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    AGU sai em defesa de Hugo Motta em ação sobre funcionária fantasma

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    A Advocacia-Geral da União (AGU) se manifestou a favor do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), em uma ação popular sobre a contratação da fisioterapeuta Gabriela Batista Pagidis, de 30 anos, como funcionária fantasma no gabinete dele. Para o órgão, basta a exoneração da ex-secretária parlamentar, ocorrida em julho, para justificar que o processo seja extinto – ou seja, deixe de existir antes de haver uma decisão.

    Como a coluna mostrou em julho, a Câmara pagou mais de R$ 807,5 mil em salários à Gabriela Pagidis de junho de 2017 a julho de 2025. A reportagem levou o advogado Rafael Severino Gama a ingressar com uma ação popular no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) contra Hugo Motta e a União.

    Os pedidos dele à Justiça incluem reconhecer a ilegalidade da contratação, anular a contratação por ser funcionária fantasma e devolver os valores aos cofres públicos – todos afastados pela AGU. Segundo o órgão, o autor também não apresentou provas de que a nomeação dela causou dano aos cofres públicos.

    “O que caracteriza o interesse processual ou interesse de agir é, em síntese, o ‘binômio necessidade-adequação; necessidade concreta da atividade jurisdicional e adequação de provimento e procedimento desejados’. O prejuízo jurídico, que confere interesse de agir, deve ser de natureza objetiva e prática, e não meramente subjetiva e hipotética. […] Partindo dessas premissas e considerando que a ex-servidora, cujo ato de nomeação se pretende anular, já foi exonerada em 14/7/2025, ou seja, antes do ajuizamento da ação, a presente ação merece ser extinta sem o julgamento do mérito”, afirmou o advogado da União Sergio Guizzo Dri em 6 de agosto.

    6 imagensNa sexta-feira (11/7), Gabriela Pagidis volta à academia e posta nova foto. Em nenhum desses dias ela foi vista na Câmara dos DeputadosGabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo MottaGabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo MottaGabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo MottaGabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo Motta, trabalha no gabinete do deputado desde 2017Fechar modal.1 de 6

    Gabriela Pagidis faz selfie na academia às 11h da última quinta-feira (10/7)

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    Na sexta-feira (11/7), Gabriela Pagidis volta à academia e posta nova foto. Em nenhum desses dias ela foi vista na Câmara dos Deputados

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    Gabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo Motta

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    Gabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo Motta

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    Gabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo Motta, trabalha no gabinete do deputado desde 2017

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    Trabalhar na iniciativa privada enquanto atuava como secretária parlamentar – a coluna comprovou que Gabriela Pagidis era fisioterapeuta em duas clínicas no período – é possível com a devida flexibilização da Casa, e sem violação da moralidade:

    “Observadas as proibições aplicáveis a todos os servidores públicos da União (art. 117 da Lei n. 8.112/1990), o secretário parlamentar pode trabalhar em outras atividades na iniciativa privada, desde que cumpra a regular jornada de trabalho perante a Câmara dos Deputados”, endossou o advogado da Casa Jules Michelet Pereira Queiroz e Silva em 3 de setembro.

    Já a Advocacia-Geral da Câmara, responsável pela defesa do deputado federal, repetiu a linha de raciocínio e os argumentos da AGU. Além disso, negou prejuízo ao erário.

    “Observadas as proibições aplicáveis a todos os servidores públicos da União (art. 117 da Lei n. 8.112/1990), o secretário parlamentar pode trabalhar em outras atividades na iniciativa privada, desde que cumpra a regular jornada de trabalho perante a Câmara dos Deputados”, endossou o advogado da Casa Jules Michelet Pereira Queiroz e Silva em 3 de setembro.

    Na contramão dos réus, o Ministério Público Federal (MPF) viu “eventual dano ao erário” nos 8 anos de lotação de Gabriela Pagidis e defendeu a devolução dos mais de R$ 807,5 mil desembolsados como remunerações à secretária parlamentar caso as investigações comprovem as ilegalidades.

    “Embora o ato tenha sido revogado por meio da exoneração da ex-servidora, produziu efeitos jurídicos durante todo o período que esteve em vigor, devendo ser ressarcido eventual dano ao erário ocorrido na hipótese de comprovação da sua nulidade e lesividade”, escreveu o procurador da República Harold Hoppe em 27 de outubro.

    O MPF se manifestou a favor da continuidade do processo, ajuizado em 18 de julho e atualmente em fase de produção de provas. Além disso, o órgão rebateu os argumentos das defesas de Hugo Motta e da União:

    “No caso em concreto, o ato praticado deve ser declarado nulo desde seu nascedouro, no caso de comprovação do desvio da finalidade pública em prejuízo ao erário, razão pelo (sic) qual está presente o interesse de agir da parte autora”, prosseguiu.

    O processo não apresenta depoimentos formais de Hugo Motta ou de Gabriela Pagidis, mas menciona que a fisioterapeuta compareceu espontaneamente ao MPF com uma procuração.

    A Folha de S.Paulo também revelou a existência de outros funcionários fantasmas no gabinete dele, como Ary Gustavo Soares, caseiro de uma fazenda do deputado em Patos (PB). Além dele, constam a médica Louise Lacerda, filha do ex-vereador de Conceição (PB) Marcílio Lacerda (Republicanos) que cursava faculdade estava nomeada, e a assistente social Monique Agra Magno, que tinha um segundo emprego na prefeitura de João Pessoa.

    Procurados pela coluna, Hugo Motta e AGU não se pronunciaram até a publicação desta reportagem.

    Chefe de gabinete de Hugo Motta tinha poderes “amplos e ilimitados” para movimentar contas e salários

    Em 1º de setembro, Gama acrescentou aos autos as informações reveladas pela coluna de que a chefe de gabinete de Hugo Motta, Ivanadja Velloso Meira Lima, tinha poderes “amplos e ilimitados” para movimentar contas bancárias de 10 assessores e ex-assessores do deputado.

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    Oito procurações obtidas pela coluna permitem, explicitamente, “receber salários” – dois funcionários que assinaram esse documento seguem no gabinete de Hugo Motta. No total, essas pessoas acumularam mais de R$ 4 milhões em remunerações, considerando apenas o período em que estiveram lotadas no gabinete do deputado paraibano.

    Confira as procurações:

    9 imagensProcuração assinada por Adilani da Silva Justino SoaresProcuração assinada por Valdirene Novo dos ReisProcuração assinada por Gabriela de Oliveira Figueiredo Leitão VenâncioProcuração assinada por Kelner Araujo De VasconcelosProcuração assinada por Paulo Vinícius Marques PinheiroFechar modal.1 de 9

    Procuração assinada por Maria Socorro de Oliveira

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    Procuração assinada por Adilani da Silva Justino Soares

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    Procuração assinada por Valdirene Novo dos Reis

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    Procuração assinada por Gabriela de Oliveira Figueiredo Leitão Venâncio

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    Procuração assinada por Kelner Araujo De Vasconcelos

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    Procuração assinada por Paulo Vinícius Marques Pinheiro

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    Procuração assinada por Raimundo Nonato de Araujo

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    Procuração assinada por Ary Gustavo Xavier Guedes Soares

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    Procuração Jane Costa Gorgônio

    Documento obtido pelo Metrópoles

    A defesa de Hugo Motta reiterou os argumentos e disse que o advogado buscava “promoção pessoal” e obter honorários advocatícios ao ingressar com o caso. Gama rebateu que a exoneração de Gabriela Pagidis não o isenta do ressarcimento salarial. Ainda não há data prevista para o julgamento.

    Essa não é a primeira apuração que o MPF abre contra o Hugo Motta com base nos últimos escândalos. A Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) abriu uma investigação preliminar sobre a suspeita de rachadinha, esquema que seria operado por Ivanadja Velloso, no gabinete dele.

    Quem é Gabriela Pagidis, uma das ex-funcionárias fantasmas de Hugo Motta

    Gabriela se formou em fisioterapia na Universidade de Brasília (UnB), campus Ceilândia, em 2019. Antes da demissão, também trabalhava no Instituto Costa Saúde, na Asa Norte, às segundas e quartas-feiras, e no Centro Clínico Bandeirantes, no Núcleo Bandeirante, às terças e quintas à tarde.

    A jovem não foi a única integrante da família Pagidis a integrar o gabinete de Hugo Motta. A coluna mostrou que o deputado empregou quatro parentes dela: a mãe, Athina Batista Pagidis; a irmã, Barbara Pagidis Alexopoulos; a tia Adriana Batista Pagidis França; e o primo Felipe Pagidis França. Levantamento da coluna mostra que o clã obteve mais de R$ 2,8 milhões em salários da Câmara.

    5 imagensBarbara Pagidis Alexopoulos trabalhou em dois momentos no gabinete de Hugo Motta. A primeira fase foi entre julho de 2012 a outubro de 2015. Depois, ela retorna em novembro de 2021 e permanece no gabinete do deputado até dezembro de 2024.Athina Batista Pagidis trabalhou no gabinete de Hugo Motta entre fevereiro de 2011 e 30 de julho de 2019.Felipe Pagidis França trabalho no gabinete de Hugo Motta entre novembro de 2021 e março de 2023Adriana Batista Pagidis trabalhou no gabinete de Hugo Motta entre setembro de 2017 e dezembro de 2022.Fechar modal.1 de 5

    Gabriela Pagidis, funcionária fantasma de Hugo Motta, trabalha no gabinete do deputado desde 2017

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    Barbara Pagidis Alexopoulos trabalhou em dois momentos no gabinete de Hugo Motta. A primeira fase foi entre julho de 2012 a outubro de 2015. Depois, ela retorna em novembro de 2021 e permanece no gabinete do deputado até dezembro de 2024.

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    Athina Batista Pagidis trabalhou no gabinete de Hugo Motta entre fevereiro de 2011 e 30 de julho de 2019.

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    Felipe Pagidis França trabalho no gabinete de Hugo Motta entre novembro de 2021 e março de 2023

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    Adriana Batista Pagidis trabalhou no gabinete de Hugo Motta entre setembro de 2017 e dezembro de 2022.

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    Veja o total de cada salário:

    • Adriana Pagidis: R$ 244.858,89;
    • Athina Pagidis: R$ 919.917,83;
    • Barbara Pagidis: R$ 710.579,65;
    • Felipe Pagidis: R$ 94.702,19.

    Gabinete Hugo Motta Família Pagidis

    Antes de constar como secretária parlamentar de Hugo Motta, Gabriela foi nomeada em 5 de fevereiro de 2014 na mesma função no gabinete do ex-deputado federal Wilson Filho, hoje secretário de Educação da Paraíba e aliado do presidente da Câmara. Se somar ambos os períodos como funcionária fantasma, a remuneração supera R$ 890,5 mil, sem correção da inflação.