MAIS

    Casa Ainbu Daya: resistência, cultura viva e protagonismo das mulheres Huni Kuin

    Por Diana P. Rodriguez

    Encerramento do projeto que une tradição e inovação marca o início de uma nova fase e abre caminho para novas parcerias.

    Após seis meses de atividades, o projeto Casa Ainbu Daya chega ao fim, mas suas sementes continuam a dar frutos: o espaço pedagógico intercultural das mulheres Huni Kuin segue vivo no Jordão, Acre.

    Fundada para promover autonomia socioeconômica das mulheres, valorizar seus saberes e preservar a cultura do povo Huni Kuin, a Casa contou com apoio do Programa Rouanet Norte e patrocínio do Banco da Amazônia, parceria do Banco do Brasil, Caixa e Correios, sob a realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

    O projeto custeou o aluguel do espaço por seis meses e investiu R$ 96 mil em bolsas de incentivo distribuídas para 44 mestras artesãs por 6 meses. Pintada pelas próprias mulheres com os grafismos Huni Kuin, a Casa foi equipada com computador, projetor, caixa de som e internet para realização das oficinas presenciais e online e para o funcionamento como sede administrativa do Instituto Ainbu Daya.

    “Agora nossas três terras indígenas têm uma casa. Antigamente, não acontecia assim, mas agora nós estamos fazendo o trabalho das mulheres e eu estou muito feliz no meu coração”, compartilhou Txanani, mestra-artesã e vice-conselheira do Instituto.

    Formação e fortalecimento das mestras-artesãs

    O projeto Casa Ainbu Daya promoveu um ciclo de oficinas presenciais e online, com tradução simultânea para o Hãtxa Kuĩ, voltadas ao desenvolvimento das 44 mestras-artesãs Huni Kuin, representantes das aldeias da região, que posteriormente repassaram os conhecimentos adquiridos para suas aprendizes.

    Os temas abordaram Moda, Corte e Costura; Gestão e Empreendedorismo; Finanças Básicas; Cadastro da Carteira de Artesã; Informática Básica e Uso do Celular; Fotografia e Audiovisual. Graças ao acesso à internet em algumas aldeias, parte das participantes pôde acompanhar as atividades online.

    Na oficina de “Moda, Corte e Costura” as participantes trocaram referências sobre moda indígena de outros povos e lugares do mundo em uma primeira aula online. A etapa presencial, prática, contou com apoio de uma costureira local para aprimoramento dos acabamentos das peças artesanais (forros, zíperes, botões, reforço de alças) e também estimulou a criação de peças que combinam a tecelagem ancestral Huni Kuin com outros tecidos, ampliando o catálogo e a autonomia para produção.

    Na oficina de “Gestão e Empreendedorismo”, o foco foi a organização comunitária para comercializar o artesanato produzido pelas mulheres. Em “Finanças Básicas”, as participantes trabalharam organização financeira, fluxo de caixa e planejamento de metas, sempre dentro da realidade das mulheres Huni Kuin.

    A oficina “Informática Básica e Uso do Celular” abordou o uso responsável de celulares e computadores, com um olhar atento à segurança digital: como evitar golpes, os riscos de jogos de aposta e os cuidados com as crianças no ambiente online. Em “Fotografia e Audiovisual” as mulheres aprenderam a usar seus celulares para documentar suas peças, registrar os processos do artesanato e divulgar seus trabalhos, ampliando o alcance e as possibilidades de vendas.

    Além disso, as mulheres iniciaram o “Cadastro da Carteira da Artesã”, em parceria com a Coordenação Estadual do Artesanato do Acre. Primeiro, foi realizada uma oficina online sobre vantagens e procedimentos para obter o documento. Depois, foram geradas 36 novas carteiras e 13 renovações. Esse reconhecimento nacional amplia o alcance do trabalho artístico-manual das artesãs Huni Kuin e garante acesso a benefícios da categoria.

    Um legado de união, construído por elas e para elas

    Com o encerramento do projeto, a Casa segue ativa como ponto de encontro das mulheres Huni Kuin dos três territórios próximos ao município de Jordão (Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, TI Kaxinawá do Baixo Jordão e TI Kaxinawá Seringal Independência) e vem se tornando lugar de pertencimento diante dos desafios de logística e isolamento da região.

    Hoje segue como sede do Instituto Ainbu Daya e como a primeira associação de mulheres do município, com atividades para produção artística, acesso à internet e centro de apoio social, com palestras sobre a Lei Maria da Penha (em parceria com a Secretaria da Mulher) e visitas de equipes de assistência social, abordando temas essenciais para a comunidade. A Casa também ganhou quatro máquinas de costura: uma conquista que só foi possível porque agora as mulheres Huni Kuin dispõem de um local dedicado às suas produções.

    “Eu falo para minha filha, para minha neta: quando eu ficar velha, quem que vai fazer essa organização? Vocês podem fazer, agora a gente já tem uma casa. E agora a gente está precisando de muito recurso, queremos melhorar essa nossa casa e comprar nosso material”, destacou Batani Huni Kuin, vice-presidente do Instituto.

    Para garantir a continuidade, o Instituto Ainbu Daya busca novas parcerias, doações e apoios. Este é um convite para continuar acompanhando o tecer dessa história: uma história que segue em frente, impulsionada pela sabedoria ancestral das mulheres Huni Kuin.

    Acompanhe o Instituto Ainbu Daya

    instagram.com/casaainbudaya

    instagram.com/ainbu.daya

    [email protected]

    (68) 9236-7763 (Rita Huni Kuin – Secretária do Instituto)

    (11) 93217-3163 (Bunke – Presidente do Instituto)

    Colaboração no texto: Diana P. Rodriguez

    Obs:

    ● Pasta de fotos:

    https://drive.google.com/drive/folders/1u5AJt5lloMGMhldOPRX-za3gZSJKK1DL

    ● Colocar as legendas e créditos das fotos:

    Fotos: Izabel Goudart, Romina Lindeman, Mukani Huni Kuin, Ibatsei Huni Kuin, Diana P. Rodriguez, Nara Mattos