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    O voto dos rejeitores (por Mary Zaidan)

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    Divulgada na semana passada, a 18ª rodada da pesquisa Genial/Quaest coroou um período de boas notícias para o governo. Apontou a recuperação da popularidade do presidente Lula e a consolidação de sua vantagem frente a qualquer um dos pré-candidatos à Presidência da República. Números ainda mais significativos vieram em outra coluna pouco badalada: a da rejeição. Lula foi o único entre os nove postulantes que reduziu o percentual dos eleitores que o conhecem e não votariam nele.

    Em maio – seu pior mês -, Lula era rejeitado por 57%. Agora, por 51%. O inelegível Jair Bolsonaro amarga rejeição de 63%, oito pontos percentuais a mais do que os 55% de seis meses atrás. A mulher dele, Michele, a mais bem posicionada da família na disputa, aumentou sua rejeição em 10 pontos percentuais, passando de 51% para 61% no mesmo período. O governador paulista Tarcísio de Freitas, candidato predileto do Centrão, viu sua rejeição subir de 33% para 41%.

    Marqueteiros costumam defender seus clientes explicando que tanto a aprovação quanto a rejeição estão condicionadas ao nível de conhecimento que o eleitor tem do candidato. Também aqui, os oponentes de Lula perdem. Bolsonaro, 12 pontos percentuais mais rejeitado do que Lula, é tão conhecido quanto o petista. Os demais pretendentes protagonizam um cenário no mínimo curioso: quanto mais os eleitores os conhecem mais os rejeitam. Isso vale para todos.

    Os oito pontos percentuais de aumento na rejeição de Tarcísio vieram combinados com a redução de seis pontos percentuais no número de eleitores que o desconhecem. A história se repete com o governador do Paraná, Ratinho Jr. Quando 51% não sabiam quem ele era, tinha rejeição baixíssima, de 29%; agora é conhecido por 75% e rejeitado por 40%. Ronaldo Caiado, governador de Goiás, assistiu à sua rejeição pular de 25% para 32%, e Romeu Zema, de Minas Gerais, de 22% para 34%.

    Quem lidera a lista dos “nesse eu não voto de jeito algum” é o deputado Eduardo Bolsonaro, auto-exilado nos Estados Unidos. Sua  conspiração contra o Brasil o tornou mais conhecido (21% sabiam quem era ele em maio e agora só 2% o desconhecem) e sua rejeição saltou de 56% para 68%.

    Inverter o voto dos rejeitores é uma das tarefas mais árduas para qualquer candidato. Aqui, a empatia costuma falar mais alto do que o histórico do candidato.

    O aumento da rejeição de Tarcísio, que vinha bem no figurino moderado, palatável para a maioria centrista do eleitorado, acelerou quando ele rasgou de vez a fantasia do bom mocismo. Já havia derrapado feio quando ostentou o boné vermelho do MAGA, movimento ultra-direitista que sustenta o presidente Donald Trump. Dobrou a aposta com a promessa de indulto a golpistas, Bolsonaro à frente, e com um discurso pró-anistia do padrinho no palanque do 7 de Setembro, onde disparou contra o STF: “Temos um julgamento de um crime que não existiu” e “Ninguém aguenta a tirania de Moraes”.

    As atitudes do governador paulista para agradar o chefe e o bolsonarismo radical se somaram à defesa do uso da violência por “sua polícia”, responsável por 84 assassinatos na Baixada Santista durante a Operação Escudo, matando traficantes de pequeno porte e inocentes pobres. “Podem ir na ONU que não tô nem aí”, disse à época. Reincidiu na desumanidade ao falar das investigações sobre a adulteração de bebidas com metanol. “No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, vou me preocupar”. Mais tarde, pediu desculpas, mas o estrago já estava feito.

    Por sua vez, Lula, energizado pelas burrices em série de seus oponentes e pelo bem-vindo telefonema de Trump, aliviando tensões que se acumulavam desde a imposição de sanções ao Brasil, tropeçou na altura do salto. Não só foi massacrado pelo Centrão na Câmara dos Deputados, que nem mesmo apreciou a Medida Provisória, impedindo, via novos impostos, recursos para o governo no ano eleitoral, como caiu na esparrela de atribuir a derrota às articulações de Tarcísio. Ora, se um pré-candidato ao Planalto tem mais força do que quem está sentado na cadeira, a coisa está pra lá de feia.

    Ainda que o escorregão do governo tenha sido menor do que as trapalhadas da oposição – de Eduardo Bolsonaro à PEC da Blindagem -, eleição não dá espaço a erros. De lado algum. Lula cresceu, mas a oposição mostrou que tem cartas.

    Há apenas uma certeza: em um país acostumado a votar no menos pior, a vitória virá para quem for menos rejeitado.

     

    Mary Zaidan é jornalista