De Lula, os que se lhe opõem seguirão dizendo sem descanso que ele montou um governo de esquerda, embora tenha sido eleito com uma parcela dos votos da direita não bolsonarista. Não fosse a direita que se apresenta como civilizada, Bolsonaro, que perdeu por pouco, teria sido reeleito. Pois é. Lula, esse ingrato.
Convenhamos: não foi bem assim.
Dos 37 ministros iniciais de Lula, 10 eram do PT; 10 sem partido; 3 do MDB; 3 do PSD; 3 do PSB; 2 do PDT; 2 do União Brasil; 1 do Republicanos; 1 da Rede; 1 do PSOL e 1 do PC do B. Mais um ministério foi criado desde então: o do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Ora, dirão os insatisfeitos: os ministérios mais importantes foram destinados ao PT. Bem, queriam o quê? Lula fundou o PT. O partido sempre o apoiou sem claudicar. Nos últimos dois anos, não foi por falta de convite que partidos do centro e da direita se recusaram a fazer parte do governo. Foi por falta de vontade.
É mais do que razoável, a menos de um ano da eleição, que Lula queira se cercar de auxiliares dispostos de fato a apoiá-lo em sua tentativa de obter o quarto mandato. Daí a substituição dos que o apoiam, mas não lhe trazem votos. Daí a nomeação de Guilherme Boulos (PSOL-SP) para a Secretaria-Geral da Presidência.
Boulos é filho dos movimentos sociais e por eles se elegeu deputado federal. Amparado por eles, disputou a prefeitura de São Paulo, o governo de São Paulo, e o Senado. Lula deu a Boulos a missão de pôr o governo nas ruas, aproximá-lo de quem está distante. Nesse meio, o PT já foi mais forte no passado.
O governo inclina-se para a esquerda com a entrada de Boulos nos seus quadros? Inclina-se. Mas isso corresponde ao que o próprio Lula gosta de repetir em conversas reservadas: eleição se ganha pela esquerda; governo se toca pela direita, como o violino. Foi o que ele aprendeu desde que se elegeu pela primeira vez em 2002.
Em sua visita a Indonésia, a caminho da Malásia onde deverá reunir-se com Donald Trump, Lula anunciou que será candidato a presidente no próximo ano. A novidade é que desta vez não condicionou a candidatura ao seu estado de saúde. Ninguém melhor do que ele para defender seu governo, ganhe ou perca.
Está mais para ganhar se a eleição fosse hoje, só que não é.
