Moradores da zona leste da capital paulista têm enfrentado uma rotina de transtornos e prejuízos com as obras de expansão da Linha 2-Verde do Metrô. Além das rachaduras em suas casas, eles relatam a ocorrência de saques em imóveis desocupados e até o surgimento repentino de escorpiões. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) recomendou a suspensão dos trabalhos, mas as obras seguiam normalmente na última semana.
A empresária e psicanalista Regina Braghittoni, de 50 anos, conta que, em 2022, tinha acabado de reformar a casa, na Vila Invernada, quando começaram as obras do Metrô na Rua Soldado Ocimar Guimarães da Silva. Apareceram, então, rachaduras, que persistem no local e têm aumentado com o tempo.
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Imóvel danificado na região das obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Imóvel danificado na região das obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Imóvel danificado na região das obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Imóvel danificado na região das obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Imóvel danificado na região das obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Estação Orfanato, nas obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Obras de expansão da Linha 2-Verde do metrô
William Cardoso/Metrópoles
Regina diz que acionou os responsáveis pela obra, que até foram ao local e colocaram placas de gesso para detectar movimentação nas rachaduras. O que ouviu deles não a tranquilizou. “Como assim a casa está se deslocando? Vão esperar cair para resolver? Então tenho um pouco de medo em relação a isso”, diz.
Casa está “se deslocando”
A empresária afirma que já pensou em contratar um engenheiro para fazer uma vistoria adequada, porque não está satisfeita com a posição dos responsáveis pela obra do metrô.
“O que eles falam é que não é perigoso, não tem risco de desabamento e que temos que esperar até uma terceira vistoria, porque a casa ainda está se deslocando. Na terceira vistoria, eles verificariam se fariam ou não uma reforma, mas não deram certeza de nada”, diz.
Outro problema atribuído às obras da Linha 2-Verde é a infestação de escorpiões. “A Vigilância Sanitária veio aqui e disse que não tem muito o que fazer enquanto não acabar a obra do metrô”, afirma. “Não só na minha casa, mas em dois vizinhos apareceram. É um escorpião extremamente venenoso. Uma picada pode levar a óbito”, diz.
Carro na rua, risco em casa
O vendedor ambulante Adilson Barbosa da Silva, de 45 anos, que mora na mesma rua que Regina, não consegue mais guardar o carro na garagem. As rachaduras da largura de um dedo em uma pilastra impedem a abertura do portão. Seu maior temor é de que tudo venha abaixo em algum momento, porque há outros pontos da casa com danos que apareceram após a passagem do tatuzão (máquina tuneladora gigante, usada pelo Metrô para a abertura de túneis nos trechos de expansão).
Até uma placa de gesso colocada para detectar o aumento nas fissuras já se partiu ao meio.
“Tenho criança, tem tudo. Eles têm que tomar uma providência. Vieram cinco engenheiros aqui para ver uma rachadura e disseram que iriam arrumar, mas a gente só fica nessa”, afirma.
“Falam que vai valorizar o imóvel, mas não quero saber. Quero reformar a minha casa”, diz Adilson.
Saques e medo
Na Rua Plácido de Castro, também na Vila Invernada, o tatuzão passou no fim de 2024 e ainda hoje os moradores aguardam pelo conserto de suas casas. A aposentada Marcia Regina Ribeiro Aderaldo, de 63 anos, conta que rachaduras voltaram a surgir em um corredor mesmo depois de um reparo.
Na cobertura do imóvel, as telhas não se aprumam mais e os responsáveis pela obra do metrô disseram que um drone tinha verificado que o problema não tinha relação com os trabalhos na rua. “O que deixa a gente muito triste é a falta de atenção que esse pessoal tem com os moradores”, diz. “Fora isso, tem o medo de que aconteça algo mais grave”, afirma.
Além das rachaduras, moradores também relatam a ocorrência de saques em imóveis que foram desocupados durante a obra. “A resposta dos responsáveis pelas obras foi um ‘sinto muito’. Estou em um ponto que nem acredito mais no que eles falam”, diz Márcia. “E o nosso lado psicológico, emocional, quem é que vai arrumar?”, questiona.
Promotoria
O promotor de Habitação e Urbanismo Moacir Tonani Junior fez uma série de considerações e recomendou, em 17 de setembro, a suspensão imediata das obras de expansão da Linha 2-Verde na região. Apesar disso, a construção seguia normalmente na última semana.
Entre as considerações, o MPSP afirma que moradores foram retirados de suas casas “de forma sorrateira, açodada e por tempo indeterminado, e, posteriormente levados a residirem em quartos de hotéis que sequer conhecem as acomodações e a localização, tendo assim alterarem por completo seus ‘modus vivendi’”.
O promotor também apontou que os imóveis têm ficado abandonados e sofrem depreciação por se tornarem refúgio de criminosos e usuários de drogas. Também cita que proprietários estão sendo praticamente obrigados a aceitarem, a título de reparação de dano, valores abaixo do mercado.
O que diz o Metrô
O Metrô afirma que está prestando todos os esclarecimentos ao MPSP e diz que a obra da Linha 2-Verde emprega 6 mil pessoas e beneficiará 400 mil usuários por dia.
“Nenhum imóvel impactado ficou ou ficará sem atendimento. Quando há danos, são feitos reparos ou pagos valores de indenização”, diz.
O Metrô também afirma que oferece suporte, como aluguel de moradias, hotéis, garagens, hospedagem de pets e coworking.
“As casas próximas às obras são monitoradas constantemente com vistorias técnicas e instrumentos especializados. Sobre os imóveis das ruas citadas, não há risco de desabamento e os reparos já começaram a ser feitos”, diz.
Sobre escorpiões, a companhia diz que não há registro nos canteiros nem relação direta com a obra, mas que reforçará o controle de pragas de forma preventiva.
“Caso seja identificada alguma situação pontual, moradores da área de influência das obras podem procurar a central de atendimento mais próxima”, afirma, citando os endereços na região.
Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), disse que enviará uma equipe até o local mencionado para verificar a ocorrência de escorpiões e tomar as providências necessárias.