A presidente do Supremo Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, pediu perdão pelos “erros e omissões” cometidos pelo tribunal durante a ditadura militar. O pedido de desculpas aconteceu na noite desse sábado (25/10), durante o ato conjunto na Catedral da Sé, centro de São Paulo, em memória aos 50 anos da morte de Vladimir Herzog (veja vídeo abaixo).
“Estou presente neste ato ecumênico de 2025 para, na qualidade de presidente da Justiça Militar da União, pedir perdão a todos que tombaram, que sofreram, lutando pela liberdade do Brasil [aplausos]”, disse Maria Elizabeth nesse sábado (25/10).
Ovacionada pelo público, ela continuou seu discurso citando o nome de pessoas que foram perseguidas pela ditadura – algumas delas, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), estavam presentes no evento:
“Pedir perdão pelos erros e as omissões judiciais cometidos durante a ditadura. Eu peço perdão a Vladimir Herzog e sua família, a Paulo Ribeiro Bastos e a minha família, a Rubens Paiva e a Miriam Leitão e seus filhos, a José Dirceu, a Aldo Arantes, a José Genoíno, a Paulo Vannuchi, a João Vicente Goulart, e a tantos outras, homens e mulheres, que sofreram com as torturas, as mortes, os desaparecimentos forçados e o exílio. Eu peço, enfim, perdão à sociedade brasileira, e à história do país pelos equívocos judiciários cometidos pela justiça militar federal em detrimento à democracia e favoráveis ao regime autoritário. Recebam o meu perdão, a minha dor e a minha resistência”, completou a presidente do STM.
Veja o vídeo do momento:
Maria Elizabeth é a primeira mulher a assumir o cargo de presidente do STM. Durante o evento na Catedral da Sé, ela se mostrou incisiva na defesa da democracia, e disse que “não podemos permitir que a ditadura retorne”.
Além dela, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), também discursou e evitou falar sobre a a tentativa de revisão da Lei da Anistia, quando foi questionado sobre o assunto por jornalistas.
Na sua fala, Alckmin disse que “a morte do Vladimir Herzog foi o resultado do extremismo do Estado. Em vez de proteger os cidadãos, os perseguia e matava. Por isso [a necessidade de] fortalecer a democracia, a Justiça e a liberdade”. Também estava presente o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário.
Morte de Herzog
O jornalista Vladimir Herzog foi morto em 25 de outubro de 1975, após se apresentar voluntariamente na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), na rua Tutóia, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Na época, o regime militar divulgou uma foto do jornalista com um cinto amarrado ao pescoço, sugerindo um suposto suicídio.
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Exames posteriores e depoimentos de testemunhas indicaram que o corpo de Herzog apresentava hematomas e outros sinais que não correspondiam a um enforcamento, mas sim a sessões de tortura.
Sete dias após a morte, a missa de sétimo dia de Vladimir Herzog reuniu mais de 8 mil pessoas na Catedral da Sé. O ato, conduzido por líderes religiosos como o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, tornou-se marco na resistência democrática.
