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Oficial da PM com tornozeleira descumpre medida e vai a festa do peão

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Oficial da PM com tornozeleira descumpre medida e vai a festa do peão

O capitão da Polícia Militar Alexandre Gonçalves, de 33 anos, que deixou a prisão em junho e atualmente está em liberdade provisória com uso de tornozeleira eletrônica, descumpriu regras impostas pela Justiça ao participar, em agosto, da Festa do Peão de Araras, no interior de São Paulo (imagem em destaque). A violação da medida foi registrada em uma imagem postada em um perfil fechado do Instagram, pertencente a um empresário do ramo imobiliário.

A infração ocorreu em agosto, pouco mais de um mês após ele sair da prisão. Alexandre responde a um processo em que é acusado de ser o “braço armado” de uma organização criminosa que fraudou contratos da coleta de lixo em Bariri, também no interior do estado. Além disso, o oficial da PM é acusado de ter participado do roubo contra o comunicador Fábio Ghirotti Yang, de 41 anos, ocorrido em 2 de junho de 2023.

O descumprimento da regra sobre uso da tornozeleira foi comunicado pelo Metrópoles nessa terça-feira (7/10) ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que não havia se manifestado até a publicação desta reportagem.

Fontes que acompanham o caso afirmaram, em sigilo, que a liberdade provisória pode levar o PM à reincidência de obstrução de Justiça, crime também já imputado a ele. No esquema de fraudes e desvios dos quais é acusado, Alexandre divide o banco dos réus com o empresário Paulo Ricardo Barboza, 41, dono da Latina Ambiental.

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Capitão foi flagrado por câmeras de monitoramento durante prática criminosa, segundo a Justiça

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Oficial da PM é apontado como ‘braço armado” de organização criminosa

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A defesa do policial foi acionada pela reportagem, mas não se manifestou. A Polícia Militar também foi questionada sobre a atual situação administrativa e criminal do capitão, que é investigado pela Corregedoria da corporação. O espaço segue aberto para manifestações.

A “máfia do lixo” de Bariri

O oficial da PM e o empresário são acusados de organização criminosa, peculato, corrupção ativa, fraude a licitação, roubo armado e coação de testemunhas.

Segundo a Procuradoria-Geral de Justiça (PGJ), Alexandre Gonçalves foi mais que o executor do roubo contra Yang. O capitão teria “usado a farda para dar cobertura ao grupo criminoso, monitorar investigações e intimidar opositores”.

“O emprego da violência física e psicológica fez parte da engrenagem do grupo criminoso, tendo Gonçalves como peça-chave”, diz  trecho de denúncia do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Bauru.

Segundo as investigações, o comunicador Fábio Yang havia publicado denúncias sobre fraudes e superfaturamento em contratos de limpeza urbana da Latina Ambiental. Pouco depois, foi atacado em casa.

“O homem armado disse para eu parar de publicar as coisas da limpeza pública e do prefeito”, declarou à polícia.

Quebras telefônicas e rastreamento

O processo do caso, obtido pela reportagem, apresenta uma série de provas técnicas contra o oficial da PM. Entre elas há a quebra dos sigilos telefônico e telemático do capitão e do empresário Paulo Ricardo Barboza. A análise da geolocalização por antenas mostrou que o celular de Gonçalves fez a primeira conexão, às 4h12 do dia do ataque contra Yang, em Araras  — cidade onde mora —, e percorreu o mesmo trajeto do Voyage branco usado no crime. As imagens do carro foram registradas por câmeras de pedágio até Bariri e, na volta, para Limeira.

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De acordo com as investigações, as imagens foram cruzadas com o banco de dados da PM, que revelou semelhança física e até a mesma jaqueta preta com capuz usada no assalto. O conjunto de provas embasou o pedido de prisão temporária, convertido depois em prisão preventiva.

Interceptações telefônicas e mensagens trocadas pelos réus — também obtidas com autorização judicial — apontam tentativas de “combinar depoimentos” e “sumir com provas”, segundo relatório da PGJ obtido pelo Metrópoles.

Capitão sob suspeita

Para o Gaeco, o capitão usou a estrutura da corporação para acessar informações sigilosas e repassá-las à “máfia do lixo”. Há menções, no processo, de que Alexandre já era investigado na PM por suspeita de envolvimento com organização criminosa e tráfico de drogas.

Mesmo assim, não há registro de expulsão ou demissão do oficial. Preso em junho de 2023, ele foi levado para o Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte paulistana, onde permaneceu até junho de 2025. Na ocasião, o PM conseguiu habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para responder ao caso em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica — a mesma cujas regras ele violou pouco tempo depois.

Como funcionava a fraude em Bariri

De acordo com o Gaeco, Paulo Ricardo Barboza chefiava a rede que, entre 2021 e 2022, superfaturou contratos e desviou cerca de R$ 800 mil dos cofres municipais de Bariri.

Segundo as investigações, para garantir a continuidade do esquema, a quadrilha coagia servidores, eliminava concorrentes de licitação e usava notas frias para inflar valores de coleta de lixo e limpeza urbana.

A Latina Ambiental, empresa de Barboza, era beneficiada pelos contratos viciados. Para intimidar denunciantes, o grupo recorria à violência, momento em que Alexandre Gonçalves entrava em cena.

Operação do Gaeco de Bauru realizada em junho de 2023 levou à prisão de seis suspeitos. São eles:

O então prefeito Abelardo Simões, que era do MDB, foi citado na denúncia como beneficiário político, mas não foi denunciado. Em novembro de 2023, foi destituído do cargo, após votação unânime da Câmara de Vereadores pelo impeachment dele.

Com exceção do oficial da PM e do empresário, beneficiados com a liberdade provisória, os demais réus seguiam atrás das grades, conforme a mais recente atualização do processo obtido pelo Metrópoles. A defesa deles não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

Em 27 de junho deste ano, Alexandre e Paulo Barboza foram liberados com tornozeleira, com a ressalva de se apresentarem mensalmente em juízo, além de não poderem manter contato entre si e com outros réus.

Ambos também devem permanecer em casa no período noturno e em dias de folga, além de estarem proibidos de frequentar locais determinados pela Justiça, como bares, boates e similares. O descumprimento das medidas pode resultar na perda dos benefícios.

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