O relatório da sindicância do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) sobre o caso da paciente que ficou paraplégica após tratamento com fenol identificou sinais de lesão pelo uso da substância. “Há indício de relação causal entre o procedimento médico e o efeito adverso”, pontuou o documento.
Um mês após o casamento, em busca de cura para dores profundas na região pélvica, causadas pela endometriose, a técnica de enfermagem Bruna Conceição dos Santos, 25 anos, se submeteu a um tratamento com fenol em uma clínica particular do DF, em maio de 2024. Após o procedimento, a paciente perdeu os movimentos das pernas.
Veja:
Bruna perdeu os movimentos das pernas logo após tratamento em uma clínica particular no DF
Material cedido ao Metrópoles
Bruna se casou um mês antes da perda dos movimentos das pernas
Material cedido ao Metrópoles
A técnica de enfermagem vivia uma vida ativa e praticava esportes
Material cedido ao Metrópoles
Bruna passou a cantar para enfrentar a dor
Material cedido ao Metrópoles
A paciente entrou na Justiça em busca de reparação pela suposta imperícia médica
Material cedido ao Metrópoles
O caso é investigado pelo CRM-DF. Segundo Bruna, houve uma suposta imperícia médica. A Defensoria Pública do DF (DPDF) também entrou com uma ação na Justiça contra a clínica L’Essence e o médico Lucas Franca, responsáveis pelo procedimento. Ambos negam erro no tratamento (leia mais abaixo).
“Muito embora a ação do médico tenha sido proporcionar melhora da condição clínica da paciente, há de se considerar que houve uma possível lesão das raízes motoras supracitadas. O próprio médico reconhece essa possibilidade, embora rara, como sendo efeito adverso da técnica”, afirmou o relatório do CRM.
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O conselho ainda não concluiu a sindicância, e o procedimento ainda está em aberto, com garantia de ampla defesa e contraditório.
Primeiros sintomas
Bruna começou a sentir dores em 2022 no abdômen e na região pélvica, especialmente ao sentar. Buscou tratamento e um médico recomendou o implante de um neuroestimulador sacral. Mas os custos com profissional para o procedimento não estavam cobertos pelo plano de saúde da técnica de enfermagem.
Bruna procurou uma clínica que fizesse o implante pelo plano e, assim, chegou à clínica L’Essence. Porém o médico quis seguir com procedimentos arriscados, antes de tentar o implante do neuroestimulador que foi indicado desde o início e era regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O Metrópoles entrou em contato com a clínica e com o médico envolvidos na denúncia. Segundo a defesa de Lucas Franca, o tratamento foi indicado para um quadro de dor pélvica crônica refratária, resistente a múltiplas abordagens medicamentosas e fisioterápicas.
De acordo com o médico, a neurólise química do plexo hipogástrico superior com fenol é um procedimento previsto em protocolos internacionais de dor intervencionista, descrito em publicações médicas amplamente reconhecidas e adotado em centros especializados no Brasil e no exterior.
Em nota enviada a reportagem, garantiu ter informado os riscos do tratamento à Bruna. “A paciente foi informada sobre riscos, benefícios e alternativas terapêuticas, tendo sido colhido Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, validado pela equipe de enfermagem e arquivado junto ao prontuário hospitalar”, declarou.
Segundo o médico, o procedimento foi realizado em ambiente hospitalar, sob rigorosos protocolos de segurança e controle radiológico, com dispersão adequada do contraste e sem intercorrências imediatas. Destacou que qualquer procedimento invasivo envolve riscos, ainda que executado com técnica correta e dentro dos parâmetros éticos.
“As complicações neurológicas relatadas na literatura para este tipo de tratamento são raras (1% a 2% dos casos) e não configuram imperícia, imprudência ou negligência quando todos os cuidados técnicos são observados, como ocorreu neste caso”, justificou.
Clínica
A L’Essence argumentou que os procedimentos ocorreram em dois hospitais com infraestrutura própria, equipe assistencial e responsabilidade direta pelos atos médicos executados em suas dependências. Alegou também que realiza atendimentos médicos especializados e procedimentos minimamente invasivos de baixa complexidade.
“Nos casos de neurólises e procedimentos de maior complexidade, é rotina da equipe encaminhar e realizar tais intervenções exclusivamente em ambiente hospitalar, justamente para assegurar os mais altos padrões de segurança ao paciente. A clínica não tem qualquer envolvimento direto com o evento clínico em questão, limitando-se ao acompanhamento ambulatorial da paciente antes do encaminhamento hospitalar”, declarou.