O presidente do Riacho City, clube da segunda divisão do Campeonato Candango, é acusado de ofender, agredir física e verbalmente e ameaçar com uma faca um atleta do próprio elenco. O jogador registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que vai investigar o caso.
As ameaças vêm ocorrendo há cerca de um mês. Além de presidente do Riacho City, Antônio Teixeira também se apresenta como pastor. Ele foi flagrado por atletas xingando e ofendendo o elenco na casa onde moram o próprio Antônio mais oito jogadores (cuja maioria têm menos de 30 anos), no Riacho Fundo. Em 19 de setembro, numa conversa entre o mandatário e alguns dos garotos, ele declara: “Eu vou falar no bom português: quem faltar com o respeito aqui, eu vou encher de porrada. Eu tenho força para isso, tenho força física para isso”.
Ouça:
A fala foi direcionada ao meio-campista Breno Maciel de Lima, 24 anos. Ele conta o que motivou a reação do presidente do Riacho City. “No dia anterior, os meninos [atletas] fizeram comida e separaram o meu prato, pois eu estava na igreja. Ele [o presidente] chegou e comeu a minha comida, mesmo sendo avisado que eu ainda não havia jantado”, relata Breno.
“Eu não tinha dinheiro para comprar nada. Então, bati na porta do quarto dele e perguntei: ‘Presidente, não tem nada para comer, vou ficar com fome?’. Ele respondeu: ‘O que eu posso fazer?! Posso fazer nada’. Depois, fui para o meu quarto e mandei mensagens para ele pedindo que aquilo não se repetisse”, declara Breno. O presidente se irritou e, no dia seguinte, reuniu o elenco e disse que iria “encher de porrada” quem “faltasse com o respeito”.
Naquele dia, as ofensas de Antônio contra o jogador de 24 anos continuaram. “Quem é você para sair desafiando os outros?! Eu sou homem, você é merda. Você não sabe o que é ser homem”, disparou o presidente do Riacho City.
Uma semana depois, em 26 de setembro, o jogador foi novamente ameaçado por Antônio Teixeira — desta vez, com uma faca. A confusão se iniciou por falta de almoço para o elenco. “Naquele dia, por volta das 11h, ele [o presidente] saiu dizendo que iria trazer o nosso almoço. Deu 12h, 13h, 15h, e nada. Ligamos diversas vezes, e ele não atendia”, relembra Breno.
“Fomos treinar às 16h, e um dos meninos viu ele almoçando em uma churrascaria. Ligamos para ele, e ele mentiu falando que estava resolvendo problemas, que estava longe da casa, que sequer tinha almoçado. Eu, então, avisei: ‘Presidente, viram o senhor comendo em uma churrascaria, tenho foto’. Passou dois minutos, ele apareceu na casa, contrariando a ele próprio, que havia dito que estava longe”, recorda-se o jogador.
“Começamos a discutir, e ele se dirigiu a mim como ‘Merdão’. Me xingou de bandido, falou que ia chamar gente para me agredir no meio da rua. Eu retruquei, e ele pegou uma faca e veio para cima de mim. Peguei um banco para me defender, e ele recuou”.
Antônio Teixeira, presidente do Riacho City, almoçando em uma churrascaria em 19 de setembro
Material obtido pelo Metrópoles
Atletas do Riacho City contam que, na mesma data, não tiveram almoço
Material obtido pelo Metrópoles
Nesta sexta-feira (10/10), Breno foi expulso da casa onde os atletas estão alojados, no Riacho Fundo I. “Hoje cedo ele discutiu comigo, me ameaçou e me expulsou sem nada. Não me deu meu dinheiro”.
“Ele fica inventando história, dizendo que coisas da casa dele sumiram, e falando: ‘Enquanto tal objeto não aparecer, eu não vou pagar ninguém’. Só que isso é pretexto para ele não pagar a gente, a gente sabe que ele não vai nos pagar.”
Breno, que chegou em agosto ao Riacho City, conta que não recebeu um mês de salário sequer. “Acertamos um valor de R$ 2,5 mil, e ele ainda disse que haveria bonificações. Além disso, eu emprestei R$ 2 mil para arcar com as taxas de transferência minha e de outros três atletas, porque estávamos ansiosos para jogar”, lamenta o rapaz. “Ele está acabando com o sonho e com a vida de um monte de pessoas.”
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Comida escondida
Breno denuncia a alimentação ofertada pelo clube. “A gente mal se alimentava, ele dava comida estragada para a gente. Tinha dia que a gente almoçava só arroz”, comenta o jovem.
As imagens abaixo mostram algumas das refeições dadas ao elenco do Riacho City ao longo dos últimos dois meses.
Alimentação ofertada aos atletas do Riacho City
Material cedido ao Metrópoles
“Só tinha arroz”, alega um dos jogadores
Material cedido ao Metrópoles
Meia afirma que, por vezes, a comida era servida estragada
Material cedido ao Metrópoles
Geladeira da casa onde estão alojados os atletas do Riacho City
Material cedido ao Metrópoles
Alimentação ofertada aos atletas do Riacho City
Material cedido ao Metrópoles
Alimentação ofertada aos atletas do Riacho City
Material cedido ao Metrópoles
Os atletas alegam ainda que, além de ameaçar o próprio elenco, Antônio Teixeira escondia comida no quarto para comer sozinho.
Veja:
Polêmicas e denúncias
O Riacho City, time presidido por Antônio Teixeira, já atendeu pelos nomes de Armageddon, Renovo e Bolamense. Foi fundado em 2008 e, de lá para cá, acumula polêmicas e denúncias.
A polêmica mais recente ocorreu em 6 de setembro deste ano, na segunda rodada da segunda divisão. O elenco titular do Riacho City foi dispensado por Antônio Teixeira antes de a bola rolar para o duelo contra o Candango. Os atletas, então, se revoltaram, dando início a uma confusão nos vestiários do estádio Rorizão, em Samambaia, e a Polícia Militar (PMDF) precisou intervir. No fim das contas, o time reserva foi a campo, e o Riacho City perdeu por 1 x 0.
Após o jogo, o ex-treinador do Riacho City, Edmilson Rodrigues, informou à época que ele e os jogadores afastados tomariam providências no sentido de mover um processo criminal e outro no Ministério Público contra Antônio Teixeira.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com o presidente do Riacho City, Antônio Teixeira, que não havia retornado. O espaço está aberto para possíveis manifestações.
A 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo) apura as denúncias. O pastor também não respondeu a PCDF no momento da confecção do boletim de ocorrência.
