Documento interno do Serviço Geológico do Brasil (SGB) revela que o presidente da estatal, Inácio Cavalcante, solicitou à Corregedoria que apure o funcionamento de um grupo de WhatsApp formado por cerca de 300 servidores. O pedido foi motivado pela suspeita de que o chat atuaria como um “grupo paralelo”, onde funcionários discutiriam temas internos da empresa e fariam críticas ao próprio presidente.
No texto, Cavalcante cita o analista de Geociências Bruno Luiz Schoenwetter como responsável pela criação do grupo em novembro de 2022, cerca de nove meses antes de sua posse como diretor-presidente do SGB.
Em um dos prints, o servidor Bruno Luiz Schoenwetter compartilha uma reportagem intitulada “Após ser rejeitado no Maranhão, ‘marido’ de Eliziane Gama ensaia candidatura de deputado no Tocantins”
Em outro print, o servidor afirma que “em todo o período em que está na empresa, nunca viu um gestor com tanto potencial para acabar com o SGB”.
“Reconheço a legitimidade de grupos relacionados ao SGB. No entanto, os materiais anexos indicam condutas preocupantes por parte do referido funcionário público, ocorridas durante o horário de trabalho”, escreveu o presidente.
Entre as condutas apontadas no despacho estão “questionamento de atos administrativos do diretor-presidente sem embasamento adequado; divulgação de informações jornalísticas não verificadas; incitação a colegas para adoção de posturas confrontadoras; e uso inadequado de expediente para discussões alheias às atividades funcionais”.
Ao final do documento, Inácio Cavalcante pede que a área competente adote providências para verificar os fatos relatados e apurar eventuais violações de deveres funcionais e éticos por parte dos servidores do SGB.
Em outro despacho, o dirigente determinou a criação de uma Comissão de Processo Administrativo Sancionador (PAS), composta por três servidores nomeados por ele para cargos-chave na estatal: Jean Ricardo da Silva do Nascimento, chefe da unidade do SGB em Teresina (PI); Joana Angélica Cavalcanti Pinheiro, assistente de produção da unidade de Porto Velho (RO); e Alexandre Moraes dos Santos, coordenador do Departamento de Administração de Material e Patrimônio (DEAMP).
Por força de uma cláusula do acordo coletivo de trabalho firmado para o biênio 2024–2025, Priscila Souza Silva integrará a comissão como representante da Associação de Empregados da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) / SGB.
Conversas registradas
Nos prints de documentos anexados ao processo obtidos pela coluna, constam mensagens com críticas à gestão de Inácio Cavalcante.
Em uma das mensagens, o servidor Bruno Luiz Schoenwetter sugere que o gestor pretende se candidatar a deputado federal pelo Tocantins e, por esse motivo, o principal projeto do SGB — o levantamento aerogeofísico para mapear o subsolo brasileiro — começaria justamente pelo estado.
Em outra mensagem, o funcionário afirma que “nunca viu um gestor com tanto potencial para acabar com o SGB” e que “só restará terra arrasada” quando ele deixar o cargo.
Hotéis e camarões para filhos
Ex-marido da senadora Eliziane Gama (PSD), que o indicou para o cargo à época em que eram casados, Inácio Cavalcante exerce o cargo sob críticas de associações de servidores.
Antes de sua nomeação, três entidades enviaram carta ao governo Lula pedindo a rejeição do nome, alegando que o indicado era “desqualificado” para o cargo.
O documento mencionava falta de formação em geociências, além de processos por crimes ambientais, uso de documentos falsos, sonegação de tributos e denúncias de agressão à primeira ex-esposa.
Nesta semana, a coluna revelou notas fiscais que mostram filhos de Inácio Cavalcante hospedados em hotéis de Florianópolis (SC) e Maceió (AL) com despesas custeadas com recursos públicos.
Nota fiscal emitida por hotel em Florianópolis (SC) em nome do filho do presidente do Serviço Geológico Brasileiro, estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia
Despesas revelam consumo de camarão flambado, brownies de chocolate, hambúrgueres, batata frita, sucos, refrigerantes, energéticos, pudim de leite e um chocolate Kit Kat
Nota fiscal emitida por hotel em Maceió (AL) em nome do outro filho do presidente do Serviço Geológico Brasileiro, estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia
Gastos adicionais do presidente do SGB e seus dois filhos
Resposta do Serviço Geológico do Brasil (SGB)
Nas viagens, realizadas na companhia do pai, houve registro de consumo de camarão flambado, hamburgueres, brownies e chocolates.
A estatal, por sua vez, argumentou que “as notas fiscais mencionadas no requerimento foram equivocadamente emitidas em nome de terceira pessoa”.
A coluna solicitou os documentos via Lei de Acesso à Informação em 25 de maio de 2025, após questionar a assessoria de imprensa da estatal em abril. Poucos dias depois, em 10 de junho, Inácio Cavalcante ressarciu os cofres públicos em cerca de R$ 9.220.