Após ameaça de tarifas, trocas de acusações e uma sucessão de medidas de retaliação econômica, os presidentes Donald Trump e Xi Jinping se encontram, nesta quarta-feira (29/10) pelo horário de Brasília, mas quinta (30/10) pelo horário de Gyeongju, na Coreia do Sul, à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).
O primeiro encontro desde que Trump retornou à Casa Branca pode ser interpretado como uma tentativa de reposicionar as relações entre Washington e Pequim em meio a um impasse que vai além do comércio. As duas maiores economias do mundo chegam à mesa de negociações pressionadas por crises internas e interesses globais divergentes.
O republicano aposta em um acordo rápido que reduza tarifas e alivie o peso político de uma guerra comercial impopular entre agricultores e industriais americanos. Xi, por sua vez, chega fortalecido, após consolidar poder interno e expandir a presença chinesa na Ásia, na África e na América Latina.
Cenário instável
A reunião ocorre em um cenário de aparente trégua, porém instável. No último fim de semana, Estados Unidos e China esboçaram um acordo preliminar durante negociações na Malásia, abrindo espaço para suspender restrições às exportações de terras raras e retomar compras de soja americana. Ainda assim, persistem incertezas sobre o alcance real dessas concessões.
“Estamos prontos para trabalhar com os americanos para que esse encontro produza resultados positivos”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun.
Trump, por sua vez, afirmou esperar uma “excelente reunião” e declarou que “muitos problemas serão resolvidos”. Entretanto, dias antes, o norte-americano havia afirmado que os EUA estavam em uma “guerra comercial” com a China. “Nós estamos em uma [guerra] agora. Olha, nós temos 100% de tarifas. Se não tivéssemos tarifas, nós seríamos expostos como se não tivéssemos nada. [Como se] nós não tivéssemos defesa”, declarou Trump.



Encontro entre Trump e Xi Jinping, na Coreia do Sul
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Encontro entre Trump e Xi Jinping, na Coreia do Sul
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Encontro entre Trump e Xi Jinping, na Coreia do Sul
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Donald Trump e Xi Jinping
Thomas Peter-Pool/Getty Images
Donald Trump e Xi Jinping
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Donald Trump e Xi Jinping
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Donald Trump e Xi Jinping
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Guerra comercial
- Desde 2024, a rivalidade entre as potências evoluiu de um conflito tarifário para uma disputa estratégica por hegemonia tecnológica e energética.
- Washington ampliou controles sobre exportações de chips de inteligência artificial, enquanto Pequim restringiu a venda de minerais críticos usados em eletrônicos e equipamentos militares.
- A Casa Branca ameaça, agora, impor tarifas de até 155% sobre produtos chineses, caso não haja recuo.
- Trump tenta recuperar credibilidade após um mês de paralisação do governo, enquanto Xi busca projetar estabilidade e poder de negociação.
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Taiwan, fentanil, soja, terras raras e Rússia
Embora a agenda oficial mencione o comércio, temas sensíveis como Taiwan e segurança tecnológica devem dominar as conversas. Pequim deseja que Washington reafirme sua política de “não apoio” à independência da ilha, enquanto o presidente norte-americano tende a usar o tema como moeda de troca para aliviar tarifas.
Outro ponto central que pode estar à mesa é o combate ao tráfico de fentanil, apontado por Washington como um problema originado na China. Um possível acordo sobre o tema poderia abrir caminho para reduzir as tarifas americanas sobre produtos químicos.
As terras raras — minerais vitais para indústrias de ponta — seguem como o maior ponto de pressão do governo de Xi Jinping. A China controla cerca de 70% do processamento mundial e usa o domínio sobre o setor como ferramenta de negociação.
A crise da soja também deve ser um dos temas debatido pelos líderes. Trump voltou recentemente a criticar o governo chinês por não comprar soja norte-americana, prejudicando agricultores do país. O republicano afirmou que o governo estudava medidas de retaliação, incluindo o encerramento de negócios com o governo chinês relacionados à compra de óleo de cozinha e outros produtos.
“Acredito que a China, propositalmente, não compra nossa soja, dificultando aos nossos produtores de soja. É um ato economicamente hostil”, escreveu à época.
A China comprou mais de US$ 12 bilhões em soja dos EUA em 2024, porém zerou as importações em setembro de 2025, condicionando o retorno ao fim das “taxas irracionais” impostas pelos Estados Unidos. Com isso, agricultores enfrentam risco de falência e prejuízos bilionários, já que até 60% da produção de soja de alguns estados destinam-se ao mercado chinês.
Na busca por ampliar sua influência nas negociações para encerrar a guerra na Ucrânia, Trump espera que Xi, aliado próximo de Moscou, atue como mediador. O tópico da compra de petróleo russo também deve ser abordado.
América Latina no tabuleiro
A disputa entre EUA e China reverbera em toda a economia global, e também na América Latina. A guerra comercial empurrou a China para buscar novos fornecedores e ampliar a presença na região. O Brasil, por exemplo, tornou-se o principal exportador de soja para o mercado chinês e um potencial parceiro estratégico em terras raras.
Pequim também vem aprofundando sua inserção institucional no continente. Recentemente, a China foi admitida como observadora na Comunidade Andina e ampliou sua atuação no Fórum China-CELAC, com promessas de bilhões de dólares em crédito e investimentos.





