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    Emenda Pix para asfalto alça cidades ao topo de ranking pré-eleitoral

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    Parlamentares alçaram cidades paulistas ao topo do ranking de emendas Pix em 2025, com verba destinada para pavimentação de rua a um ano da eleição.

    Enquanto as emendas parlamentares convencionais, como as de comissão e de bancada, seguem um processo de tramitação e fiscalização mais rígido, as emendas Pix são marcadas por um trâmite mais rápido e, muitas vezes, sem a devida transparência, já que não é necessário esclarecer para onde vai o montante, ou seja, sem especificar o destino do dinheiro. Ao todo, as cidades paulistas já receberam R$ 265 milhões neste ano.

    Em 2025, a cidade de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, lidera o ranking estadual e é a segunda cidade do país com mais emendas Pix neste ano, com R$ 22 milhões enviados. Ela só perde para Macapá, no Amapá, com quase o dobro.

    A cidade foi impulsionada ao alto do ranking desse tipo de repasse graças a emendas do próprio prefeito da cidade, Alberto Mourão (MDB), que até o ano passado era deputado federal. Ele enviou uma emenda de quase R$ 18 milhões para pavimentação de ruas da cidade.

    O município ainda recebeu emenda de R$ 4,6 milhões do deputado federal Fabio Teruel (MDB), colega de partido do prefeito, para o mesmo fim.

    O asfalto costuma ser um dos gastos preferidos dos políticos por proporcionarem visibilidade. As obras relativas a ambas as emendas seriam licitadas no segundo semestre deste ano, segundo o plano de trabalho da prefeitura. Logo, as obras se dariam em 2026, em pleno ano eleitoral.

    Veja as cidades de SP que mais receberam emendas Pix em 2025

    1. Praia Grande – R$ 22.484.801
    2. Osasco – R$ 21.780.000
    3. Embu das Artes – R$ 14.727.225
    4. Morungaba – R$ 10.711.658
    5. Registro – R$ 8.613.000
    6. São Carlos – R$ 6.930.000
    7. Mairiporã – R$ 6.029.100
    8. Ferraz de Vasconcelos – R$ 5.445.000
    9. Barueri – R$ 4.554.000
    10. São Paulo — R$ 4.484.702

    Padrinhos generosos

    Se muitos políticos adotam a estratégia de enviar valores menores para diversas cidades, outros despejam verdadeiras fortunas em menos cidades. Logo atrás de Praia Grande, vem Osasco, com quase R$ 22 milhões em emendas apenas neste ano. O grosso veio de uma emenda de R$ 20 milhões do senador Giordano (MDB) para asfalto.

    Giordano faz parte de um seleto grupo de parlamentares, aqueles que já indicaram mais de R$ 100 milhões em emendas Pix. Desse total, R$ 35 milhões foram para Osasco.

    Outra cidade elevada ao topo do ranking das emendas Pix graças a Giordano é a pequena Morungaba, cidade do interior paulista com pouco mais de 13 mil habitantes. Neste ano, o senador enviou uma emenda de R$ 10 milhões para pavimentação –ao todo, a cidade já recebeu R$ 27 milhões, a maioria vindas de emendas de Giordano, que fizeram a cidade superar grandes municípios, como Guarulhos, por exemplo.

    O senador tem um hotel em Morungaba. Conforme o Metrópoles revelou, uma das emendas dele, no valor de R$ 3 milhões, previa paisagismo na rua, segundo o portal Transferegov.

    Embu das Artes, na Grande SP, é mais uma cidade que engordou o caixa às vésperas da eleição graças à concentração de valores por algum parlamentar. A deputada federal Ely Santos (Republicanos), irmã do ex-prefeito da cidade Ney Santos (Republicanos), mandou cerca de R$ 15 milhões para recapear 20 ruas do município.

    Em nota, a deputada afirmou ao Metrópoles que mantém base eleitoral sólida na cidade, onde obteve 40 mil votos. “A deputada entende que cuidar de Embu das Artes é também uma forma de honrar suas origens e retribuir a confiança que recebeu nas urnas”.

    A reportagem também procurou Alberto Mourão e Alexandre Giordano, mas ambos não comentaram até a publicação desta reportagem.

    Paraíso escanteado

    Carapicuíba, cidade conhecida como “paraíso das emendas”, que lidera o ranking histórico de emendas Pix desde o início da década já acumula quase R$ 160 milhões em repasses. No entanto, neste ano, ela figura em apenas no 13º lugar em repasses, com R$ 3,5 milhões.

    Os valores gerais foram impulsionados por emendas de parlamentares da bancada evangélica. No entanto, a cidade hoje é um dos locais mais visados pela fiscalização no país, após a suspensão de repasses ordenado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino.

    Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU), que baseou decisão de suspensão por Dino, afirma que R$ 13,4 milhões dos gastos não foram comprovados e atestou obras mal feitas na cidade.

    Uma empresa destinatária de ao menos uma das emendas Pix tinha como controladora uma offshore nas Bahamas, conhecido paraíso fiscal no Caribe, e foi condenada por uso de um atestado falso de capacidade técnica.