O Chile vai às urnas neste domingo (16/11) para o primeiro turno das eleições presidenciais. Pela primeira vez desde o retorno à democracia, em 1990, o voto é obrigatório para todos os cidadãos entre 18 e 65 anos.
A mudança, aprovada recentemente, deve ampliar significativamente a participação popular e alterar o ritmo da disputa mais polarizada desde os protestos de 2019.
As autoridades eleitorais estimam que a obrigatoriedade pode dobrar o comparecimento, o que tornaria ainda provável a realização de um segundo turno, já marcado para 14 de dezembro, caso nenhum dos candidatos alcance a maioria necessária.
Disputa polarizada
O país vota para presidente, para renovar toda a Câmara dos Deputados e metade do Senado. A campanha foi marcada por debates sobre segurança pública, migração irregular e economia.
Segundo a última pesquisa Atlas/Intel, divulgada antes da veda eleitoral, Jeannette Jara (Partido Comunista) lidera com 33,2% das intenções de voto. Em seguida aparecem José Antonio Kast (Partido Republicano) e Johannes Kaiser (Partido Nacional Libertário), empatados com 16,8%.
O atual presidente Gabriel Boric votou logo cedo e destacou que segurança e migração se tornaram temas centrais da eleição, refletindo a mudança no clima social do país.
Criminalidade redesenha o debate político
Reconhecido historicamente por seus baixos índices de violência, o Chile vive aumento expressivo da criminalidade. De acordo com dados oficiais:
- A taxa de homicídios passou de 2,32 por 100 mil habitantes (2015) para 6,0 em 2024;
- Sequestros chegaram ao recorde de 868 casos em 2024;
- Crimes antes raros, como tiroteios em via pública e execuções por encomenda, passaram a ser frequentes.
- A deterioração da segurança fortaleceu candidatos associados ao discurso de “lei e ordem”, especialmente Kast e Kaiser.
Jeannette Jara, favorita nas eleições chilenas
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Comunista líder das pesquisas
Aos 51 anos, Jeannette Jara milita no Partido Comunista desde os 14 e lidera uma aliança ampla de centro-esquerda. No governo Boric, ganhou destaque ao implementar a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas e ao conduzir mudanças no sistema privado de pensões.
Nascida em uma família pobre no norte de Santiago, Jara trabalhou em colheitas na adolescência, formou-se em administração pública e direito e teve trajetória marcada pela militância estudantil.
As faces da direita: Kast e Kaiser
José Antonio Kast, veterano da política chilena, é associado ao conservadorismo radical e à memória da ditadura de Augusto Pinochet. Ele defende expulsões em massa de imigrantes irregulares, maior poder de fogo para a polícia e redução do papel do Estado, além de ser próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Johannes Kaiser, youtuber ultraliberal, ganhou notoriedade por declarações polêmicas — incluindo questionamentos ao voto feminino e propostas de deportação ampla. Ele também defende enviar imigrantes com antecedentes criminais para a megaprisão de El Salvador, administrada por Nayib Bukele.
Correndo por fora, Evelyn Matthei (Chile Vamos), ex-ministra e representante da centro-direita tradicional, tem cerca de 13% das intenções de voto.a.
