Nas reuniões preparatórias para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), a China deu a melhor sinalização ambiental entre as superpotências. Segundo interlocutores que acompanharam os diálogos da pré-COP nesta segunda-feira (13/10), em Brasília, o país de Xi Jinping reforçou que adotaria metas mais ambiciosas na sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
Tal posicionamento da China destoou da postura adotada pelas demais superpotências. Os Estados Unidos sequer enviou representante para as discussões preliminares, e também não falou sobre o envio de delegados à COP de fato, em Belém. Trata-se de uma escalada após o governo Donald Trump retirar o país do Acordo de Paris.
A União Europeia, apesar de representada na pré-COP e ter presença garantida em Belém, ainda não apresentou sua NDC, uma espécie de compromisso ambiental assumido de acordo com a realidade de cada país, até o momento. O bloco já perdeu o prazo duas vezes. Agora, espera-se que o ele apresente sua contribuição até o fim de outubro.
A China, por sua vez, já apresentou duas NDCs. A primeira foi considerada muito branda, e por isso a superpotência revisou o documento. A atual versão prevê a neutralidade de carbono em 2060, e ainda indica a pesquisa e implementação de um plano de controle de outros gases causadores do efeito estufa.
Agora, há expectativa de uma nova mudança até a COP30, que acontece em novembro, em Belém (PA). A edição deve promover metas mais ambiciosas. Tradicionalmente, Pequim adota objetivos mais modestos para superá-los sem muitos problemas, e obter dados positivos.
Financiamento para depois
Ainda de acordo com interlocutores ouvidos pelo Metrópoles, não deu tempo para discussão sobre o financiamento climático. Ao discursar nesta segunda, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, cobrou o investimento no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e no programa Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+).
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Apresentou-se apenas um panorama do que a proposta de soluções para o porte financeiro deve abarcar, visando atingir-se a meta de US$ 1,3 trilhão. Há menções à criação de “espaço fiscal” e “combate ao endividamento dos países”; mobilização de financiamentos privados; e a disposição de uma espécie de “catálogo online” que permitiria a identificação de áreas-chave para o financiamento.
Apesar da apresentação do panorama, os países não puderam debater de fato o financiamento. Há ressalvas se o assunto será retomado nesta terça-feira (14/10), quando há outros temas a serem conversados entre os representantes dos países. Apesar disso, a maioria das falas dos países presentes demonstrou apoio à criação do mecanismo.
A COP29, em Baku (Azerbaijão), foi marcada pelo acordo para o financiamento para países em desenvolvimento deveria chegar a US$ 1,3 trilhão por ano até 2035. Dessa forma, espera-se que a COP30 no Brasil seja conhecida como a “COP da implementação”, onde serão definidos os mecanismos que permitirão chegar a essa meta.
Marina cobra
A ministra cobrou o financiamento de programas ambientais dos países desenvolvidos durante o primeiro dia da pré-COP30, “Os recursos destinados à proteção [da natureza] estão muito aquém do necessário. Estima-se a necessidade de US$ 282 bilhões por ano, mas hoje contamos com apenas 1/4 desse valor. Para preencher essa lacuna, precisamos mobilizar um menu de ações concretas de financiamento para a natureza. (…) Não se trata de doação, mas de investimento”, afirmou.
Ela discursou na abertura da plenária “Implementando o Balanço Global: Clima e Natureza”. Participaram representantes de 66 países mais a União Europeia, entre ministros, embaixadores e secretários.
“O TFFF busca garantir fluxos financeiros perenes para proteger a natureza e remunerar os serviços ecossistêmicos, valorizando o papel dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Quando estiver em operação, poderá gerar cerca de US$ 4 bilhões por ano, quase três vezes o volume atual de financiamento internacional para florestas”, explicou Marina.