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    Ministro de Lula faz cerco ao STF para barrar programa de Tarcísio

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    O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), tem procurado ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que seu partido moveu contra o Programa Estadual de Regularização de Terras do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.

    A iniciativa foi sancionada como lei pelo ex-governador Rodrigo Garcia no fim de seu mandato, em 2022. O programa, porém, só foi colocado em prática durante a gestão Tarcísio, a partir de 2023. O modelo possibilita a concessão de descontos de até 90% a fazendeiros que ocupam imóveis de propriedade do Estado.

    Nessa terça-feira (30/9), Teixeira se reuniu com o ministro do STF Flávio Dino para falar do tema. Na semana passada, ele já havia realizado uma audiência com o decano da Corte, ministro Gilmar Mendes, sobre o mesmo assunto. Os encontros foram acompanhados por deputados paulistas.

    O objetivo da investida petista no Supremo é fazer com o julgamento da ação que alega que a lei paulista é inconstitucional seja retomada pela Corta.

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    Além de Dino e Gilmar, o ministro de Lula também já solicitou uma audiência com a ministra Cármen Lúcia, relatora da ADI, e ainda busca um encontro com Alexandre de Moraes, que foi alvo de ataques de Tarcísio na manifestação bolsonarista de 7 de Setembro.

    “O que nós estamos pedindo é a suspensão dessa lei. Queremos que seja votado no plenário do STF. Essas terras públicas griladas devem atender às políticas públicas de reforma agrária, moradia e meio ambiente, conforme determina a Constituição”, afirmou Paulo Teixeira ao Metrópoles.

    Em 2023, o atual secretário estadual da Agricultura, Guilherme Piai, chegou a incentivar a aplicação da legislação paulista “antes que a lei caísse” no STF. A Corte, no entanto, tirou o tema de pauta no mesmo ano, após Tarcísio se reunir com alguns ministros. Desde então, o assunto não voltou a ser debatido pelos magistrados.

    A ação contra o programa chegou a ter o julgamento marcado para novembro de 2023 e posteriormente suspenso.

    Aposta em desgastes de Tarcísio com o STF

    O Metrópoles mostrou que os petistas acreditam que podem resgatar a pauta diante da intensificação das críticas de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao STF.

    Recentemente, o governador deu declarações de que não confia na Justiça e comparou o ministro Alexandre de Moraes a um tirano, durante discurso em ato bolsonarista de 7 de setembro em São Paulo.

    Segundo Teixeira, Cármen Lúcia teria dito que, após o fim da ação que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ela agendaria uma audiência com o ministro do Desenvolvimento Agrário do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A data ainda não foi marcada.

    12 imagensTarcísio de Freitas visita BolsonaroO vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o ministro dos Portos e Aerportos, Silvio Costa Filho (Republicanos) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)O secretário de Agricultura e Abastecimento do Governo de SP, Guilherme Piai (Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)Aliado de Bolsonaro, Tarcísio conversa com Moraes durante cerimônia no TSEO governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebe cumprimento militar na solenidade de Passagem do Comando Geral da PMFechar modal.1 de 12

    Presidente do TSE, Cármen Lúcia

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    Tarcísio de Freitas visita Bolsonaro

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    O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o ministro dos Portos e Aerportos, Silvio Costa Filho (Republicanos) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)

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    O secretário de Agricultura e Abastecimento do Governo de SP, Guilherme Piai (Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)

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    Aliado de Bolsonaro, Tarcísio conversa com Moraes durante cerimônia no TSE

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    O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebe cumprimento militar na solenidade de Passagem do Comando Geral da PM

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    Governador Tarcísio de Freitas na Avenida Paulista

    Danilo M. Yoshioka/Metrópoles8 de 12

    O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em solenidade na Academia de Polícia Militar do Barro Branco em São Paulo.

    Pablo Jacob/Governo do Estado de SP
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    O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o ex-presidente Jair Bolsonaro

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    O novo secretário da Agricultura, Guilherme Piai

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    Tarcísio de Freitas, André do Prado e Guilherme Derrite durante solenidade que celebra os 93 anos da Revolução Constitucionalista de 1932

    Ramiro Brites/Metrópoles12 de 12

    Tarcísio de Freitas aponta risco de perda de 120 mil empregos em São Paulo devido ao tarifaço

    Isabella Finholdt / Metrópoles

    No último dia 11/9, Cármen Lúcia deu o voto decisivo para condenar Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão. Foi com o voto da ministra que a Primeira Turma do STF formou maioria para considerar o ex-presidente culpado por ter participado de uma tentativa de golpe de Estado após a derrota para Lula na eleição de 2022.

    Articulação de Tarcísio

    • Há dois anos, às vésperas do julgamento da inconstitucionalidade do programa de regularização de terras — que nunca chegou a ocorrer — , Tarcísio se encontrou com cinco ministros do STF, acompanhado pela procuradora-geral do Estado, Inês Coimbra.
    • Logo após o périplo do governador, que passou por reuniões com Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Luiz Fux e Dias Toffoli, Cármen Lúcia suspendeu o julgamento.
    • Segundo interlocutores, Tarcísio não teria conversado diretamente com a ministra.
    • “A retirada de pauta foi muito sentida, vez que o processo já se encontrava apto para ser julgado. Mas a ministra Carmen Lúcia preferiu retirar e deve ter as razões dela. Às vezes, surgem dúvidas que devem ser sanadas e que faz parte da prática dos magistrados essa reflexão. De qualquer maneira, a demora excessiva, ao meu ver, não faz bem à sociedade”, diz o advogado Marcio Calisto Cavalcante, um dos autores da ação assinada pela ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann (PT), presidente do partido à época.
    • Os petistas temem que, caso a ação não seja retomada, o caso fique sem objeto, já que os imóveis estão sendo regularizados.

    R$ 7 bi em descontos

    Em 26 de agosto, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou um novo projeto de lei da gestão Tarcísio que pode dar descontos superiores a R$ 7 bilhões na entrega de terras devolutas a fazendeiros no estado.

    Enquanto o governo sustenta que se trata de um meio de modernizar a entrega de títulos rurais, a oposição afirma que o texto abre caminho para a entrega de terras ainda maiores e também para imóveis improdutivos.

    O governo de São Paulo estima arrecadar R$ 1,92 bilhão com 720 mil hectares de terras até 2026, segundo dados do Instituto de Terras (Itesp), órgão agrário estadual. Com base em dados da Lei de Acesso à Informação, uma projeção feita pela liderança do PT na Alesp afirma que, se o governo cumprir sua meta, o desconto total pode chegar a R$ 7,6 bilhões.

    A área prevista como meta é o equivalente a cinco vezes à da capital paulista, ou nove vezes a área de Campinas, maior cidade do interior.

    Um dos pontos mais criticados pela oposição é o que permite a legalização de propriedades com mais de 2,5 mil hectares, atual limite previsto no artigo 188 da Constituição. Para isso, o texto permite uma “divisão” da terra em questão, por meio de requerimentos de regularização feitos por cada condômino presente dentro da propriedade.

    Governo fala em modernização

    O governo Tarcísio afirma que realiza a maior “regularização fundiária da história do estado”. “De 2023 a 2025, foram regularizadas mais de 4.500 propriedades rurais, chegando à marca de mais de 50% dos assentamentos rurais regularizados.” A administração diz, ainda, que a iniciativa parte de análises técnicas do Itesp e da Procuradoria-Geral do Estado.

    A gestão Tarcísio defende as mudanças na lei para “modernizar e avançar na entrega de títulos rurais, levando dignidade e segurança jurídica para os produtores rurais de São Paulo, bem como garantindo o cumprimento da função social da propriedade, inclusive no aspecto ambiental”.

    A proposta, diz o governo, prevê a gratuidade a agricultores familiares, padronização de prazos e destinação de recursos para modernização da regularização fundiária, principalmente aquela voltada à agricultura familiar.