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    Enterro de jovem esfaqueado no DF é marcado por pedido de justiça

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    “Paralisado” e “atônito” como todos os seus colegas do Colégio Militar de Brasília, Tiago, de 16 anos, saiu da sala em que era velado o corpo do amigo Isaac Moraes da mesma idade. O menino queria respirar um pouco em meio à tanta emoção. Os colegas soltaram balões brancos antes do enterro no Cemitério Campo da Esperança, na região central da capital federal. 

    Isaac foi assassinado com uma facada, na sexta-feira (17), depois de tentar recuperar o celular roubado por um grupo de adolescentes, entre as quadras 112/113, na Asa Sul, no Plano Piloto, em uma área considerada nobre da capital. O crime ocorreu perto do Parque batizado de Maria Claudia Del´Isola, jovem assassinada em dezembro de 2004.

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    O garoto, segundo a investigação e testemunhas, teria sido inicialmente abordado por um grupo de adolescentes que alegou precisar de conexão de wi-fi para fazer uma ligação. Isaac estava jogando vôlei com os colegas.    


    Brasília- 19/10/2025 - Em velório do estudante Isaac, em Brasília, colegas soltaram balões brancos. Foto: Luiz Claudio Ferreira/Agência Brasil

    Brasília- 19/10/2025 – Enterro do estudante Isaac Moraes foi marcado por emoção. Colegas soltaram balões brancos. Foto: Luiz Claudio Ferreira/Agência Brasil

    Os pais do adolescente morto, ambos da área de saúde, estavam consternados e sem condições de conceder entrevistas. O irmão de Isaac, o analista em tecnologia da informação, Edson Avelino, de 28 anos, falou em nome da família. 

    “Apesar da idade, Isaac era uma criança muito responsável e amada. Queria estudar na mesma área do que eu”, emocionou-se.

    Em resposta à reportagem da Agência Brasil, Edson disse que espera que seja feita justiça e que, mesmo o crime tendo sido cometido por adolescentes deve ter punição

    “Em um país em que se vota aos 16 anos de idade, entendo que a pessoa deve pagar pelos seus atos. Comecei a trabalhar com 14 anos com meu pai”. 

    Medo

    Vizinho da família de Isaac e pai de um adolescente amigo do menino, o auditor Ricardo Montalvão disse que os moradores da quadra estão tomados pela tristeza e medo. Ele disse que o filho também teve o celular furtado recentemente.

    Ele reclamou que o atendimento ao menino após a violência teria demorado 30 minutos.

    A reportagem da Agência Brasil buscou informações com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal sobre o tema, mas não conseguiu contato

    Outro colega de escola, Lucas, de 16, lembra que Isaac era muito divertido e era um dos craques no vôlei da turma do 2º ano.

    “Ele brincou comigo um dia antes. Não entendo como isso foi ocorrer. Não caiu a ficha ainda”.

    Investigação

    O delegado Rodrigo Larizzatti, da Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DCA), disse que sete adolescentes foram interrogados e três foram apreendidos suspeitos de envolvimento no caso de Isaac. Ele confirmou que os adolescentes se aproximaram fingindo precisar de conexão à internet.

    “É uma prática recorrente do grupo para iniciar os roubos. Três deles estavam diretamente envolvidos. Foram apreendidos. Durante a atuação, não demonstraram remorso. Apenas um deles perguntou se a vítima havia falecido”.

    De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um adolescente (pessoa entre 12 e 18 anos) que comete um ato infracional equiparado a crime grave, como latrocínio (roubo seguido de morte), pode ser submetido a medida de internação pelo prazo máximo de três anos. Após esse período, o adolescente deve ser liberado ou colocado em regime de semiliberdade ou liberdade assistida.

    A liberação obrigatória ocorre aos 21 anos, mesmo que o tempo total de três anos ainda não tenha sido cumprido.

    Tramita no Congresso um projeto que amplia de três para cinco ou até dez anos – nos casos mais graves – a internação de adolescentes que cometem atos infracionais. 

    Estudos apontam que o roubo é o ato infracional mais cometido por menores de 18 anos, seguido de tráfico e lesão corporal. Os homicídios representam menos de 1% dos casos.

    Em geral, os adolescentes que cometem atos infracionais estão abaixo da escolaridade esperada para a idade e muitos deles já nem mais frequentam a escola. Seja por terem sido expulsos da unidade escolar, seja por terem sido obrigados a entrar no mercado de trabalho para ajudar no sustento da família.  

    Especialistas sugerem reforço da rede de proteção social e garantia de direitos previstos no ECA para que adolescentes em situação vulnerabilidade não cometam atos infracionais.