O Brasil pode zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa (GEE) até 2040, dez anos antes da meta estabelecida pelo Acordo de Paris. A conclusão vem do estudo Brazil Net-Zero by 2040, realizado pelo Instituto Amazônia 4.0 em parceria com várias universidades brasileiras, que propõe dois caminhos realistas para acelerar a neutralidade climática do país.
Com o avanço do aquecimento global, medidas de combate ao fenômeno são cada vez mais urgentes. A nova pesquisa foi divulgada nessa quarta-feira (5/11), na Academia Brasileira de Ciências.
O objetivo dos pesquisadores é propor ações realistas para frear a emissão de gases o mais rápido possível. As propostas vão ao encontro do apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no G20 2024 para antecipar os compromissos climáticos.
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Para apontar os caminhos, foi utilizado o Brazilian Land Use and Energy System Model (BLUES), um modelo de simulação de cenários distintos para transição energética e uso da terra no Brasil. A partir dele, foram criadas duas vias para bater a meta climática em 2040: a AFOLU-2040 – baseada em medidas voltadas para a agricultura, florestas e uso da terra – e a Energy-2040 – centrada em ações para transição energética.
A primeira propõe reduzir com rapidez o desmatamento, zerando os prejuízos florestais até 2030. Outras medidas seriam a ampliação do reflorestamento e restauração, além de estimular a agricultura regenerativa.
“Nesse cenário, a maior parte das remoções vem de soluções baseadas na natureza, como reflorestamento, restauração de ecossistemas e implantação de sistemas agroflorestais, respondendo por mais de 87% do total de remoções de carbono até 2040”, afirmam os pesquisadores em comunicado.
Já a Energy-2040 aposta em uma via diferente: a transição energética brasileira. Ao invés de utilizar mais petróleo, como é atualmente, o Brasil usaria mais biocombustíveis, além de criar novos recursos para capturar e armazenar carbono em larga escala.
Nos moldes atuais, os pesquisadores reconhecem que essa medida teria mais resistência para ser implementada. “A Energy-2040 reduziria a dependência de políticas territoriais e os riscos de retrocesso ambiental, mas traz novas incertezas tecnológicas e financeiras, já que envolve altos custos e tecnologias ainda em fase de consolidação”, ressaltam os cientistas.
Custos e impactos para zerar as emissões
Ambos caminhos são dependentes da vontade de atores políticos brasileiros e de investimentos robustos no setor climático. A implementação da AFOLU-2040 seria mais barata, necessitando de cerca de 1% de investimento a mais em relação à meta atual.
Por outro lado, a Energy-2040 teria um impacto maior nos moldes atuais. Atualmente, os combustíveis fósseis representam 46% da energia primária e passariam para 22% nesse cenário. Além disso, por exigir a instalação de novas tecnologias e mais infraestrutura, a medida necessitaria 20% a mais de investimentos.
Os pesquisadores apontam que, com o esforço necessário de setores público-privados, além da distribuição justa dos custos e benefícios, as ações podem dar certo no futuro.
“Se bem-sucedido, o Brasil poderá se tornar um exemplo para o Sul Global, mostrando que crescimento econômico e ação climática ambiciosa podem caminhar juntos”, destacam os autores.
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