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    Serial killer mentiu para vítima antes de crime: “Nosso bebê te ama”

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    Mensagens e vídeos trocados entre as gêmeas Roberta Cristina Veloso Fernandes e Ana Paula Veloso Fernandes com o tunisiano Hayder Mhazres revelam o roteiro calculado de uma farsa: a simulação de uma gravidez usada como isca emocional antes do envenenamento da vítima.

    Investigação da Polícia Civil de São Paulo aponta que o crime, ocorrido em maio deste ano, foi o último de uma série de quatro assassinatos, todos concretizados com o uso de veneno, atribuídos às irmãs. Ambas foram classificadas pela equipe de investigação como “serial killers“.

    Segundo o interrogatório policial de Roberta e laudos anexados ao inquérito obtidos pelo Metrópoles, Ana conheceu Hayder por aplicativo de relacionamento e, poucos dias depois, passou a afirmar estar grávida dele. O plano, conforme a polícia, era constrangê-lo moral e religiosamente para ele reconhecer o suposto filho e, com isso, garantir estabilidade financeira para as duas.

    18 imagensAna Paula Veloso, apontada pela polícia com a serial killer de GuarulhosVítimas envenenadas por Ana Paula Veloso, a serial killer de GuarulhosRoberta Veloso, irmã da serial killer de Guarulhos Ana Paula Veloso, também foi indiciada por 4 mortesFechar modal.1 de 18

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    Ana Paula Veloso, apontada pela polícia com a serial killer de Guarulhos

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    Vítimas envenenadas por Ana Paula Veloso, a serial killer de Guarulhos

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    Roberta Veloso, irmã da serial killer de Guarulhos Ana Paula Veloso, também foi indiciada por 4 mortes

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    Ana matou Neil por encomenda, no Rio de Janeiro

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    Criminosa está presa desde setembro

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    Na casa dela foi encontrado veneno

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    Ana Paula Veloso Fernandes, apontada pela polícia como a serial killer de Guarulhos

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    Ana Paula Veloso Fernandes, apontada pela polícia como a serial killer de Guarulhos

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    Michele Paiva da Silva, suspeita de ter contratado a serial killer de Guarulhos para matar o próprio pai no Rio de Janeiro

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    Uma da vítimas foi morta após encontro via app

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    Acusada está envolvida em ao menos quatro mortes por envenenamento

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    Ana Paula confessou ter matado colega de moradia à polícia

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    Ana Paula Veloso, apontada pela polícia com a serial killer de Guarulhos

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    Ana Paula Veloso, apontada pela polícia com a serial killer de Guarulhos

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    Em uma das mensagens recuperadas pela investigação, Ana escreveu: “Você vai me deixar sozinha com seu filho? Eu te amo, Hayder, e nosso bebê também.” Roberta, que também trocava mensagens com o tunisiano, reforçava a farsa para aumentar a pressão:

    “Ela está muito mal, Hayder. Vocês precisam conversar, ela só quer ser feliz com você e com o bebê.”

    O delegado Halisson Ideião Leite, responsável pelo caso, afirmou que as irmãs monitoraram a agonia da vítima em tempo real. Ana chegou a filmar o tunisiano em estado crítico na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e enviou os vídeos a Roberta, que pedia notícias e “comentava o sofrimento do homem como se fosse algo banal”.

    Dias antes da morte, quando Hayder rompeu o relacionamento e exigiu o aborto, as duas decidiram matá-lo. Após o crime, Ana enviou à família da vítima uma foto em que simulava a gestação, tentando ser reconhecida como herdeira. Em seguida, mandou mensagens em árabe com tom de ameaça para parentes do tunisiano.

    Durante o interrogatório, Roberta admitiu ter ajudado a sustentar a versão da gravidez, mas tentou descolar-se da morte, dizendo que “era uma brincadeira que fugiu do controle”. O delegado e o Ministério Público de São Paulo, no entanto, afirmam que ela planejou e encorajou os homicídios, além de lucrar com as consequências.

    Série de mortes com o mesmo padrão

    O assassinato de Hayder encerrou uma sequência de quatro homicídios atribuídos às irmãs Roberta e Ana Paula Veloso Fernandes, todos marcados por envenenamento com chumbinho, manipulação emocional das vítimas e busca por dinheiro ou moradia.

    Primeira vítima identificada, Marcelo Hari Fonseca era dono do imóvel onde as irmãs moravam, em Guarulhos, na Grande São Paulo. A polícia aponta que Ana e Roberta planejaram a morte para ficar com a casa. O corpo foi encontrado dias depois, em decomposição, sobre o sofá, que Roberta queimou para eliminar provas, de acordo com a investigação.

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    Outro caso foi a morte, em abril, de uma amiga de Ana, Maria Aparecida Rodrigues, envenenada com bolo e café, também em Guarulhos, após a criminosa romper com um policial militar. O objetivo era matar a amiga e incriminar o ex-namorado PM. Roberta ajudou a criar perfis falsos que simulavam mensagens de ameaça, atribuídas ao homem, incluindo trechos como: “Infelizmente ele te matou”, ou ainda, “eu te avisei ontem.”

    Neil Corrêa da Silva foi a terceira vítima da dupla. Pai de uma amiga de Ana, ele foi morto em troca de dinheiro, na cidade de Duque de Caxias (RJ). Segundo a investigação, Roberta negociou parte da recompensa e recebeu valores após o crime. Nas conversas, as duas se referiam ao homicídio como TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), código criado para disfarçar as conversas entre elas.

    Depois da morte de Neil, Roberta escreveu à irmã: “Se deu certo… foi embora tarde, graças a Deus.”

    O tunisiano Hayder Mhazres, quarto e último alvo, foi envenenado após romper com Ana e negar assumir a “gravidez”, sugerida pelas irmãs. Roberta acompanhou os vídeos da agonia dele, enviados em tempo real pela irmã.

    Como as gêmeas foram presas

    A captura das irmãs foi resultado de interceptações telefônicas, rastreamento digital e cruzamento de dados bancários. Após o crime contra Hayder, o 1º DP de Guarulhos passou a monitorar movimentações suspeitas de Roberta, que havia vendido pertences das vítimas em redes sociais e usava diferentes chips de celular para despistar investigadores.

    O delegado Halisson Leite afirmou que as duas mantinham comunicação criptografada e usavam linguagem codificada, com palavras como “tarefa”, “remédio” e “TCC” para se referir às mortes.

    Em 15 de outubro, a equipe localizou Roberta em uma casa no bairro Ponte Grande, em Guarulhos. Ela tentou fugir pelos fundos, mas foi cercada. Ana Paula foi presa dias depois, no Rio de Janeiro, com auxílio da Polícia Civil fluminense.

    Durante a prisão, Roberta mantinha cópias impressas das conversas com as vítimas, registros bancários e recibos de transferência. Para o delegado, o material “demonstra orgulho e controle sobre os crimes cometidos”.

    “A frieza das duas impressiona. Elas documentavam as próprias ações como se montassem um portfólio de mortes”, afirmou Halisson Leite.

    As gêmeas agora respondem por quatro homicídios qualificados e associação criminosa, podendo pegar penas que somam mais de 100 anos de prisão.