A inovação e a inclusão caminham lado a lado no Festival Curicaca, que reúne projetos capazes de transformar vidas por meio da tecnologia. Entre as iniciativas apresentadas, um dos destaques foi o Concurso de Inovação Bengalas Inteligentes, voltado ao desenvolvimento de soluções que ampliem a autonomia de pessoas com deficiência visual.
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As bengalas sempre foram símbolos de autonomia e independência para auxiliarem pessoas com problemas de mobilidade, além de cegas ou com baixa visão. Agora, surgem as chamadas bengalas inteligentes, que combinam sensores e inteligência artificial.
Essa inovação não apenas amplia o acesso à mobilidade urbana, mas também reforça a inclusão e a independência de milhares de pessoas ao redor do mundo. Isso porque, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual, sendo que meio milhão é cego.
Concurso de Inovação Bengalas Inteligentes
Nesse contexto, nesta quarta-feira (8/10), durante o segundo dia do Festival Curicaca, que ocorre até este sábado (11/10), houve o Concurso de Inovação Bengalas Inteligentes.
Lançado em abril de 2025 em Curitiba, no Paraná, o concurso é uma iniciativa inédita da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e do Governo do Paraná, por meio da Secretaria da Inovação e Inteligência Artificial e da Secretaria do Desenvolvimento Social e Família.
Na ocasião, foram apresentadas as 10 melhores soluções finalistas da primeira etapa. Os vencedores serão conhecidos em março de 2026, no Paraná.
Cada projeto receberá o prêmio de R$ 90 mil cada, totalizando um investimento de R$ 900 mil. Caso esses projetos demonstrem evolução nos próximos 90 dias, cada um deles poderá receber um aporte adicional de R$ 90 mil.
Para Roberto Leite, advogado da Secretaria de Desenvolvimento Social e Família do Paraná, que estava acompanhado do cão-guia Rock, a bengala de rastreamento representa muito mais do que um instrumento de locomoção: é símbolo de independência, segurança e conforto. “É ela que nos permite ir e vir com liberdade”, afirmou.
Leite destacou que, apesar dos avanços tecnológicos em diversas áreas, a bengala tradicional permaneceu praticamente inalterada por décadas. “Estamos no século 21, uma era de produtos inovadores e acessíveis. É hora de modernizar também os instrumentos que garantem mobilidade às pessoas cegas ou com baixa visão.”
Com o apoio de novas tecnologias, a bengala passa a identificar obstáculos além da altura da cintura, ampliando a percepção do ambiente e permitindo maior segurança na circulação por espaços públicos e coletivos.
“Estamos superando uma fase e entrando em outra: a de perceber o mundo com mais precisão e liberdade”, defendeu Roberto Leite.

Os finalistas de cem inscritos no concurso foram:
- Amaury Dudcoschi Junior
- Caio de Alcantara Santos
- Primer Analytics Sistemas Inteligentes
- Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec)
- V. A. Barbosa LTDA
- Neosenti Soluções Tecnológicas Inova Simples (I.S.)
- Tingui Lab Inova Simples (I.S.)
- Duna – Projetos e Fabricação LTDA
- Trajeto Livre Projetos Eletrônicos LTDA
- Desenharia Industrial Design
Inovação pelos estandes
O professor Cristiano Ferreira, do curso de Computação do Instituto Federal do Acre (IFB/AC), câmpus Cruzeiro do Sul, destacou a participação da instituição com quatro projetos inovadores apresentados no evento.
Um dos destaques é o projeto voltado à fabricação digital e à robótica educacional em 3D, que também contempla o universo lúdico, geek e nerd, com jogos de tabuleiro em 2D, como xadrez e mapas em formato de quebra-cabeça, pensados para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem.
“Temos também outro projeto que é um sistema automatizado de irrigação, capaz de monitorar a umidade do solo e acionar a irrigação de forma automática, com o acompanhamento dos dados em tempo real por meio de um aplicativo”, frisou.

Entre as iniciativas tecnológicas no estande, um robô social com inteligência artificial, desenvolvido para interagir em quizzes sobre meio ambiente — tecnologia que, segundo Ferreira, pode ser adaptada para diversas áreas do conhecimento — atraía a atenção de quem passava.

Tecnologia inclusiva
O orientador Thalhes Mendes, do Instituto Federal de Brasília (IFB), câmpus Ceilândia, apresentou um projeto que promete revolucionar a mobilidade de pessoas com deficiência visual.
A iniciativa, desenvolvida pela estudante Ana Júlia, consiste em um óculos inteligente que atua como um segundo auxílio à bengala tradicional, ajudando o usuário a identificar obstáculos no caminho.
O dispositivo utiliza um sensor a laser capaz de detectar objetos próximos.
Quando o sensor identifica um obstáculo, o sistema emite um alerta sonoro ou vibratório avisando o usuário sobre a presença de algo à frente e permitindo que ele corrija a direção com segurança.

Tecnologia para crianças diabéticas
A estudante Talita Kellen, do curso de Biologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), apresentou um projeto de iniciação científica sobre o diabetes tipo 1, inspirado na própria vivência com a doença.
“Sou diabética desde os 6 anos e a ideia surgiu da forma como me explicaram sobre o diagnóstico na infância. Percebi que uma comunicação mais lúdica poderia ajudar outras crianças a entenderem melhor o que é o diabetes”, contou.
O projeto começou com a criação de um livro educativo desenvolvido pelo IFRJ, que explica o funcionamento do corpo e o controle do diabetes de maneira didática e interativa, facilitando a compreensão do tema por crianças e adolescentes.
A iniciativa se fortaleceu com uma parceria entre o IFRJ e o Instituto Federal de Brasília (IFB/DF). Estudantes do curso de Sistemas para Internet desenvolveram o Glicogotas App, um aplicativo que digitaliza e adapta o conteúdo do livro para o formato interativo, tornando-o mais acessível e atrativo.
O projeto já ganhou destaque em congressos internacionais, reforçando o potencial educativo e social.
De acordo com a professora Sharon Landgraf, do curso de Química do IFB/DF – câmpus Brasília, o aplicativo está sendo testado em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal.
“Estamos aplicando o Glicogotas App com crianças diabéticas atendidas nos postos de saúde. É muito gratificante ver a tecnologia sendo usada para promover conhecimento e qualidade de vida”, afirmou.

Economia criativa
O palco da Finep recebeu um debate sobre economia criativa com a participação de Erick Clepton, influenciador digital; Jota Rodrigues, coordenador de comunicação do Capital Moto Week; Alexandre Kieling, coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Inovação em Comunicação e Economia Criativa da UCB; e Cândida Beatriz, gerente de Desenvolvimento Institucional da Superintendência de Cultura do Sesi.
“Quando pensamos em economia criativa, pensamos em valor simbólico. Durante quinze anos visitei centros de pesquisa em regiões de fronteira, buscando identificar oportunidades para o Brasil. Em muitas áreas temos lacunas quase intransponíveis, mas na economia criativa não”, afirmou Cândida Beatriz.
Segundo ela, as ocupações criativas vêm crescendo em média 3% ao ano e os trabalhadores dessas áreas têm maior escolaridade. Ainda conforme a gerente, uma em cada quatro novas vagas criadas nos próximos anos será nesse segmento.
O impacto econômico também se reflete em grandes eventos. Jota Rodrigues, coordenador de comunicação do Capital Moto Week, considerado o maior festival de motociclismo da América Latina, apresentou números do evento. “Em 2025, recebemos 856 mil pessoas em dez dias, com 120 shows. Ao longo dos anos, queremos furar mais bolhas e ampliar nosso alcance”, afirmou.
Para Cândida, esses dados reforçam a força do setor. “A atuação nacional do Sesi em 2024 mobilizou 73 empresas para a produção de atividades culturais, o que demonstra o potencial econômico e social da economia criativa no país.”

