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Belém: Lula questiona se teremos catástrofe climática ou inteligência

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Belém: Lula questiona se teremos catástrofe climática ou inteligência

Brasília e Belém – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a segunda sessão temática da Cúpula do Clima nesta sexta-feira (7/11), sobre transição energética, afirmando que os líderes mundiais devem decidir se o século 21 será lembrado como “o século da catástrofe climática” ou como um período de “reconstrução inteligente” em relação às mudanças climáticas.

“Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. E nós, os líderes, devemos decidir se o século 21 será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, discursou Lula.

Esta sexta é o último dia do evento que reúne líderes de todo o mundo para estabelecer a base de negociação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que começa na próxima segunda-feira (10/11) e se estende até 21 de novembro.

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O chefe do Executivo também ponderou que “o Brasil não tem medo de discutir” o tema da transição energética.

“No primeiro semestre de 2025, a energia renovável se tornou a maior fonte individual de geração de eletricidade no mundo, ultrapassando o carvão. Em muitas regiões, as energias solar e eólica já são mais baratas do que a gerada por combustíveis fosseis. O preço das baterias caiu 90%. O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas”, defendeu Lula.

Segundo o presidente, “a Terra não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que vigorou nos últimos 200 anos”.

O petista também citou o conflito entre Rússia e Ucrânia e afirmou que investir em armas em vez de ações de combate à mudança climática é “pavimentar o caminho para o apocalipse climático”.

“O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para redução de emissões de gases de efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão. Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático. Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado”, disse.

Leia a íntegra:

As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima.  

Foram necessárias 28 COPs do clima para nos comprometermos, em Dubai, com uma transição energética justa, ordenada e equitativa.

A Terra não comporta mais o modelo de desenvolvimento baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis que vigorou nos últimos 200 anos.

75% das emissões de gases do efeito estufa têm origem na produção e no consumo de energia.

Não podemos nos omitir ou intimidar diante da magnitude desse dado.

Já sabemos que não é preciso desligar máquinas e motores, nem fechar fábricas ao redor do mundo de um dia para o outro.

A ciência e a tecnologia nos permitem evoluir de forma segura para um modelo centrado nas energias limpas.

Essa transformação já está em curso.

O uso de renováveis triplicou nos últimos dez anos.

No primeiro semestre de 2025, a energia renovável se tornou a maior fonte individual de geração de eletricidade no mundo, ultrapassando o carvão.

Em muitas regiões, as energias solar e eólica já são mais baratas do que a gerada por combustíveis fosseis.

O preço das baterias caiu 90%.

O Brasil não tem medo de discutir a transição energética.

Somos líderes nessa área há décadas.

Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis.

90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpas.

Também somos pioneiros no desenvolvimento de motores flexíveis e o segundo maior produtor mundial de biocombustíveis.

Nossa gasolina tem 30% de etanol em sua composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel.

O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para adoção nos setores mais desafiadores, como a indústria e os transportes.

É lamentável que pressões e ameaças tenham levado a Organização Marítima Internacional a adiar esse passo.

A transição energética representa um novo paradigma de desenvolvimento e uma grande oportunidade para promover transformações estruturais na sociedade e na economia.

Em 2023, o setor foi responsável por 10% do crescimento do PIB global e empregou 35 milhões de pessoas.

É impossível discutir a transição energética sem falar dos minerais críticos, essenciais para a confecção de baterias, painéis solares e sistemas de energia.

Para gerar emprego e renda e gozar de segurança energética, os países em desenvolvimento precisam participar de todas as etapas dessa cadeia global de valor.

Senhoras e senhores,

Apesar dos avanços, 2024 registrou novo recorde de emissões de carbono do setor energético, o maior índice desde 1957.

Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade.

No ano passado, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares para o setor de petróleo e gás.

Desde a adoção do Acordo de Paris a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global diminuiu apenas de 83% para 80%.

O conflito na Ucrânia reverteu anos de esforços para redução de emissões de gases de efeito estufa e levou à reabertura de minas de carvão.

Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático.

Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado.

É fundamental combater todas as formas de pobreza energética.

2 bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar.

660 milhões de pessoas dependem de lamparinas ou de geradores a diesel nas periferias das grandes cidades e nas comunidades rurais da América Latina, da África e da Ásia.

200 milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à luz elétrica.

Sem energia, também não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna.

Sem equacionar a injustiça de dívidas externas impagáveis e sem abandonar condicionalidades que discriminam os países em desenvolvimento, andaremos em círculos.

Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda o acesso a tecnologias e financiamento para os países do Sul Global.

Há espaço para explorar mecanismos inovadores de troca de dívida por financiamento de iniciativas de mitigação climática e transição energética.

Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento.

O Brasil estabelecerá um Fundo dessa natureza para financiar o enfrentamento da mudança do clima e promover justiça climática.

O mundo precisa de um mapa do caminho claro para acabar com essa dependência dos combustíveis fósseis.

É tempo de diversificar nossas matrizes energéticas, ampliar as fontes renováveis e acelerar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis.

Isso requer alguns compromissos centrais:

Em primeiro lugar: implementar o acordo de Dubai de triplicar a energia renovável e de dobrar a eficiência energética até 2030.

Em segundo lugar: colocar a eliminação da pobreza energética no centro do debate e incluir metas de cocção limpa e de acesso à eletricidade nos planos climáticos nacionais.

Em terceiro lugar: aderir ao Compromisso de Belém para quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e acelerar a descarbonização dos setores mais desafiadores.

Os cientistas já cumpriram seu papel.

Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento.

E nós, os líderes, devemos decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente.

Muito obrigado.

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