MAIS

    Gêmeas do crime brigaram por dinheiro e chegaram a se bloquear no zap

    Por

    A irmãs gêmeas Ana Paula Veloso Fernandes e Roberta Cristina Veloso Fernandes são alvo de inquérito que apura pelo menos quatro homicídios por envenenamento, entre eles, o de Neil Corrêa da Silva, de 65 anos, morto após ingerir uma feijoada supostamente temperada com veneno para matar rato. Vídeo feito pela Polícia Civil, durante interrogatório de Ana, indica que as irmãs chegaram a se bloquear no WhatsApp após conflito sobre divisão de valores, supostamente pagos após a morte da vítima.

    O episódio ocorreu no contexto da apuração sobre a morte, ocorrida em abril, no Rio de Janeiro.

    “Estou com o valor em espécie, peguei”, teria escrito Ana para Roberta, que teria ficado chateada e respondido: “Michele [filha de Neil] te deu o dinheiro e você está guardando só pra você”.

    Após o desentendimento, ambas se bloquearam, por um tempo, retomando o contato tempos depois. Ambas, atualmente, estão presas, da mesma forma que a filha de Neil. O advogado das gêmeas foi procurado pelo Metrópoles, mas não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

    Leia também

    6 imagensEla usava “TCC” como código para planejar homicídiosIrmãs Ana Paula e Roberta Veloso são apontadas como cúmplicesInvestigação aponta que Ana testou veneno em cachorros antes dos crimesSerial killer de Guarulhos relatou com frieza a morte de uma das vítimasFeijoada envenenada matou Neil, pai da contratante do crime.Fechar modal.1 de 6

    Ana Paula Veloso é acusada de envenenar quatro pessoas em SP e RJ.

    Reprodução2 de 6

    Ela usava “TCC” como código para planejar homicídios

    Reprodução3 de 6

    Irmãs Ana Paula e Roberta Veloso são apontadas como cúmplices

    Reprodução4 de 6

    Investigação aponta que Ana testou veneno em cachorros antes dos crimes

    Reprodução5 de 6

    Serial killer de Guarulhos relatou com frieza a morte de uma das vítimas

    Reprodução6 de 6

    Feijoada envenenada matou Neil, pai da contratante do crime.

    Reprodução

    O caso Neil e o modelo de “execução por encomenda”

    Segundo investigações do 1º Distrito Policial de Guarulhos, na Grande São Paulo, Ana Paula viajou até Duque de Caxias (RJ) para executar o crime contra Neil, a pedido de sua filha, Michele Paiva da Silva. Em áudio enviado à irmã Roberta, Ana Paula descreve como tentou misturar o veneno na feijoada, explicando que Neil teria ingerido apenas duas colheres antes de se deitar, alegando mal-estar. Em seguida, definhou até a morte.

    As investigações sustentam que esse não foi um caso isolado. Ana Paula é acusada de atuar em esquema de assassinatos por “encomenda”, utilizando o código TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) para se referir aos crimes e estipulando um valor mínimo por execução.

    Roberta aparece na apuração policial como consultora financeira e operacional da dupla.  Ela orientava sobre o uso de dinheiro em espécie, definia valores mínimos — cerca de R$ 4 mil por “serviço” — e advertia a irmã sobre segurança na comunicação, orientando para falar sobre “coisas mais importantes” por meio de “ligação”. Com isso, acreditava que evitaria deixar rastros digitais.

    As quatro vítimas

    • Marcelo Hari Fonseca — encontrado morto em 31 de janeiro, em Guarulhos. Segundo a denúncia, Ana Paula teria envenenado alimentos após desentendimentos para assumir o controle do imóvel onde morava.
    • Maria Aparecida Rodrigues — entre 10 e 11 de abril, em Guarulhos. A vítima era amiga de Ana Paula; o crime teria sido cometido para incriminar o ex-amante de Ana.
    • Neil Corrêa da Silva — morto em 26 de abril, no Rio de Janeiro, por feijoada supostamente envenenada. Investigação aponta o homicídio teria sido encomendado por por Michele Paiva da Silva, filha da vítima, também presa.
    • Hayder Mhazres — morto em 23 de maio, em São Paulo. Segundo denúncia, Ana Paula teria oferecido bebida adulterada após encontro via app, motivada por vantagem financeira e falsa gravidez, alegada para reivindicar parte de bens da vítima.

    As investigações também indicam que Roberta teria participado indiretamente na ocultação de provas. Em depoimento, admitiu ter queimado um sofá, no qual o corpo de Marcelo foi encontrado, para eliminar vestígios de decomposição.

    Com base nas conexões instrumentais entre os casos e na robustez das evidências digitais, obtidas após a quebra do sigilo telemático de Ana Paula, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo determinou que todos os processos fossem centralizados em Guarulhos.

    Entraves e próximos passos da investigação

    Ana Paula está presa preventivamente desde 4 de setembro. Em decisão judicial, ela foi qualificada como “verdadeira serial killer” em virtude da reiteração, planejamento e uso de dissimulação para realizar os crimes.

    Roberta Cristina Veloso Fernandes também está presa e responde a inquérito para aprofundar sua individualização no esquema. Ela prestaria depoimento no 1º DP de Guarulhos, na tarde dessa terça-feira (14/10). Há cautela por parte da polícia em responsabilizá-la diretamente, considerando que parte da atuação dela é atribuída à “consultoria” da irmã.

    Os investigadores preveem diligências como exumações, perícias toxicológicas, apreensão de dispositivos de comunicação e análise de movimentações financeiras para traçar eventuais cúmplices ou supostas ramificações da rede de assassinatos.