Imagens inéditas das câmeras corporais dos policiais militares envolvidos na morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cárdenas Acosta indicam que os PMs conheciam a vítima, que morava a algumas quadras do local em que foi baleada, em 20 de novembro do ano passado. Guilherme Augusto Macedo, autor do disparo à queima-roupa contra o jovem, chegou a indicar a colegas que Marco Aurélio supostamente frequentaria uma comunidade próxima, na rua Mário Cardim.
4 imagens
Fechar modal.
1 de 4
Julio, pai de Marco Aurélio, conversa com bombeiro no Hospital Ipiranga
2 de 4
PMs aguardam em corredor
3 de 4
Namorada de Marco Aurélio chora em frente a hotel em que ocorreu disparo
4 de 4
Guilherme Macedo, após balear Marco Aurélio Cárdenas Acosta
Em outro momento, já dentro do hospital, enquanto a vítima estava deitada em uma maca, agonizando de dor, outro policial, não identificado, disse saber que se tratava de um estudante de medicina e disse que o jovem era “folgado”.
Com base nas novas filmagens, os advogados da família do estudante fizeram um novo pedido de prisão contra os policiais militares envolvidos. Para os pais de Marco Aurélio, os diálogos indicam que a ação violenta não teria sido motivada por um tapa dado no retrovisor, como afirmaram os PMs, mas sim “por um viés discriminatório”.
Assista:
Marco Aurélio foi morto após dar um tapa no retrovisor da viatura em que estavam os PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Prado. Desarmado e sem camisa, ele correu para dentro do hotel Flor da Vila Mariana, onde estava hospedado com a namorada, sendo perseguido pelos policiais.
Encurralado na frente do portão que dava acesso às escadas do estabelecimento, ele foi alvo de um chute no abdômen desferido por Bruno Prado e conseguiu segurar a perna do PM, que caiu no chão. Imediatamente, Guilherme Macedo atirou.
Leia também
-
Em um ano, PM matou 85 desarmados e 47 com tiros pelas costas em SP
-
Pais de estudante de medicina morto pela PM vão à ONU contra governo
-
Lewandowski se encontra com pais de estudante de medicina morto por PM
-
Vídeo: câmeras corporais de PMs revelam morte de estudante de medicina
As novas imagens das bodycams mostram que, minutos após o ocorrido, os policiais mentiram aos colegas sobre o momento do disparo. Guilherme Macedo afirma que, após derrubar Bruno Prado, o jovem “veio para cima”, o que não aconteceu.
“Veio para cima, ele derrubou o Prado na escada. Aí eu tentei fazer a detenção dele de outra maneira, ele veio para cima de novo. Foi a hora que eu efetuei o disparo nele”, disse.
As gravações foram obtidas pelos pais de Marco Aurélio, após uma reunião na Corregedoria da Polícia Militar. Desde a madrugada do homicídio, os médicos Julio Cesar Acosta Navarro e Silvia Monica Cardenas lutam por justiça pelo filho. Em junho, o casal foi até a Comissão de Direitos Humanos da ONU para cobrar providências em relação à investigação.
“Tem que sofrer mesmo”
As novas imagens das bodycams também mostram o atendimento inicial dado a Marco Aurélio por médicos no Hospital Ipiranga. A unidade estava sem tomografia, o que teria feito com que o paciente fosse submetido à cirurgia mesmo sem que a equipe soubesse onde estava o projétil. Após acompanhar a vítima até um centro cirúrgico, um bombeiro comenta rindo: “Tem que sofrer mesmo”.
Assista:
12 imagens
Fechar modal.
1 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos
Reprodução/Redes Sociais2 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, era conhecido como “Bilau”
3 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, era conhecido como “Bilau”
4 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, era conhecido como “Bilau”
5 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, era conhecido como “Bilau”
Reprodução/Redes Sociais6 de 12
PM mata estudante de medicina durante abordagem em SP
Reprodução7 de 12
PM mata estudante de medicina durante abordagem em SP
Reprodução8 de 12
Segundo familiares, ele jogava futebol
Arquivo Pessoal9 de 12
Marco Aurélio Cardenas Acosta estudava medicina
Arquivo Pessoal10 de 12
O estudante era universitário da Anhembi Morumbi
Arquivo Pessoal11 de 12
Marco Aurélio tinha 22 anos
Arquivo Pessoal12 de 12
Marco Aurélio e seu pai, Julio
Arquivo Pessoal
“Preconceito”
No novo pedido de prisão, os advogados afirmam que as imagens podem indicar uma visão preconceituosa dos PMs sobre Marco Aurélio, já que a Cardim, mencionada por Guilherme Macedo, é uma comunidade da região.
7 imagens
Fechar modal.
1 de 7
Estudante é encurralado por PMs
Reprodução2 de 7
Estudante é encurralado por PMs
Reprodução3 de 7
PM tenta conter estudante
Reprodução4 de 7
Estudante segura perna de policial
Reprodução5 de 7
Estudante segura perna de policial
Reprodução6 de 7
Estudante segura perna de policial
Reprodução7 de 7
Estudante empurra policial, que cai no chão
Reprodução
“As novas imagens juntadas aos autos revelam dado até então desconhecido e agora comprovado, os acusados conheciam Marco Aurélio. Em diversos trechos, em falas de diferentes policiais, alguns, dentre eles o réu Guilherme, menciona ‘esse moleque é da Cardim’”, diz a defesa.
“Tal afirmação não apenas desmonta a versão de que a abordagem teria sido neutra ou motivada pelo empurrão no retrovisor, como demonstra o viés discriminatório e a motivação seletiva que impulsionaram a conduta dos agentes, que decidiram por observar e acompanhar um jovem, sem camisa que aparentava ser morador de favela”, acrescenta.