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    Ex-CFO da Ambipar e VP do Deutsche Bank são amigos desde tempos do BofA

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    A operação financeira que desencadeou a crise financeira da Ambipar teria sido celebrada entre dois amigos: Henrique Ramim, vice-presidente da área de Investiment Banking do Deutsche Bank, e João Arruda, ex-CFO da Ambipar. Os dois teriam se tornado próximos no período em que trabalharam para o Bank of America (BofA).

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    Arruda deixou o banco norte-americano, no qual trabalhou por 14 anos, em agosto do ano passado. Ramim saiu um mês depois, em setembro de 2024, após atuar no BofA por cerca de três anos. Arruda foi para a Ambipar e o amigo, coincidentemente, para o Deutsche. As informações constam nos perfis dos dois no LinkedIn.

    No BofA, Arruda atuou para que a Ambipar contratasse um hedge que protegeria a empresa de oscilações no câmbio. O contrato, então, foi transferido em fevereiro deste ano para o Deutsche Bank e, em agosto, Arruda assinou um aditivo.

    O aditivo introduziu o chamado PIK Bonds (Payment-in-Kind), instrumento financeiro que alteraria o perfil de risco da Ambipar – e que aumentaria consideravelmente a vulnerabilidade da multinacional brasileira.

    A mudança exigiu depósitos de valores crescentes para fazer frente ao risco. O instrumento, que deveria proteger o caixa da companhia, teria passado, então, a drená-lo rapidamente.

    A operação causou problemas desde o início, já que a mudança do BofA para o Deutsche custou à Ambipar uma multa de R$ 20 milhões, além de um prêmio de R$ 60 milhões para o banco alemão Com o perfil de risco agravado, outros instrumentos financeiros da Ambipar (debêntures, ações – na Nyse e na B3 – e outros) entraram em declínio.

    No último dia 18 de setembro, Arruda convocou uma reunião em que explicaria aos credores estrangeiros as razões para a assinatura do aditivo ao contrato com o Deutsche. No dia seguinte, antes da data do encontro, o então CFO comunicou por e-mail que estava deixando o cargo na Ambipar. A saída de Arruda pegou todos de surpresa.

    Os credores estrangeiros ficaram sem resposta para as dúvidas sobre a execução das garantias junto ao Deutsche – e sobre o risco crescente de que obrigações financeiras viessem a não ser cumpridas. A saída súbita de Arruda amplificou ainda mais os temores.

    Em fevereiro de 2024, a Ambipar lançou US$ 750 milhões em títulos sustentáveis internacionais – os seus primeiros green bonds. Teria sido essa emissão que o hedge de Arruda pretendeu proteger – e que colapsou quando ele fez o aditivo com PIK Bonds.

    Recuperação judicial

    O Grupo Ambipar apresentou, nessa segunda-feira (20/10), à 3ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro pedido de recuperação judicial.

    A medida, informa a empresa, busca reestruturar dívidas, de cerca de R$ 10,5 bilhões, proteger as operações e manter mais de 23 mil empregos diretos, além da continuidade dos serviços prestados.

    A decisão, conforme informou a Ambipar, foi motivada por eventos que impactaram negativamente a saúde financeira do grupo, incluindo, justamente, aditivos em contratos de derivativos com o Deutsche Bank.