Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, investigaram por que pessoas mais velhas podem se sentir desorientadas mesmo em ambientes conhecidos.
O estudo, publicado nessa sexta-feira (3/10) na Nature Communications, aponta que o córtex entorrinal medial, região essencial para criar mapas mentais do espaço, sofre alterações com a idade, prejudicando a memória espacial.
Como o estudo foi feito
A equipe analisou 18 camundongos divididos em três grupos etários, equivalentes a humanos de 20, 50 e 75 a 90 anos. Durante seis dias, os animais percorreram pistas de realidade virtual enquanto recebiam pequenas recompensas de água.
As trilhas eram exibidas em telas que simulavam ambientes complexos, permitindo que os pesquisadores observassem a atividade de células de grade no córtex entorrinal medial, responsáveis por criar mapas mentais do espaço.
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Nos camundongos jovens, as células disparavam de forma organizada, indicando memórias espaciais estáveis. Já nos mais velhos, os padrões se tornaram caóticos, sugerindo perda da capacidade de diferenciar ambientes e localizar recompensas.
“O córtex entorrinal medial contém todos os componentes necessários para construir um mapa do espaço, mas pouco se sabia sobre como ele se altera durante o envelhecimento saudável”, diz Lisa Giocomo, autora sênior do estudo e professora de neurobiologia da Stanford Medicine.
Perda da capacidade de reconhecer lugares
Os pesquisadores perceberam que, mesmo quando já conheciam o ambiente, os ratos mais velhos tinham dificuldade para se orientar. Eles confundiam as trilhas e erravam o local das recompensas, mostrando perda da capacidade de reconhecer espaços familiares.
De acordo com a pesquisadora Charlotte Herber, principal autora do estudo, os animais mais velhos apresentaram pior desempenho em tarefas que exigem memória espacial e rapidez para diferenciar contextos — algo semelhante ao que ocorre nas fases iniciais da demência em humanos.
O estudo também identificou mudanças em genes relacionados à comunicação entre os neurônios e à adaptação das conexões cerebrais, o que pode explicar por que as células responsáveis por formar mapas mentais do espaço se desgastam com a idade.
As descobertas indicam que o córtex entorrinal medial é uma das primeiras regiões do cérebro a sofrer com o envelhecimento e pode ser um dos principais alvos de doenças como o Alzheimer, abrindo caminho para futuras terapias que ajudem a preservar a memória espacial.
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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
PM Images/ Getty Images2 de 8
Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
Andrew Brookes/ Getty Images3 de 8
Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
Westend61/ Getty Images4 de 8
Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
OsakaWayne Studios/ Getty Images6 de 8
Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
Kobus Louw/ Getty Images7 de 8
Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
Rossella De Berti/ Getty Images8 de 8
O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Perspectivas para o futuro
Os resultados mostraram que os ratos de meia-idade tiveram apenas uma leve queda no desempenho, mas os mais velhos apresentaram um declínio bem mais acentuado, o que indica que agir cedo pode ser fundamental para preservar a memória espacial ao longo do envelhecimento.
Segundo os pesquisadores, entender como essas mudanças acontecem nas células e nas conexões cerebrais é um passo importante para criar estratégias e tratamentos capazes de manter a capacidade de se orientar e se deslocar, ajudando a retardar sintomas de demência em pessoas mais velhas.
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