São Bernardo do Campo (SP) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, neste sábado (18/10), a criação de uma “doutrina latino-americana” nas universidades para que “nenhum presidente ouse falar grosso com o Brasil”.
A fala acontece no momento em que as negociações entre os governos brasileiro e norte-americano para flexibilizar o tarifaço imposto por Donald Trump começam a avançar.
“A gente quer formar uma doutrina latino-americana, com professor latino-americano, para que a gente possa sonhar que esse continente um dia vai ser independente. Que nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil, porque a gente não vai aceitar. Não é uma questão de coragem, é uma questão de dignidade, de caráter”, disse o presidente petista.
A declaração foi dada durante um encontro com alunos da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP), programa que oferece apoio financeiro a cursinhos pré-vestibulares e seus estudantes.
Leia também
-
Planalto vê possibilidade de encontro entre Lula e Trump na Malásia
-
Lula recebe Vieira um dia após viagem aos EUA para negociar tarifaço
-
Milei compartilha publicação que diz que Venezuela financiou Lula
-
Baleia: união contra PT depende do candidato e Lula tem “mão na taça”
O evento ocorreu em São Bernardo do Campo, berço político do petista, na Região Metropolitana de São Paulo, e também contou com a presença dos ministros da Educação, Camilo Santana (PT), e Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Lula citou a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, no Ceará, e a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu, no Paraná, como exemplos de lugares em que se produz conhecimento sobre a América Latina e a África.
Presidente Lula no ABC
Jéssica Bernardo/Metrópoles
Presidente Lula no ABC
Jéssica Bernardo/Metrópoles
Presidente Lula no ABC
Jéssica Bernardo/Metrópoles
Presidente Lula no ABC
Jéssica Bernardo/Metrópoles
Durante o evento, o petista disse, ainda, que quer universalizar o Pé-de-Meia, programa que concede auxílio financeiro para estudantes do ensino médio como forma de combater a evasão escolar.
“A gente vai ter que discutir com muito carinho, com o Haddad e com o companheiro Camilo, porque, dentro da mesma sala de aula, tem um aluno que recebe o Pé-de-Meia e outro que não recebe. E, às vezes, a diferença de salário é R$ 0,50. Então, nós precisamos aprovar a universalização do Pé-de-Meia para que todas as pessoas possam ter o direito de estudar”, disse Lula.
Briga com a Faria Lima
O presidente afirmou que a Faria Lima “vai brigar” com o governo quando a medida for proposta, mas que a universalização do Pé-de-Meia é um investimento “na sobrevivência da nossa juventude, dos nossos negros, do nosso povo periférico”. A ideia foi recebida com entusiasmo pela plateia de alunos.
No público, alguns estudantes levavam faixas com dizeres como “Palestina Livre” e “Fim da Escala 6×1”. Uma das faixas pedia a indicação de uma mulher negra para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). Como mostrou o Metrópoles, apesar da pressão popular, Lula deve indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o cargo.
Ampliação do CPOP
O evento deste sábado contou ainda com o anúncio da ampliação do número de cursinhos vinculados ao CPOP. Hoje há 384 cursinhos vinculados ao programa.
A ampliação foi anunciada pelo ministro da Educação, Camilo Santana. “Vamos chegar a 500 cursinhos no CPOP no Brasil”, disse o ministro, que declarou que o novo edital de adesão ao projeto será publicado em dezembro.
O que é o CPOP?
- Programa do Ministério da Educação (MEC) que oferece apoio financeiro a cursinhos pré-vestibulares e seus estudantes.
- Atualmente, a CPOP fornece até R$ 163,2 mil por cursinho.
- O valor deve ser utilizado para o pagamento de professores, coordenadores e apoio técnico-administrativo, incluindo auxílio-permanência para alguns alunos.
- O auxílio-permanência é de R$ 200 mensais por seis meses para até 40 alunos por unidade.
No território de Tarcísio
A agenda em São Bernardo ocorre em meio a uma intensificação da presença de Lula em São Paulo, com a aproximação do pleito de 2026.
O estado é comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado como principal nome para disputar a eleição no próximo ano no campo da direita.
Tarcísio tem escalado suas críticas ao governo Lula, e foi tido como um dos responsáveis por derrotas recentes da gestão petista no Congresso Nacional, como a MP do aumento de impostos para bets.
O governador nega ter interferido nas negociações com o Congresso, apesar de parlamentares confirmarem sua atuação, e chegou a gravar um vídeo atacando Haddad e o PT.
Neste sábado, Tarcísio marcou uma agenda pública, também relacionada à educação, para o mesmo horário do evento petista, na região de Presidente Prudente, no interior paulista.
A estratégia de agendar entregas e coletivas de imprensa simultâneas às de Lula tem sido adotada pelo governador com recorrência.
O Enem acontece nos dias 9 e 16 de novembro em todo o Brasil.