O Reino Unido registra um aumento incomum de infecções causadas pelo Trichophyton indotineae, um superfungo resistente aos medicamentos usados no tratamento de micoses comuns.
Antes raro no país, ele agora aparece com frequência crescente em hospitais e consultórios, segundo especialistas britânicos. A infecção não é fatal, mas é considerada difícil de tratar e pode exigir meses de acompanhamento médico.
Novos dados apresentados na conferência europeia ESCAIDE, na Polônia, na última quinta-feira (20/11), mostram que os casos cresceram quase 500% nos últimos anos.
O Reino Unido e a Irlanda passaram de 44 registros até 2022 para 258 até março de 2025. Para autoridades de saúde, o avanço chama atenção pela velocidade e pela capacidade de transmissão no ambiente doméstico.
“Está se tornando um problema realmente grande no Reino Unido. A chegada constante de novos casos aos hospitais mostra que ainda não sabemos o quão endêmico isso pode se tornar”, disse o professor Darius Armstrong-James, do Imperial College London, em entrevista ao portal britânico The Sun.
A infecção provoca lesões vermelhas e pruriginosas, principalmente na virilha, coxas e nádegas. Sem tratamento, pode se espalhar para outras regiões, inclusive o rosto, causando inflamação, dor e risco de cicatrizes.
Segundo o professor, o tratamento mais indicado costuma ser feito com itraconazol, um antifúngico que exige acompanhamento médico devido ao risco de efeitos tóxicos para fígado e coração.
Além disso, o quadro muitas vezes é confundido com outras doenças de pele, o que retarda o início da terapia. “Poderia ser facilmente confundido com eczema ou psoríase se não forem feitos exames”, afirma Armstrong-James.
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O superfungo, identificado pela primeira vez na Índia em 2014, passou por mutações e se tornou resistente aos antifúngicos mais usados. Ele se espalha com facilidade por itens domésticos e contato direto com a pele.
Em algumas famílias britânicas, profissionais observaram transmissões sucessivas entre parentes. “Estamos vendo surtos. Quando uma pessoa é infectada, outras acompanham”, afirma o especialista.
Alerta de autoridades e risco de expansão global
A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) informou que monitora o aumento de casos e orienta médicos a suspeitarem do fungo em pacientes com lesões na região da virilha, principalmente quando os tratamentos de primeira linha falham ou quando há histórico de viagem ao sul da Ásia.
A entidade recomenda que pessoas infectadas evitem contato pele a pele até a completa remissão das lesões e lavem roupas, toalhas e roupas de cama em altas temperaturas.
Embora hoje a maioria dos casos registrados envolva pessoas de ascendência sul-asiática, especialistas afirmam que isso tende a mudar. Em alguns serviços de saúde, a espera por dermatologista ultrapassa 18 semanas, o que prolonga o período em que o paciente continua transmitindo a infecção.
A disseminação global do T. indotineae já alcança mais de 20 países, incluindo o Brasil. O avanço integra um movimento mais amplo de preocupação com doenças fúngicas resistentes. Desde a pandemia de Covid-19, casos graves em hospitais aumentaram, e autoridades também monitoram a expansão de outros fungos, como a Candidozyma auris.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou em 2022 uma lista de patógenos fúngicos prioritários, alertando que o crescimento da resistência aos antifúngicos tem implicações importantes para a saúde humana. Com poucas classes de medicamentos disponíveis e novos tratamentos ainda em desenvolvimento, especialistas consideram essencial ampliar a vigilância para evitar que o superfungo se torne um desafio ainda maior nos próximos anos.
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