Portal Estado do Acre Notícias

Sua amiga foi traída e você descobriu? Sexóloga orienta o que fazer

Sua amiga foi traída e você descobriu? Sexóloga orienta o que fazer

Descobrir que sua amiga está sendo traída pode parecer, à primeira vista, uma situação em que apenas uma pessoa está sofrendo. Na prática, o peso emocional recai também sobre quem carrega esse segredo. Entre contar ou não contar, o dilema ético se mistura ao medo da perda da amizade e ao desejo de protegê-la de uma verdade devastadora.

Leia também

“É um conflito profundo, porque envolve ética, lealdade e a saúde emocional, tanto de quem foi traída quando de quem sabe da traição”, explica a sexóloga Alessandra Araújo. “A amiga que descobre se vê entre o impulso de proteger e o medo de ser culpada por destruir uma relação.”

Clique aqui para seguir o canal do Metrópoles Vida&Estilo no WhatsApp

Contar ou não contar: o dilema de quem sabe

De acordo com Alessandra, tanto a decisão de contar, bem como a de se calar, carrega um peso. Nenhuma escolha é leve, e nem está isenta de consequências.

Contar pode parecer a atitude mais ética, baseada na ideia de que toda pessoa tem direito de saber a verdade sobre sua vida e seu relacionamento. Mas a sexóloga alerta: “Mesmo com as melhores intenções, quem revela pode ser vista como a causadora da dor. Não é raro a vítima se voltar contra quem contou, acusando-a de inveja ou intromissão.”

Não contar, por outro lado, também pode corroer. A amiga que guarda o segredo sente-se cúmplice da mentira. “Essa omissão pode gerar ansiedade, sentimento de culpa e medo constante de que tudo venha à tona por outra fonte, o que agravaria ainda mais a situação”, diz Alessandra.

4 imagensFechar modal.1 de 4

O conceito de traição é medido por cada casal

2 de 4

Na teoria, traição é quebrar combinados, independentemente de quais forem

Getty Images3 de 4

Por isso a importância desse combinado não ser automático, subentendido. Ele precisa ser claro para ambas as partes

Getty Images4 de 4

Com os relacionamentos não monogâmicos entrando cada vez mais em pauta, muito se fala sobre como funciona uma relação liberal

Getty Images

Confrontar o traidor é uma saída?

Uma alternativa tentadora para quem descobre a traição é tentar conversar diretamente com o traidor, esperando que ele próprio assuma a responsabilidade e conte tudo. É um caminho possível, mas arriscado.

“O ideal seria que o traidor confessasse por conta própria, poupando a amiga da posição de mensageira. Isso depende de maturidade emocional que, muitas vezes, não existe”, alerta a especialista. “Sem provas concretas, ele pode negar, manipular a narrativa e até virar o jogo, colocando em dúvida a credibilidade de quem descobriu.”

Antes de qualquer confronto, Alessandra recomenda cautela e, se possível, ter evidências claras do que foi descoberto.

O impacto emocional da descoberta

A situação se torna ainda mais delicada pelo turbilhão emocional que invade quem guarda o segredo. Conflito de lealdade, indignação moral, ansiedade e medo se misturam. É um luto antecipado —pela dor que a amiga sentirá, pela possível quebra da amizade e pela impotência diante do que já aconteceu.

Alessandra explica que essa pressão interna molda o comportamento de quem sabe. “Muitas acabam se afastando da amiga por não saber como lidar com a situação. Outras explodem em raivas, e contam de forma impulsiva, sem preparar o terreno emocionalmente.”

Como contar, se essa for a decisão

Se, após refletir profundamente, a escolha for pela revelação, a sexóloga recomenda cuidado na forma. A notícia deve ser dada em particular, com empatia e sem julgamentos.

“O ideal é mostrar que você está ali para apoiar, e não para dizer o que ela deve fazer. Evite frases como ‘você precisa terminar com ele’ ou ‘eu sempre sobre que ele não prestava’. Isso só dificulta o processo de luto da vítima”, orienta.

Revelar com afeto é mais importante do que revelar com urgência. “É sobre entregar uma verdade difícil, mas com mãos seguras para amparar.”

Quando a vítima descobre: o primeiro passo é cuidar de si

Para quem é traído, o momento da descoberta é devastador. Alessandra explica que o primeiro passo é proteger a própria saúde emocional. Isso pode significar se afastar do parceiro, evitar conversas imediatas e se cercar de apoio.

“Ela precisa se permitir sentir raiva, tristeza, humilhação… Tudo o que vier. Negar esses sentimentos só atrasa a cura”, afirma a sexóloga. “E o apoio da amiga pode ser um dos pilares mais importantes nesse momento, desde que venha com respeito, escuta e acolhimento.”

Apoiar sem invadir: o papel da amiga após a revelação

O apoio pode ser uma força vital — ou um veneno — no processo de recuperação. A diferença está na forma com que ele é oferecido.

Apoio positivo é ouvir sem julgar, validar os sentimentos da amiga e lembrá-la de seu valor. Já o apoio tóxico se dá quando há pressão para agir (“você tem que sair dessa agora”), exposição da situação para terceiros ou ataques pessoais ao parceiro.

“Por mais que você esteja com raiva por ela, é ela quem precisa decidir o que fazer. O respeito à autonomia da amiga é parte essencial do cuidado”, reforça Alessandra.

4 imagensFechar modal.1 de 4

Ouvir a opinião de amigos sobre questões amorosas pode ser muito positivo, porém, é importante manter a individualidade

João Bidu/ Reprodução 2 de 4

A amizade é fundamental para a saúde física e mental, oferecendo apoio emocional, combatendo a solidão, melhorando a autoconfiança e promovendo habilidades sociais como empatia e comunicação

Alto Astral/ Reprodução 3 de 4

Pesquisa sugere que a qualidade das amizades é essencial para o bem-estar emocional de pessoas solteiras

Getty Images4 de 4

Uma pesquisa parece ter comprovado a importância de se ter bons amigos, ainda mais se você for uma pessoa solteira

Getty Images

A traição não é culpa da vítima

Reconstruir a confiança depois de uma traição é possível — porém, não obrigatório. “Tudo depende do desejo e da disposição de quem foi traída. E da responsabilidade de quem traiu”, explica a especialista.

No caso de reconciliação, é essencial que o parceiro assuma integralmente a culpa, demonstre arrependimento verdadeiro e aceite as exigências de transparência. Terapia de casal é um caminho necessário.

Segundo Alessandra, o foco principal deve ser a reconexão da pessoa traída com ela mesma. “A traição diz mais sobre o traidor do que sobre a vítima. Curar-se é lembrar-se disso. É reconstruir a autoestima emocional e sexual.”

E quem trai: por que faz isso?

Embora não seja uma justificativa, Alessandra aponta que muitas pessoas traem sem compreender o impacto do próprio comportamento. “Elas se escondem atrás de defesas emocionais como negação ou racionalização. Dizem a si mesmas que não é tão grave ou que a parceira nunca vai saber.”

A sexologia, segundo ela, pode ajudar a entender a traição como sintoma — não como causa. Medo de intimidade, busca por validação, insatisfação sexual não comunicada e inseguranças profundas são alguns dos fatores por trás do comportamento infiel.

“A pessoa que trai precisa assumir responsabilidade total e buscar entender o que levou à traição como resposta emocional. Isso é parte do tratamento, e exige terapia individual intensiva.”

Três pessoas sentadas em banquetas e as duas da ponta estão de mãos dadasSonhos podem indicar que você está sendo vítima de traição

Toda traição escancara algo

No fim, nenhuma traição acontece no vazio. Ela é um espelho de problemas — do casal, do traidor ou do próprio ciclo emocional da vítima. Para quem descobre, para quem conta e para quem foi traída, o caminho nunca é simples. Mas pode ser honesto, cuidadoso e, sobretudo, curativo.

“É sobre sair dessa experiência com mais verdade, e não com mais cicatrizes escondidas”, conclui Alessandra Araújo.

Sair da versão mobile