A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) afirmou nesta quinta-feira (23/10) que há risco de paralisação na produção de veículos no Brasil por causa da “escassez crítica de semicondutores”, que pode afetar as operações de diversas fábricas do setor em todo o país.
Em nota, a entidade compara a situação atual da indústria automotiva, em relação à falta de chips, com o período enfrentado no auge da pandemia de Covid-19, em 2020 e 2021.
O que diz a Anfavea
“A nova crise dos chips se deve a disputas geopolíticas intensificadas neste mês, depois que o governo holandês assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país, subsidiária de um grupo chinês”, diz a Anfavea em nota encaminhada ao Metrópoles.
“Em resposta, a China impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos, o que já afeta a produção em algumas fábricas automotivas na Europa e arrisca parar montadoras no Brasil”, explica a associação.
Segundo a entidade, “um veículo moderno usa, em média, de 1 mil a 3 mil chips” e “sem esses componentes, as fabricantes não conseguem manter a linha de produção em andamento”.
“A atual crise remete a um cenário semelhante ao vivido durante a pandemia. O impacto da falta de semicondutores vai além do setor automotivo, afetando uma gama de segmentos industriais que dependem desses componentes”, alerta a entidade.
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“Nesse sentido, a Anfavea já alertou o governo federal para que tome medidas rápidas e decisivas para evitar o desabastecimento de semicondutores no país.”
O alerta é reforçado pelo presidente da Anfavea, Igor Calvet. “Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda. A urgência é evidente, e a mobilização se faz necessária para evitar um colapso na indústria”, afirmou.
Ainda de acordo com a nota da associação, a Anfavea está “atenta e preocupada com o risco de paralisação da produção de veículos no país”, que pode “afetar operações fabris em questão de semanas”.
Como a crise global dos chips afeta a indústria
Semicondutores são materiais que possuem condutividade elétrica intermediária. Sua propriedade mais importante é a capacidade de mudar de isolante para condutor dependendo de condições como temperatura, pressão ou radiação, o que os torna essenciais para a criação de chips e componentes eletrônicos. O material mais comum é o silício.
No caso do Brasil, o efeito da escassez de semicondutores começou a ser sentido mais fortemente nas últimas semanas porque o país importa praticamente todos os chips que utiliza – e muitos deles vêm de fornecedores que compram da Nexperia, agora controlada pelo governo holandês.
Na última terça-feira (21/10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou para uma viagem oficial de seis dias à Ásia, com uma série de compromissos na Indonésia e na Malásia. A expectativa do setor é a de que a crise dos chips seja abordada pelo governo brasileiro durante a viagem.
A guerra global em torno dos semicondutores envolve uma verdadeira corrida por minerais críticos capitaneada por países como Estados Unidos, China, Japão e diversas nações da Europa. Quase toda a cadeia de fabricação demanda vários metais e minerais estratégicos.
A produção desses minerais está concentrada em poucos países, entre os quais a China – que responde atualmente por cerca de 70% da mineração de terras raras, mais de 90% do refino e quase 100% da produção de ímãs permanentes.