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Gabaritos idênticos no CNU: PF diz que é como ganhar 18 Mega-Senas

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Gabaritos idênticos no CNU: PF diz que é como ganhar 18 Mega-Senas

A probabilidade de quatro candidatos marcarem as mesmas respostas, inclusive os mesmos erros, em uma prova com 70 questões é tão improvável que desafia a matemática. Segundo a Polícia Federal (PF), a chance de isso acontecer por acaso é de 1,5 × 10⁻¹⁴⁶, o equivalente a ganhar na Mega-Sena 18 vezes seguidas.

Mas foi exatamente esse o padrão encontrado nos gabaritos de Wanderlan Limeira de Sousa, Valmir Limeira de Souza, Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior e Larissa de Oliveira Neves, todos aprovados no Concurso Nacional Unificado (CNU) para o cargo de auditor fiscal do trabalho.

A coincidência é, matematicamente, impossível. E para a Polícia Federal trata-se de crime organizado. A análise da PF aponta que Wanderlan Limeira, ex-policial militar da Paraíba e apontado como líder da quadrilha, teve acesso antecipado às respostas da prova.

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Ele repassava o gabarito a familiares e comparsas, que entravam na sala apenas para preencher as alternativas indicadas.

O esquema foi revelado na Operação Escolha Errada, deflagrada neste ano, e expôs o funcionamento interno de um dos maiores escândalos de fraude em concursos públicos da história recente.

De acordo com o relatório policial, as 70 questões da prova foram respondidas de forma idêntica por quatro candidatos diferentes.

No turno da manhã, as 20 questões objetivas coincidiram integralmente, inclusive os erros. No turno da tarde, 48 das 50 questões foram idênticas entre os quatro. Nas duas restantes, apenas uma candidata, Larissa, marcou respostas diferentes.

A similaridade estatística foi considerada “absolutamente incompatível com qualquer evento aleatório”.

“A probabilidade de que quatro candidatos tenham apresentado o mesmo padrão de acertos e erros por coincidência é de 1,5 × 10⁻¹⁴⁶, ou seja, praticamente zero”, descreve a PF.

Negócio em família

A investigação aponta que o esquema de fraude foi coordenado pela família Limeira, de Patos, na Paraíba. Wanderlan, o líder, vendia o gabarito antecipado a candidatos dispostos a pagar até R$ 400 mil pela aprovação.

O grupo providenciava inscrições, instruções, orientações sobre o comportamento no dia da prova e até “consultoria pós-prova”, como o envio de recursos prontos redigidos por inteligência artificial.

O irmão de Wanderlan, Valmir, foi um dos beneficiados. Ele conseguiu uma das vagas mais cobiçadas do CNU, mesmo sem possuir formação ou experiência compatível com o cargo.

As mensagens encontradas no celular de Valmir apontam que ele recebeu o gabarito antes da prova, copiou as respostas e, dias depois, pediu ao irmão ajuda para entrar com recursos que nem sabia justificar.

“Causa estranheza uma pessoa ser aprovada no concurso para auditor fiscal do trabalho e não saber, nem sequer, fazer um recurso de questões desse próprio certame”, escreveu a PF no relatório.

Apesar da “aprovação” no CNU, Valmir e Wanderlan foram eliminados no curso de formação, em Brasília.

Com as provas periciais e as mensagens recuperadas, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia por fraude em certame público, organização criminosa e lavagem de dinheiro. As penas somadas podem ultrapassar 28 anos de prisão.

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