Os últimos dias revelaram surpresas interessantes ou coincidências reveladoras. Há um grupo de estudiosos que não acredita em coincidências porque elas sempre indicam tendências ou verdades escondidas, bem escondidas, aliás. Não chega a ser surpresa o presidente Lula anunciar, na sua visita a Indonésia que será candidato pela quarta vez à presidência da República. Surpresa é ele declarar que está com saúde igual aos de seus longínquos trinta anos, mas não revelar que continua pensar da mesma maneira que há cinquenta anos. Ele mantém sua visão da sociedade dividida e protegida por sindicatos. Longe da disputa pelo melhor preço e maior qualidade.
Lula tem a mesma idade de Donald Trump. Mas, o presidente dos Estados Unidos não esconde o que pensa sobre mercado livre. Sustenta que os Estados Unidos vêm sendo roubados, o termo é este, por países mais pobres que não aceitam a norma do livre comércio. Ele pretende forçar a reindustrialização do país através da imposição de tarifas escandalosas a seus parceiros. É um simples discurso, com efeitos superpostos e complexos, porque o homem forte do vizinho do norte pretende na realidade aumentar sua fortuna. Ele, como o brasileiro, precisa de um discurso incisivo que permita negociações acrobáticas na mesa em que os dois deverão se encontrar na reunião dos países asiáticos a partir de amanhã.
Trump cometeu a heresia que ninguém poderia prever. Entregou quarenta bilhões de dólares para salvar a economia da Argentina. E justificou: “eles estão quebrados”. O dinheiro vai chegar a Buenos Aires, mas poderá ser aplicado em investimentos extremamente rentáveis. A Argentina possui longas extensões de terras raras, petróleo em grande quantidade e carne de ótima qualidade, de que é um dos maiores produtores mundiais. Um negócio perfeito para quem enxerga oportunidade comerciais a longo prazo. E ainda oferece a chance de incomodar os chineses que, nos últimos tempos, têm feitos bons negócios com os vizinhos do sul. Eles podem ser levados a deixar de investir no país e fechar a base de monitoramento de satélites que mantem no sul do país.
Outro sinal interessante, coincidência intrigante, foi a súbita pressão de Washington sobre o governo de Israel para acabar com o conflito em Gaza. O território palestino deverá ser administrado por uma coligação internacional, da qual Telavive não fará parte. Garantida a segurança do estado Judeu, o genro Jared Kosher, que não possui nenhum cargo no governo de Washington, viaja como negociador oficial dos Estados Unidos para fechar um dos grandes negócios do século: a reconstrução de Gaza. O outro negócio espetacular é a reconstrução da Ucrânia, que agora começa a incomodar Trump. Ele julgava que as principais providências já tinham sido tomadas. No entanto, Putin demonstrou pensar diferente. Ele quer mesmo refazer a velha União Soviética. Há um conflito no ar, na terra e outro nos gabinetes por onde corre o dinheiro. Os valores russos depositados em bancos ocidentais podem ser utilizados para a aquisição de material bélico a ser utilizado contra a própria Rússia. Coisa de profissional.
O mundo ocidental passou nesta semana por instabilidade em diversos aplicativos importantes no cotidiano do brasileiro. McDonald’s, Mercado Livre, Pinterest, Wellhub e a rede social Snapchat estiveram entre os diversos serviços com problemas de acesso, quando o Amazon Web Services apresentou instabilidades. O AWS é uma plataforma de computação em nuvem para uso de desenvolvedores de aplicativos e sites, com pagamento sob demanda. A instabilidade do AWS virou notícia em todo o mundo porque influenciou o comportamento de usuários e afetou o faturamento de diversas empresas. O episódio coloca foco no fato de que no mundo cibernético atual há excessivo concentração de poder em poucas empresas. E também são pouquíssimas empresas que possuem capacidade efetiva de trabalhar neste ambiente extremamente competitivo e desenvolvido. Em bom português, além dos americanos, só russos, chineses, talvez alemães e israelenses, têm capacidade para navegar com segurança neste segmento. É uma guerra permanente. que só aparece nos jornais quando os sistemas param de funcionar.
Uma grande empresa precisa demonstrar para outra enorme que possui a capacidade de desligar seu computador, ouvir suas conversas mais secretas e fazer seu dinheiro sumir da conta no banco. E faze-lo reaparecer depois de receber algumas, digamos, vantagens. As coincidências estão muito coincidentes. Forças navais norte-americanas, poderosas, estão atacando barcos com motor de popa em águas internacionais no Caribe e no Pacífico. Dizem ser traficantes de drogas. Mataram todos. Não prenderam ninguém. E agora ameaçam com invasão por terra. Colômbia e Venezuela, com especial destaque para esta última, são grandes produtores de petróleo perto do sul do Estados Unidos. O pretexto de perseguir o tráfico é importante, relevante e razoável. Exceto por um único detalhe: o maior mercado consumidor do mundo de drogas é o norte-americano. As coincidências possuem razões bem definidas.
