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Fraudador do CNU usou ChatGPT para escrever recursos da prova

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Fraudador do CNU usou ChatGPT para escrever recursos da prova

A ironia atingiu o auge na investigação da Polícia Federal (PF) sobre a maior fraude em concursos públicos da história recente do país. O auditor fiscal “aprovado” Valmir Limeira de Souza, de 53 anos, não sabia sequer como escrever um recurso de prova.

Quem fazia tudo por ele era o irmão e mentor da quadrilha, Wanderlan Limeira de Sousa, que utilizava o ChatGPT, a inteligência artificial da OpenAI, para redigir contestações de questões da prova que ele próprio havia fraudado.

As mensagens recuperadas do celular de Valmir, apreendido durante a Operação Escolha Errada, apontaram que o candidato não compreendia nem o motivo de apresentar recurso. O pedido não apontava falhas da banca ou erros de correção, o objetivo era apenas “aumentar a nota”.

“Causa estranheza uma pessoa ser aprovada no concurso para auditor fiscal do trabalho e não saber, nem sequer, fazer um recurso de questões desse próprio certame em que foi aprovado”, destacou a PF, que analisou o conteúdo do aparelho.

Gabarito
Valmir foi aprovado com gabarito idêntico ao de outros três candidatos: o próprio Wanderlan, Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior e Larissa de Oliveira Neves, sobrinha de ambos.

A perícia da PF calculou a probabilidade de coincidência casual em 1,5 × 10⁻¹⁴⁶, equivalente a ganhar na Mega-Sena 18 vezes seguidas.

As mensagens mostram que o gabarito era enviado por Wanderlan antes da prova. Valmir apenas copiava as respostas, sem domínio técnico algum.

A fraude o colocou entre os aprovados para o cargo de auditor fiscal do trabalho, um dos mais disputados do serviço público, com salário inicial de R$ 22,9 mil.

O recurso
Incapaz de redigir um texto técnico, Valmir pediu ajuda ao irmão. Wanderlan então utilizou o ChatGPT para gerar textos de recursos prontos, reescrevendo modelos antigos e enviando-os pelo celular.

“Wanderan, utilizando uma Inteligência Artificial (IA), solicita que seja reescrito algum texto de recurso que ele anteriormente tenha feito e o envia para Valmir, dizendo para ele utilizá-lo”, descreve o relatório da PF.

Valmir copiava e colava os textos, sem saber sequer o conteúdo que estava enviando à banca. Apesar da “aprovação” no CNU, Valmir foi reprovado no curso de formação, etapa obrigatória e presencial do certame.

Dinastia da fraude

A fraude virou negócio de família. Valmir é irmão de Wanderlan e tio de Larissa, outra candidata beneficiada pelo esquema. O grupo, originário de Patos (PB), montou uma rede de manipulação de concursos.

Wanderlan, ex-policial militar, já havia sido condenado por homicídio e transformou o crime em empreendimento lucrativo, cobrando até R$ 400 mil por aprovação.

Ele controlava cada etapa: inscrições, envio de gabaritos, instruções de conduta e, agora se sabe, até os textos dos recursos, escritos por uma ferramenta de IA.

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