As redes sociais se tornaram um dos principais canais de aproximação entre fãs e ídolos. Essa relação, no entanto, vem sendo abalada pelo avanço da inteligência artificial e pela disseminação de fake news. Cada vez mais, internautas recorrem a ferramentas digitais para se passar por outras pessoas — um fenômeno que confunde o público, espalha informações duvidosas e levanta dúvidas sobre autenticidade e manipulação no ambiente online.
Paolla Oliveira foi uma vítima recente desse cenário. Neste ano, a atriz acionou a Justiça para solicitar a desativação de um perfil com mais de três milhões de seguidores que se passava por ela. Na ocasião, Paolla disse que a conta “explorava comercialmente sua imagem sem a devida autorização e em desacordo com seus valores pessoais”.
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O perfil em questão usava as fotos e informações pessoais da artista para vender publicidades de jogos de azar no Facebook. O fato deixou a atriz revoltada.
Outro problema é a proliferação de perfis de fã-clubes que imitam o artista que representam. Muitos se passam pelo próprio famoso e, em alguns casos, exibem até o selo azul de verificação do Instagram — símbolo que autentica contas de figuras públicas, celebridades, marcas ou instituições reconhecidas.
Um fã-clube de Carlinhos Maia, por exemplo, causou confusão entre os internautas. Com mais de 230 mil seguidores, a conta publicou uma foto do influenciador ao lado de uma mulher, dando a entender que os dois estariam em um relacionamento. A informação, entretanto, é falsa.
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O perfil publicou uma foto feita com IA de Carlinhos Maia ao lado de uma mulher
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O mesmo perfil também publicou uma foto falsa de Lucas Guimarães, ex de Carlinhos, beijando uma mulher
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O perfil tem selo de verificado e acumula mais de 200 mil seguidores
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Uso de IA
Ana Castela e Zé Felipe estão entre os assuntos mais comentados das últimas semanas. Os cantores estariam vivendo um affair após a separação do sertanejo de Virginia Fonseca.
Com a repercussão do possível romance, perfis falsos aproveitaram o momento para espalhar informações enganosas. Um desses perfis, com mais de 500 mil seguidores, publicou imagens criadas por inteligência artificial mostrando um suposto pedido de namoro feito por Zé a Ana Castela. Na foto, o filho de Leonardo aparece ajoelhado, segurando uma aliança.
A imagem viralizou rapidamente entre os fãs, que acreditaram se tratar de um registro real. O conteúdo parecia tão convincente que chegou a enganar até o cantor Latino, que parabenizou o casal. Em outra publicação falsa, Zé Felipe aparece pedindo a cantora em casamento.
Virginia também não escapou das falsificações digitais. A influenciadora, que vive um affair com o jogador Vini Jr., tornou-se mais uma vítima de fotos criadas por inteligência artificial.
Um dos perfis falsos publicou uma série de imagens dos dois juntos. Em uma delas, o casal aparece se beijando dentro de um avião. Vale ressaltar que, até o momento, Virginia e Vini Jr. não assumiram publicamente qualquer relacionamento.
Assim como o perfil que se passou por Paolla Oliveira, esses perfis também aproveitam o engajamento para fazer publicidade para casas de apostas ilegais.
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A publicação conseguiu enganar até mesmo o cantor Latino
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Em outra postagem, o perfil publicou uma foto dos cantores se beijando
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O perfil foi além e criou uma foto falsa de Zé Felipe pedindo Ana Castela em casamento
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Um perfil falso de Virginia publicou uma imagem feita com IA da influenciadora beijando Vini Jr.
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Foto falsa de Zé Felipe e Ana Castela se beijando
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Foto de Virginia e Vini Jr. feita com IA
O que diz a lei
A Meta, empresa responsável pelo Instagram e pelo Facebook, utiliza o selo de verificação como forma de garantir a autenticidade dos perfis. Atualmente, há duas maneiras de obter o selo: gratuitamente ou por meio de assinatura. A facilidade em obter a verificação acabou abrindo brechas para que pessoas se passem por outras com mais facilidade.
Sobre contas de fã-clubes, o Instagram não verifica perfis com o selo azul tradicional. A verificação de contas de fãs não é permitida, pois o selo é destinado a figuras públicas, marcas e entidades notáveis para garantir a autenticidade e evitar a falsificação.
O advogado Daniel Ângelo Luiz da Silva, especialista em direito digital, explica que criar um perfil falso usando dados pessoais de outra pessoa configura crime, especialmente se houver intenção de enganar, difamar, obter vantagem ou causar prejuízo.
“Esse tipo de conduta pode ser enquadrada como falsa identidade, tipificada no artigo 307 do Código Penal e, em alguns casos, como estelionato, conforme artigo 171, ou difamação, no artigo 139, também previstos no Código Penal. Além disso, também pode gerar responsabilidade civil por danos morais, conforme artigo 927 do Código Civil”, ressalta.
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Daniel alerta que as consequências “vão além da esfera penal”. “O autor do perfil falso pode ser processado criminalmente, obrigado a indenizar a vítima e até ter o conteúdo removido por decisão judicial. As plataformas digitais, quando notificadas, devem excluir contas fraudulentas e preservar registros para investigação.”
A criação de imagens falsas com inteligência artificial também configura crime, especialmente quando simulam pessoas reais. O advogado explica que o ato pode se enquadrar em “violação de direitos de personalidade (artigos 11 e 20 do Código Civil), além de gerar responsabilidade civil (artigo 927) e até responsabilidade penal, caso envolva fraude, difamação ou manipulação dolosa”.
“Importante destacar que a tecnologia não elimina a autoria. Quem cria, divulga ou se beneficia do conteúdo, responde pelos danos causados, inclusive morais e à imagem.”
De acordo com ele, as plataformas têm dever jurídico e ético de monitorar esses casos: “O Instagram deve empregar sistemas de detecção e rotulagem de conteúdo sintético, mas sem suprimir a liberdade de expressão. O desafio nesse tipo de situação é encontrar o equilíbrio entre inovação e responsabilidade, garantindo um ambiente digital seguro e transparente.”
O Metrópoles entrou em contato com a assessoria da Meta pedindo um posicionamento sobre o tema, mas ainda não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Como identificar perfis falsos nas redes sociais
Segundo a advogada Manuela Menezes Silva, integrante da Comissão Especial de Tecnologia e Inovação da OAB/SP, existem diversas formas de identificar perfis falsos nas redes sociais. A principal, segundo ela, é verificar se há indicação de “fã-clube” na descrição da conta, informação que pode não aparecer logo de cara para o usuário.
Outra dica é observar o número de seguidores. “O perfil do artista costuma ter um número de seguidores maior. Então, se a publicação apareceu no explorar e você está na dúvida, confira a descrição do perfil”, orienta.
Manuela também recomenda atenção a conteúdos possivelmente criados com inteligência artificial. “Embora, à primeira vista, pareçam realistas, imagens geradas por IA geralmente apresentam falhas perceptíveis — como mãos e dedos deformados, borrões no fundo, ou rostos excessivamente perfeitos”, explica.
A especialista ainda faz um alerta sobre vídeos de pessoas públicas pedindo doações. “Com o avanço da inteligência artificial, estão criando falsos vídeos de pessoas públicas para pedir doações e promover produtos. Confira sempre a conta oficial do artista e nunca faça pagamento sem conferir a titularidade e CNPJ do beneficiário”, ressalta.