Em meio à insegurança na região da Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, a polícia também aparece, mas nem sempre fardada. Segundo motoboys, policiais militares em horário de folga fazem bico com a escolta armada de entregadores na região.
O bico é proibido pelo regimento da corporação, embora seja tolerado extraoficialmente. As autoridades só costumam investigar esse tipo de atividade quando se ganha o noticiário e a “casa cai”, como no caso dos PMs que recebiam R$ 400 por dia para escoltar Vinícius Gritzbach, o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), executado no Aeroporto de Guarulhos, em novembro do ano passado.
Os preços desse tipo de serviço na 25 são variados. Acompanhar um motoboy entre a loja e o local onde a moto está estacionada custa entre R$ 30 e R$ 50, uma caminhada que, muitas vezes, não passa de 100 metros. Um dia inteiro de escolta não sai por menos de R$ 300.
Motoboys na região central de São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na região central de São Paulo
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Motoboys na Rua Santa Ifigênia, em São Paulo
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Motoboys na Rua Santa Ifigênia, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
Mas há também “trabalhos pontuais”, com o PM sem farda acompanhando, em outra motocicleta, a entrega do início ao fim. Dependendo do valor da carga, um trajeto de apenas três quilômetros entre a 25 e o bairro vizinho do Brás pode custar R$ 150, como relatou um motoboy na última semana.
Em 2023, reportagem do Metrópoles mostrou que um dos telefones nas camisetas de um grupo de escolta de produtos de lojistas naquela região era associado a um cabo da PM, de 44 anos, morador de Guarulhos.
Muitos dos eletrônicos vendidos nas ruas próximas à 25 de Março não têm nota fiscal. Lojas e quiosques da região costumam ser alvos de ações relacionadas ao contrabando.
Subnotificação e crime organizado
Nem sempre os assaltos ocorridos contra motoboys na região da 25 são registrados em boletins de ocorrência. Muitas vezes, a subnotificação vem do fato de que produtos vendidos na região não têm origem comprovada por notas fiscais, o que tornaria inviável o acionamento da polícia para investigar o crime.
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Em alguns, a própria organização criminosa é procurada para dar um parecer sobre assaltos ocorridos na região, segundo entregadores.
Um motoboy ouvido pela reportagem na 25 de Março diz que, depois de um dos roubos do qual foi vítima, chegou a procurar líderes do crime organizado na região para conversar a respeito, o “levar pras ideias”. Foi questionado pelos bandidos, que fariam parte do Primeiro Comando da Capital (PCC), se tinha apanhado ou se os produtos que transportava eram dele mesmo (e não do cliente).
O motoboy diz que respondeu “não” para ambas as perguntas e ouviu então que o trabalho do ladrão era roubar, que o dele era fazer as entregas e que cada um estava no “seu corre”.
Outros entregadores ouvidos pelo Metrópoles dizem que esse tipo de resposta não é incomum, porque o PCC considera a área como “região neutra”, uma forma de dizer “cada um com seus problemas”, em relação aos assaltos.
O que diz a SSP
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) foi questionada, mas não se manifestou sobre o bico de escolta feito por policiais militares em horário de folga.
Com relação aos roubos, disse que intensificou as ações no centro de São Paulo, uma das prioridades da atual gestão, com foco no combate ao crime organizado e na redução dos índices de criminalidade. “Foram reforçados o policiamento ostensivo e a Atividade Delegada, com mais 400 policiais militares e 1,7 mil vagas adicionais, além de incentivos salariais para atuação noturna e em áreas estratégicas. Das 11 bases comunitárias previstas, sete já estão em funcionamento em pontos estratégicos do centro, com investimento superior a R$ 4 milhões”, diz.
Segundo a pasta, em 32 meses, foram 18,3 mil prisões e apreensões, 558 armas retiradas das ruas, 1.427 veículos recuperados e 6,8 toneladas de drogas apreendidas.
A Polícia Civil diz que mantém investigações permanentes contra crimes patrimoniais, incluindo os praticados por falsos entregadores de delivery. “Esses esforços, aliados ao reforço do policiamento preventivo em pontos de maior incidência criminal, permitiram que São Paulo atingisse o menor índice de roubos dos últimos 25 anos”, diz.
Segundo a SSP, a região central, que integra a área da 1ª Delegacia Seccional – Centro, apresenta reduções nos índices criminais. “Entre janeiro e agosto deste ano, os roubos em geral caíram 19,11%, enquanto os roubos de carga diminuíram 52,48%, em comparação com o mesmo período de 2024. No mesmo intervalo, 5.202 pessoas foram presas ou apreendidas, representando um aumento de 4,5% nas detenções em relação ao ano anterior”, afirma.
