador dos investigados

    Reprodução / PCDF3 de 6

    Casa dos investigados

    Reprodução / PCDF4 de 6

    5 de 6

    Os anúncios

    6 de 6

    Planos para os clientes

    Base de clientes

    Segundo a polícia, o responsável pelo esquema principal, conhecido pelo nome comercial “RegisTV”, confirmava ser o criador e administrador do domínio eletrônico www.registv.com.br, hospedado em servidor estrangeiro e utilizado como plataforma para comercialização de pacotes ilegais de TV por internet. Logo após a operação, o site foi “derrubado” pelas autoridades

    De acordo com as investigações, o chefe do esquema começou a atuar em meados de 2023, após adquirir, em fóruns e grupos especializados, chamados “painéis de revenda” de listas IPTV — conhecidos no mercado paralelo como listas M3U.

    Inicialmente revendedor de uma TV por assinatura legalizada, o suspeito passou a vender os pacotes diretamente ao público, criando uma base de clientes que chegou a 160 assinantes ativos no último semestre. O serviço oferecia acesso a canais de TV aberta e fechada, filmes, séries e até pay-per-view, por preços variando entre R$ 17 e R$ 35. Os pagamentos eram realizados via Pix e transferências bancárias, utilizando chaves no nome do próprio operador e de seu filho, que também participava do negócio.

    Ex-militar da FAB

    O segundo investigado, de 26 anos, é ex-militar da Força Aérea Brasileira (FAB), onde serviu por seis anos como cabo. Após deixar a carreira militar, ele passou a ajudar nas atividades de IPTV, gerenciando uma carteira menor, com cerca de 30 clientes ativos. Seus pacotes variavam de R$ 30 a R$ 35 mensais, além da oferta de planos anuais a R$ 200. A “RegisTV” utilizava múltiplos canais de divulgação: perfis em WhatsApp, Telegram, redes sociais e o próprio site. O atendimento era realizado de forma remota, diretamente por pai e filho.

    Todo o dinheiro entrava em contas pessoais e era usado tanto para despesas da família quanto para a manutenção da estrutura tecnológica, incluindo servidores, hospedagem e domínio. Em nenhum momento o negócio foi registrado formalmente: não houve abertura de empresa, nem criação de CNPJ. O próprio chefe do esquema admitiu que, mesmo ciente da ilegalidade, decidiu manter a atividade por “conveniência econômica”, já que havia perdido seu emprego formal como supervisor de vendas de internet.

    O flagrante

    A investigação começou após denúncias sobre a oferta clandestina de canais pagos. Durante as diligências, a polícia identificou os responsáveis, coletou provas digitais e rastreou tanto os domínios eletrônicos quanto os meios de pagamento.

    Pai e filho foram presos em flagrante e autuados com base no Art. 183 da Lei Geral de Telecomunicações (Lei nº 9.472/1997), que prevê pena de dois a quatro anos de detenção, além de multa. Eles também poderão responder por violação de direitos autorais e exploração clandestina de serviços de telecomunicações.

    O caso da “RegisTV” escancara como o gatonet se transformou em uma verdadeira indústria paralela, movimentando cifras expressivas sem recolhimento de impostos e em prejuízo direto às empresas de mídia e aos cofres públicos.

    O detalhe mais simbólico, ressaltam os investigadores, é que enquanto muitos servidores públicos enfrentam salários médios entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, o chefe da operação clandestina chegou a ultrapassar esses valores com um negócio ilegal e operado de dentro de casa.