A Petrobras obteve autorização do Ibama para iniciar a perfuração do poço exploratório do bloco FZA-M-059, localizado na foz do Rio Amazonas, uma das cinco bacias sedimentares da Margem Equatorial. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (20/10).
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A escavação ainda não servirá para extrair recursos naturais, mas sim para investigar se há petróleo ou gás natural em quantidade suficiente para ser explorada futuramente. De acordo com a estatal, a investigação deve começar imediatamente e durará cerca de cinco meses.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, comemorou a decisão e prometeu cumprir a etapa com segurança, responsabilidade e qualidade técnica. “É uma conquista da sociedade brasileira e revela o compromisso das instituições nacionais com o diálogo e com a viabilização de projetos que possam representar o desenvolvimento do país”, afirma a mandatária em comunicado.
No entanto, às vésperas do início da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), especialistas em meio ambiente e energia demonstraram preocupação com a medida. O engenheiro elétrico Ricardo Fujii, especialista em conservação do WWF-Brasil, classificou a autorização como um “retrocesso para o país”.
“A liberação é uma ameaça direta a uma das regiões mais biodiversas do planeta. O Brasil não precisa abrir novas fronteiras petrolíferas, especialmente em plena Amazônia, para garantir sua segurança energética. Insistir no petróleo é andar na contramão do mundo e colocar em risco não apenas nossos ecossistemas, mas também a credibilidade do país na agenda climática global”, ressalta.
Fujii avalia que o investimento em outras fontes energéticas é necessário, mas deve ser feito em alternativas capazes de gerar desenvolvimento inclusivo e sustentável, como as energias renováveis e a bioeconomia.
Riscos e benefícios da exploração na Foz do Amazonas
De acordo com o pesquisador Jonata Francisco, a liberação pode trazer benefícios à região, gerando mais empregos e renda no Amapá e Pará. A medida também pode trazer mais dados sobre o potencial petrolífero local, aumentando a soberania energética e reduzindo a dependência de importação de óleo.
Por outro lado, a escavação traz riscos ambientais, podendo impactar profundamente ecossistemas únicos, como os recifes amazônicos e a pluma da foz do Amazonas – grande massa de água doce rica em nutrientes e fundamental para a reprodução de vários organismos.
Possíveis acidentes durante a exploração, incluindo vazamentos de óleo, poderiam ser fatais em águas profundas, prejudicando manguezais e áreas de pesca.
“Mesmo sem acidentes, o trabalho de sísmica e os resíduos de perfuração poderão afetar a fauna aquática, principalmente a estrutura do sedimento marinho. Comunidades pesqueiras e indígenas podem ser impactadas por restrições de uso, poluição e perda de recursos naturais”, alerta o especialista da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Assim como Fujii, Francisco também acredita que o Brasil deveria seguir outro caminho de fontes energéticas. “Novas áreas de petróleo só aumentam a dependência de combustíveis fósseis e dificultam a transição para energias limpas”, diz o pesquisador.
Mesmo diante de tantas ressalvas, a Petrobras prevê investimento de mais de US$ 3 bilhões na Margem Equatorial até 2028. O projeto da estatal é perfurar 16 poços na região.
“Em tempos de guerra, vários países e empresas podem abrir brechas para que o Brasil eleve o preço de seu petróleo com a descoberta de maior volume de óleo. Nesse cenário, podem haver ganhos de longo prazo em exportação ou em auto-suficiência energética”, analisa o especialista da UFPA.
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