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    Pelúcias do PCC: entenda papel de irmãs em esquema alvo de operação

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    A operação deflagrada por autoridades de São Paulo nesta quarta-feira (22/10) contra um esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) em lojas de brinquedos teve como alvos duas mulheres ligadas a Claudio Marcos de Almeida, conhecido como “Django”. O criminoso desempenhou papel central no comércio de drogas e no armamento da facção até ser executado pelo PCC em 2022.

    Durante a Operação Plush, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), a Polícia Civil e a Secretaria de Estado da Fazenda cumpriram mandados de busca e apreensão contra a ex-companheira de Django, Natalia Stefani Vitoria, e a ex-cunhada do criminoso, Priscila Carolina Vitoria Rodriguez Acuna — irmã de Natalia.

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    A investigação chegou até as mulheres após a Operação Fim da Linha, contra a infiltração do PCC no sistema de transporte público paulistano em 2024. Na época, o nome de Django surgiu como um dos principais cotistas da UpBus, empresa de ônibus utilizada pela facção.

    Segundo o Ministério Público, Priscila foi utilizada pelo criminoso para comprar cotas da UpBus avaliadas em R$ 494 mil, embora não tivesse “capacidade econômica” para adquirir os títulos.

    Lojas de brinquedos

    A quebra fiscal das irmãs revelou que elas estariam utilizado empresas no ramo de brinquedos infantis para lavagem de dinheiro. Uma análise feita com base nos valores das operações concluiu que as empresas deveriam funcionar sob fortes dívidas ou depender de empréstimos. A realidade, no entanto, era outra. A empresa “distribuiu ainda mais dividendos às suas sócias, indicando que essa distribuição de lucros e dividendos não é real”, destacou a investigação.

    O relatório reforça ainda que a dupla não possuía atividade remunerada ou economia suficiente para investir nas franquias da empresa. Natalia nunca trabalhou com carteira registrada e o único vínculo empregatício encontrado relacionado a Priscila é de 2005.

    As irmãs comandavam quatro franquias da loja de pelúcias Criamigos Oficinas de Ursos em centros comerciais de São Paulo e região metropolitana: os shoppings Center Norte e Mooca Plaza, na capital; Internacional, em Guarulhos; e Shopping ABC, em Santo André. Os endereços foram alvos de mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira.

    Alvos da Operação Plush

    Pessoas físicas:

    • Natalia Stefani Vitoria, ex-companheira de Django.
    • Priscila Carolina Vitoria Rodriguez Acuna, ex-cunhada de Django e irmã de Natalia

    Pessoas jurídicas:

    • VITORIA S COMERCIO DE BRINQUEDOS E ACESSÓRIOS LTDA, no Shopping Center Norte.
    • JD COMERCIO DE BRINQUEDOS E ACESSORIOS, no Shopping ABC.
    • PV COMERCIO DE BRINQUEDOS E ACESSORIOS LTDA, no Mooca Plaza Shopping.
    • NV COMERCIO DE BRINQUEDOS E ACESSORIOS LTDA, no Internacional Shopping Guarulhos.

    Cada uma das quatro franquias foi aberta com R$ 50 mil em dinheiro vivo, além de pelo menos R$ 300 mil pagos como taxa de franquia. Como a movimentação é incompatível com o faturamento das irmãs, a investigação suspeitou do envolvimento em atividades informais e das dezenas de depósitos em espécie em valores inferiores a R$ 10 mil, impossibilitando a identificação da origem dos recursos.

    Entre julho de 2017 e março de 2024, Priscila teve créditos superiores a R$ 9 milhões, sendo que cerca de R$ 400 mil se referem a depósitos não identificáveis. Da mesma forma, Natalia recebeu 156 depósitos com características de fraude, totalizando cerca de R$ 230 mil.

    “Não bastassem todos os elementos já indicados, Natalia reside em imóvel que não está em seu nome, faz o pagamento de despesa condominial de casa igualmente em nome de terceiro e, curiosamente, encaminha os boletos de pagamento para pessoa até o momento não identificada”, destacou o MPSP.

    “Verifica-se, portanto, que são contundentes os indícios da prática do crime de lavagem de capitais pelas investigadas, observando-se a presença das mais variadas tipologias indicadas”, concluiu o Ministério Público.

    Quem era Django

    • Cláudio Marques de Almeida foi assassinado em 2022.
    • Investigações apontam que a morte foi relacionada a disputas internas do PCC.
    • Ele foi encontrado morto, enforcado, sob o viaduto Vila Matilde, na zona leste paulistana, em 23 de janeiro de 2022.
    • Django teria sido condenado pela facção, junto com Rafael Maeda, o Japa, por absolver Vinícius Gritzbach em um “tribunal do crime”.
    • Gritzbach foi assassinado no aeroporto de Guarulhos (SP), em 8 de novembro de 2024, dias após incriminar, em uma delação ao MPSP, nomes do PCC e da Polícia Civil de São Paulo.
    • Mais tarde, em 2024, o nome de Django apareceu na Operação Fim da Linha.
    • Ele é apontado como um dos principais cotistas da UpBus, empresa que prestava serviços de transporte por ônibus na capital e foi utilizada pelo PCC para lavar valores com origem ilícita.

    Além dos mandados de busca e apreensão, a Justiça também determinou o sequestro e bloqueio de bens e valores que somam R$ 4,5 milhões para garantir futura reparação do dano, pagamento de custas processuais e de penas pecuniárias.

    Procurada pelo Metrópoles, a rede Criamigos afirmou que não possui qualquer envolvimento com a Operação Plush, que envolve exclusivamente as unidades franqueadas citadas pelo MPSP. “Confiamos plenamente nas autoridades, colaboraremos com as investigações e reafirmamos nosso compromisso com a transparência e a integridade da marca.”

    A reportagem não localizou as defesas de Natalia Stefani Vitoria e Priscila Carolina Vitoria Rodriguez Acuna. O espaço está aberto para manifestações.