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    EUA: paralisação impede divulgação do “payroll” e deixa Fed no escuro

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    No terceiro dia da paralisação de diversos setores da máquina governamental dos Estados Unidos – o chamado “shutdown” –, não serão conhecidos os dados oficiais de emprego do país, o “payroll”.

    O “shutdown” paralisa parcialmente o governo norte-americano desde a última quarta-feira (1º/10). O país vive seu terceiro dia de paralisação após o Congresso não chegar a um acordo sobre o financiamento de serviços públicos diante do impasse entre republicanos e democratas.

    Entenda

    O colapso nas finanças significa que funções governamentais cruciais – desde serviços de empréstimo para pequenas empresas a parques nacionais e treinamento profissional para veteranos – serão congeladas até que os legisladores aprovem mais verbas.

    O congelamento ocorreu em razão de os democratas do Senado terem bloqueado um pacote temporário de financiamento criado para dar aos legisladores mais tempo para negociar projetos de lei de gastos para o ano inteiro, o que a Câmara controlada pelo Partido Republicano já havia aprovado.

    É a primeira paralisação governamental em quase sete anos. A última ocorreu durante o primeiro mandato presidencial de Trump (2017-2021), quando as funções governamentais foram suspensas durante 35 dias, em dezembro de 2018.

    Sem “payroll”

    A incerteza nos EUA ganhou corpo à medida que o mercado processou que a paralisação de áreas da administração afetaria a divulgação de dados econômicos importantes. Esse é o caso do “payroll”, que trata do mercado de trabalho, cuja veiculação dos dados era aguardada para esta sexta-feira (3/10), mas não ocorrerá.

    O “payroll” é um dos dados mais relevantes sobre emprego nos EUA. Ele é usado pelos agentes econômicos para calibrar as expectativas em relação a novos cortes de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). A cada divulgação dos números, os mercados globais de câmbio e ações reagem de maneira imediata.

    A economia dos EUA registrou a criação de 22 mil novas vagas de emprego fora do setor agrícola em agosto, de acordo com dados do Departamento do Trabalho do governo norte-americano.

    Agosto foi o quarto mês consecutivo com resultados inferiores a 100 mil empregos nos EUA. É o ritmo mais fraco do mercado de trabalho norte-americano desde a pandemia de Covid-19.

    Fed “no escuro”?

    A divulgação dos dados do relatório de emprego nos EUA era esperada com expectativa ainda maior, em um contexto no qual dirigentes do Fed vinham indicando a perda de fôlego do mercado de trabalho norte-americano como um dos pontos centrais para orientar a decisão sobre a taxa básica de juros.

    A próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed está marcada para o dia 29 de outubro. Sem os dados oficiais de emprego, em função da paralisação da máquina pública, é mais difícil para a autoridade monetária diagnosticar se a atividade econômica está arrefecendo ou não.

    Atualmente, a taxa de juros nos EUA está situada no intervalo entre 4% e 4,25% ao ano. Na última reunião, houve um corte de 0,25 ponto percentual e, até o fim do ano, analistas do mercado esperam mais duas quedas no mesmo patamar.

    Nessa quinta-feira (2/10), o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou sobre os possíveis impactos negativos do “shutdown” no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

    “Essa não é a maneira de se discutir, paralisando o governo, reduzindo o PIB”, afirmou Bessent em entrevista à CNBC. “Poderemos ter impacto no PIB, impacto no crescimento e impacto na América trabalhadora”, completou.

    “Os democratas e o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, estão criando desculpas para não alcançarmos um acordo. Não é irracional que o presidente [Donald] Trump use todas as alavancas nos gastos”, alertou o secretário do Tesouro.

    No segundo trimestre deste ano, o PIB dos EUA avançou 3,8%, na comparação com o mesmo período do ano passado, após um recuo de 0,6% nos três primeiros meses de 2025.

    A maioria dos analistas do mercado espera que haja uma desaceleração da maior economia do mundo nos próximos meses. As projeções indicam uma alta de 2,5% no PIB norte-americano no terceiro trimestre.

    Os EUA registraram o fechamento de 32 mil vagas de emprego no setor privado em setembro, de acordo com um relatório divulgado nessa quarta-feira (1º/10) pelo ADP Research Institute, em parceria com o Stanford Digital Economy Lab.

    O resultado do mês passado veio muito abaixo das estimativas do mercado. O consenso Refinitiv projetava a criação de 52 mil vagas. Em agosto, os EUA fecharam 3 mil vagas no setor privado.