O dólar terminou a sessão desta terça-feira (7/10) em forte alta, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil (B3), teve um pregão de grandes perdas, em um dia movimentado no noticiário econômico tanto no Brasil quanto no exterior.
Dólar
- A moeda norte-americana fechou o dia em alta de 0,75%, cotada a R$ 5,351.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,353. A mínima foi de R$ 5,32.
- Na véspera, a moeda dos EUA fechou em queda de 0,47%, negociada a R$ 5,31.
- Com o resultado, o dólar acumula ganhos de 0,53% em outubro e perdas de 13,31% em 2025 frente ao real.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal indicador do desempenho das ações negociadas na B3, fechou o pregão, preliminarmente, em forte queda de 1,57%, aos 141,3 mil pontos.
- Na pontuação máxima do pregão, o índice bateu 143.606,02 pontos. A mínima foi de 141.035,06 pontos.
- No dia anterior, o Ibovespa recuou 0,41%, aos 143,6 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa de Valores do Brasil acumula baixa de 3,35% no mês e ganhos de 17,84% no ano.
Compensação do IOF
No cenário doméstico, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre contra o tempo para garantir a aprovação da Medida Provisória (MP) 1.303/25, que trata de medidas alternativas para a alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O texto deve ser votado em comissão mista nesta terça-feira e precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional até 8 de outubro – caso contrário, perderá a validade.
Inicialmente, o parecer deveria ter sido votado na semana passada, mas a votação foi postergada a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Apesar da decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF), que reinstaurou parcialmente o decreto derrubado pelo Legislativo, por pressão de diferentes setores, como o agro e as bets, o texto corre risco de ser desidratado e ter parte das medidas de arrecadação previstas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) – em vigor desde o envio da MP em junho – derrubadas no Congresso Nacional.
O relator da MP, Carlos Zarattini (PT-SP), por exemplo, desidratou parte do relatório e retirou o aumento de tributação de bets do texto. No entanto, por acordo e pressionado pelo agro, manteve a isenção de imposto sobre Letras de Crédito Agropecurário (LCA), Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCD).
A proposta original era manter alíquota de taxação estabelecida em 5% para títulos hoje isentos. Para as apostas esportivas, a ideia era aumentar de 12% para 18% a alíquota sobre a receita bruta das empresas regularizadas.
A arrecadação que o governo planejava com a aprovação da MP deve cair para até R$ 15 bilhões em 2026 e 2027, embora a expectativa do Executivo fosse arrecadar R$ 35 bilhões nesses dois anos.
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“Tarifa zero” no transporte?
Outro tema que movimentou o mercado no decorrer do dia é a discussão em torno de uma suposta “tarifa zero” no transporte público, debate que estaria em curso no governo federal e assusta os agentes do mercado, por causa de seu potencial impacto fiscal.
Haddad confirmou que o Ministério da Fazenda faz uma radiografia para verificar a viabilidade de implementar a tarifa zero no transporte público – ou seja, a gratuidade do serviço. Os estudos sobre o setor foram feitos a pedido de Lula.
“Neste momento, estamos fazendo uma radiografia do setor a pedido do presidente [Lula]. É uma radiografia, tem vários estudos que estão sendo recuperados pela Fazenda para verificar se tem outras formas mais adequadas para financiar o setor”, explicou Haddad em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da EBC.
Segundo Haddad, a equipe econômica trabalha na recuperação de pesquisas anteriores, na atualização desse material e no desenvolvimento de novas análises para verificar a implementação da tarifa zero. “Estamos fazendo um mapeamento. Vamos perseverar nesse estudo para mostra uma radiografia do setor e quais são as possibilidades de melhorar”, reforçou o ministro. O governo entende que a medida pode ajudar Lula na campanha à reeleição em 2026.
“Shutdown” nos EUA
No front externo, o Senado norte-americano rejeitou, na noite de segunda-feira, uma nova proposta que encerraria a paralisação do governo, o chamado “shutdown”. Com isso, segue a “seca” de divulgação de dados sobre a economia dos EUA.
O congelamento ocorreu em razão de os democratas do Senado terem bloqueado um pacote temporário de financiamento criado para dar aos legisladores mais tempo para negociar projetos de lei de gastos para o ano inteiro, o que a Câmara controlada pelo Partido Republicano já havia aprovado.
É a primeira paralisação governamental em quase sete anos. A última ocorreu durante o primeiro mandato presidencial de Trump (2017-2021), quando as funções governamentais foram suspensas durante 35 dias, em dezembro de 2018.
O colapso nas finanças significa que funções governamentais cruciais – desde serviços de empréstimo para pequenas empresas a parques nacionais e treinamento profissional para veteranos – serão congeladas até que os legisladores aprovem mais verbas.
Ainda nos EUA, quatro dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) discursaram nesta terça-feira. As manifestações também mexeram com os mercados de câmbio e ações, uma vez que os agentes econômicos seguem à caça de pistas sobre o rumo dos juros no país.
Análise
Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a alta do dólar nesta terça-feira acompanhou a valorização global da moeda norte-americana, “em meio a um ambiente de incertezas fiscais e políticas nas principais economias”.
“Nos EUA, o prolongamento do ‘shutdown’ do governo Trump, já no sétimo dia, e a ausência de indicadores oficiais mantêm os investidores em postura defensiva, à espera das falas de dirigentes do Federal Reserve e da ata da última reunião. No exterior, a instabilidade política na França e o possível viés fiscal expansionista no Japão aumentam a demanda pela moeda americana”, explica Shahini.
“No Brasil, o cenário é de cautela diante das discussões fiscais ainda incertas, especialmente em torno da alternativa ao aumento do IOF e das fontes de compensação orçamentária, o que elevou a percepção de risco e penalizou os ativos locais. com queda na Bolsa, alta nos juros e valorização do dólar frente ao real.”