Após ser questionada sobre a ausência do cumprimento de diligências autorizadas pela Justiça do Rio de Janeiro, cuja decisão resultou na megaoperação de terça-feira (28/10), a Polícia Civil do Rio de Janeiro justificou que a suposta “demora” se deu pela “elevada complexidade logística e operacional” envolvida nas ações.
Segundo a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), para ir às ruas, seria necessário antes garantir o “êxito da operação policial e a segurança de todos os envolvidos”. As diligências, contudo, acabaram resultando na morte de 121 pessoas, dentre elas quatro policiais.
“As diligências determinadas por este Juízo nos autos ainda não foram efetivamente cumpridas em razão da elevada complexidade logística e operacional envolvida para a realização da medida investigativa no local de interesse, situado em área reconhecidamente conflagrada e sob domínio territorial de facção criminosa Comando Vermelho”, disse a DRE.
A decisão que autorizou a megaoperação, considerada a mais letal da história do Rio, foi dada pela 42ª Vara Criminal da Capital no início de julho deste ano. Passados dois meses, contudo, as ações ainda não haviam sido cumpridas.
Em despacho datado de 16 de setembro, o juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, após ser informado que até aquela data não constava nos autos o resultado das diligências expedidas, determinou que a DRE informasse sobre o fato no prazo de 10 dias.
Moradores empilham e fazem contagem de corpos após operação da polícia contra o CV no Rio de Janeiro
Tercio Teixeira/Especial Metrópoles
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Corpos enfileirados na Praça São Lucas
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Fuzis apreendidos em megaoperação no Rio de Janeiro
Reprodução/PMRJ
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Resposta à Justiça
Em resposta, em 20 de setembro, a DRE informou ao juiz que as ações deveriam ser cumpridas somente em outubro, tendo em vista as precauções que estavam sendo tomadas para o êxito da missão.
Segundo a delegacia, estavam sendo realizados, de forma “minuciosa”, todos o estudos e planejamentos estratégicos necessários, em parceria com unidades táticas e especializadas da Secretaria de Estado de Polícia Civil, “inclusive no que tange à análise de rotas de acesso, mapeamento de alvos, levantamento de efetivo necessário e definição de suporte logístico”.
“Neste sentido, informa-se que a programação para o cumprimento das diligências encontra-se em estágio avançado de planejamento, estando prevista sua execução para o início do mês de outubro de 2025”, concluiu a DRE.
Dias depois do envio da resposta da delegacia, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também esclareceu que o promotor de justiça estava monitorando a realização da operação, de forma a aumentar as chances de êxito e tentar “garantir mínimos danos colaterais a civis e agentes da lei”.
“Esse órgão ministerial realmente espera que a referida operação ocorra na primeira quinzena de outubro, acreditando haver esforços de todos os envolvidos para tanto, sem, contudo, causar situações que possam sugerir aos criminosos que uma importante operação esteja prestes a ocorrer. Assim, o MP requer a V.Exa. vista em meados de outubro, quando se espera ter as informações requisitadas por V.Exa”, afirmou o MP.
O pedido foi, posteriormente, atendido pelo magistrado, que afirmou estar ciente das informações apresentadas nos autos, determinando que fossem renovadas vistas no prazo requisitado pelo Ministério Público.
A operação acabou sendo deflagrada apenas na última terça-feira, tendo como uma das estratégias o chamado “muro do Bope” para encurralar criminosos do Comando Vermelho, com equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e outras unidades avançando pela Serra da Misericórdia, área de mata que liga as áreas onde a operação foi conduzida.
